E-fuel é o futuro dos combustíveis, mas cada litro ainda custa 4 euros

  • Jorge Girão
  • 16 Novembro 2020

Futuro pode não passar por carros totalmente elétricos. A tecnologia híbrida será a solução, com motores abastecidos de e-fuels. Já estão a ser testados na F1.

A Fórmula 1 esteve reunida no Autódromo Internacional do Algarve para definir o seu futuro, sendo os “e-fuels” centrais para a categoria, uma vez que permitir-lhe-á alcançar rapidamente a neutralidade carbónica e ser relevante para a indústria automóvel.

A disciplina máxima do desporto automóvel conta já com os motores mais eficazes alguma vez construídos, conseguindo um rendimento térmico de mais 50% – em 2013 rondava os 30% – o que lhes permite apresentar credenciais ecológicas elevadas.

No entanto, nos tempos que correm é preciso ir mais além e o próximo passo será criar para 2026 uma unidade de potência híbrida, tal como as atuais ainda que com uma arquitetura diferente, e introduzir já no próximo ano os famosos “e-fuels”.

Os construtores automóveis perceberam já que a massificação dos veículos elétricos não é sustentável, uma vez que para que todo o parque mundial fosse substituído por este tipo de carros, a rede elétrica existente não aguentaria a demanda de energia, exigindo o nascimento de novas centrais termoelétricas uma vez que as energias renováveis não dariam vazão às necessidades.

Para além disso, são diversos os estudos reputados que apontam que a pegada de um carro elétrico é superior à de um híbrido devido a sua massiva necessidade de baterias, que levam à mineração de lítio, o que provoca diversos e profundos impactos no equilíbrio ecológico do planeta.

A massificação dos veículos elétricos exige ainda a construção de toda uma nova rede de abastecimento, o que terá também um choque nefasto no ambiente, quando a urgência é reduzir a pegada ecológica da ação humana.

Face a todas estas dificuldades, os construtores automóveis estão a inclinar-se para o desenvolvimento do “e-fuel”.

Este é um combustível liquefeito composto de água e dióxido de carbono num processo realizado à custa de energias renováveis, livre de enxofre e benzeno. O hidrogénio, produzido através da eletrolise da água, reage com dióxido de carbono captado da atmosfera através de novas tecnologias.

A utilização de energias renováveis na sua produção e todo o processo em si torna este combustível neutro carbonicamente depois de ser queimado no processo de combustão realizado por um motor de um carro, não contribuindo para as emissões de gases de efeito de estufa, tendo ainda um baixíssimo nível poluidor.

Para além disso, esta tecnologia permite que os atuais automóveis continuem a circular e a atual rede de abastecimento – bombas de gasolina, pipelines, etc – pode continuar a ser usada.

É uma situação em que todos ganham – consumidores, construtores automóveis, petrolíferas e ambiente.

São diversas as entidades que estão a trabalhar nesta tecnologia desde petrolíferas até aos construtores automóveis, sendo a Audi uma das líderes.

A marca de Ingolstadt tem já uma fábrica onde transforma “Blue Crude”, o nome que se dá ao produto que depois pode ser refinado em “e-gasolina” ou “e-gasóleo”, em “e-diesel”, sendo capaz de produzir 400 mil litros por ano.

A “e-gasolina” tem ainda a vantagem de permitir uma maior taxa de compressão nos motores, permitindo um maior rendimento, ou seja, maior potência para menos consumo.

É esta tecnologia que os responsáveis da Fórmula 1 pretendem introduzir na categoria já no próximo ano, com a obrigatoriedade do combustível a ter 10% de “e-gasolina”, mas com a previsão de aumentar para os 100% nos anos seguintes.

Esta medida permitirá que os monolugares de Grande Prémio alcancem rapidamente a neutralidade carbónica, ao passo que o campeonato tem como objetivo alcançar esse “Santo Graal” em 2030.

Talvez por isso, e reconhecendo que os elétricos não são o futuro, Herbert Diess, o CEO do Grupo Volkswagen, admitiu que a Fórmula 1 será o palco do desenvolvimento de tecnologias de futuro para o setor automóvel e não a Fórmula E, campeonato de monolugares elétricos onde estão duas marcas do grupo – Audi e Porsche. “Na minha opinião pessoal, deveríamos continuar com as corridas”, disse o alemão numa sessão transmitida pelo Linkedin em Agosto último. “A Fórmula 1 tornar-se-á neutra em CO2, ao usar combustíveis sintéticos. É uma competição muito mais emocionante, divertida, disputada e técnica que a Fórmula E, que dá algumas voltas em centros de cidades em modo de jogo”.

Será, portanto, na Fórmula 1 que será evoluído, testado e confirmado os progressos do “e-fuel” que num futuro não muito distante estará numa bomba de gasolina perto de si.

Para já, o custo de um litro deste combustível tem o custo de 4 euros, mas estão a ser realizados esforços para que se chegue rapidamente a um valor inferior a 1 euro por litro e nada melhor que o mundo da competição automóvel para também acelerar este processo.

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