Pandemia está a passar "fatura" ao setor automóvel. BMW sente o impacto, apesar de as vendas de modelos eletrificados estarem a crescer. Diretor geral da BMW Portugal alerta para travão com o OE.
2020 vai ficar para a história, e não por bons motivos. É o ano da pandemia, com tudo o que de mau este novo coronavírus trouxe tanto em termos de saúde pública como para a economia. Não há setor que tenha escapado ao impacto deste novo vírus. Entre os mais penalizados está, sem dúvida, o automóvel.
A contração sem precedentes da riqueza dos portugueses fez afundar as vendas de automóveis. “No caso da BMW e da Mini, registamos uma quebra de 27% e 33%”, diz Massimo Senatore, em entrevista por escrito ao ECO. E não havendo perspetivas quanto ao que acontecerá daqui em diante. As “incertezas face à evolução desta crise e a respetiva situação do mercado dificultam bastante a previsão” quanto a 2021.
O diretor geral da BMW Portugal considera que a “estratégia de eletrificação” da marca “acabou por ser uma das principais razões para o bom desempenho comparando com o restante mercado”, que recua ainda mais. E a expetativa era de que com a crescente oferta de modelos híbridos e totalmente elétricos, como o iX3, pudesse animar as vendas. Mas há um entrave.
“Os veículos a diesel ainda têm um grande peso nas nossas vendas, representando cerca de 64%” do total, mas os modelos eletrificados estão a conquistar mercado. Contudo, uma proposta de alteração ao Orçamento do Estado para 2021, que veio limitar os incentivos aos híbridos e híbridos plug-in, pode levar a um recuo”.
Senatore critica a medida. “Ficámos surpreendidos com a aprovação desta medida, porque acreditamos que será bastante prejudicial não apenas para o setor automóvel, que ainda está a tentar lidar com os impactos da pandemia, mas também para o ambiente”, alerta.
2020 está a ser um ano negro para a indústria automóvel, por causa da pandemia. Que queda de vendas irá apresentar a BMW no total do ano?
O impacto da pandemia tem sido forte para o setor automóvel e, por consequência, também para a BMW. Neste momento, o mercado nacional enfrenta uma quebra na ordem dos 37%, face ao ano anterior, mas o setor tem vindo a recuperar nos últimos meses. No caso da BMW e da Mini, registamos uma quebra de 27% e 33%, respetivamente, valores, ainda assim, melhores em comparação com o mercado.
As incertezas face à evolução desta crise e a respetiva situação do mercado dificultam bastante a previsão do nosso desempenho para o exercício financeiro de 2020. Nesse sentido, o resultado irá depender da evolução da pandemia até ao final do ano.
Ainda assim, estamos a criar medidas de contenção, de forma a evitarmos um impacto ainda maior nas vendas. Apesar de os sinais não serem animadores no nosso setor, estamos otimistas e continuamos bastante empenhados em assegurar a sustentabilidade do negócio.
Qual o peso do renting no negócio? E qual a distribuição das vendas entre particulares e empresas?
O segmento empresarial representa, na BMW, um valor superior a 60% das vendas de viaturas novas, pelo que a sua importância é inquestionável. Este valor tem-se mantido estável nos últimos anos.
"Estamos a criar medidas de contenção, de forma a evitarmos um impacto ainda maior nas vendas. Apesar de os sinais não serem animadores no nosso setor, estamos otimistas e continuamos bastante empenhados em assegurar a sustentabilidade do negócio.”
Em relação aos produtos operacionais, estes continuam a ser o produto financeiro de referência para o setor empresarial, representando cerca de 35% das nossas vendas.
Apesar do contexto negativo, o que correu bem à BMW este ano?
Durante este ano, continuámos a nossa estratégia de eletrificação da gama, o que acabou por ser uma das principais razões para o nosso bom desempenho comparando com o restante mercado. Nos primeiros 10 meses deste ano, a BMW vendeu em Portugal, 8.331 veículos, dos quais 2.185 são eletrificados, o que representa uma quota de 26% do total das vendas da marca.
Exemplo da nossa aposta na eletrificação foi o lançamento em janeiro do primeiro modelo Mini 100% elétrico, o Mini Electric, e também de 12 veículos híbridos plug-in. Neste momento, em Portugal, temos 14 veículos eletrificados disponíveis na nossa gama. Para a BMW, é importante darmos aos nossos clientes o poder da escolha, ou “the power of choice”. Para tal disponibilizamos uma ampla oferta de motorizações, para que possam optar por aquela que melhor se adeque às suas necessidades, seja movido a gasolina, diesel, elétrico ou híbrido. Todas as motorizações têm como foco a melhoria da eficiência, com uma melhoria significativa nas emissões dos motores tradicionais, através da redução de emissões de Co2, resultados esses que nos colocam numa posição privilegiada comparativamente a outras marcas.
Ao longo deste ano, concretizámos também este conceito, através da apresentação do novo BMW iX3, o primeiro SAV 100% elétrico. O BMW X3 é o primeiro BMW a estar disponível com 4 motorizações diferentes: gasolina, gasóleo, elétrico e híbrido plug-in.
Apesar do impacto negativo desta pandemia, acreditamos que conseguimos cumprir com os nossos objetivos de eletrificação, que passam pela construção da Mobilidade do Futuro. Até 2023, iremos disponibilizar mais 25 veículos eletrificados, sendo que metade serão 100% elétricos.
Conseguimos também acelerar o nosso processo de digitalização com o lançamento das plataformas BMW Digital Showroom e Mini Digital Showroom, que embora já estivessem planeadas para este ano, os seus lançamentos foram antecipados para fazer face a esta crise. Contamos também com uma ampla rede de concessionários muito focada no bem-estar dos nossos clientes. Durante esta pandemia, apostámos significativamente na digitalização do nosso negócio, com possibilidade de vendas e marcações de serviço online, de forma a acompanhar ainda mais de perto os nossos clientes, que são o nosso principal foco de atenção.
Até 2023, iremos disponibilizar mais 25 veículos eletrificados, sendo que metade serão 100% elétricos.
Quais os modelos da BMW preferidos dos portugueses?
O BMW Série 1 é o modelo preferido dos portugueses, representando cerca de 30% do total de vendas da BMW em Portugal. O aumento de vendas do BMW Série 1 foi também um dos motivos para o desempenho favorável da BMW em 2020.
O BMW Série 3, que representa 19% das vendas totais da BMW em Portugal, e o BMW Série 2 Gran Coupé, com 10% do total das vendas estão também no topo de preferências dos portugueses, seguidos de perto pelo BMW X1, com 9% das vendas. Os modelos SUV também têm tido um grande sucesso nas vendas, onde podemos salientar o BMW X3 e X5, estão a atingir resultados incríveis no mercado, representando mais de 7% do total de vendas.
Qual o peso do diesel nas vendas da BMW? Irá encolher?
Os veículos diesel ainda têm um grande peso nas nossas vendas, representando cerca de 64% das vendas. Temos assistido a um decréscimo do diesel em detrimento das motorizações híbridas e elétricas. No entanto, não esperamos grandes alterações até ao final do ano de 2020, embora acreditemos que as vendas dos PHEV irão tendencialmente aumentar no futuro, em detrimento das motorizações diesel. Acreditamos que esta tendência se irá manter nos próximos tempos, fruto dos incentivos aos veículos eletrificados por parte do governo.
A marca conta com cada vez mais ofertas híbridas. Está a crescer a adesão a estas motorizações? Por quem: particulares ou empresas?
Temos vindo a assistir a uma maior adesão às motorizações híbridas por parte dos nossos clientes, principalmente pelas empresas, devido aos incentivos fiscais. Em Portugal, a quota de mercado de veículos eletrificados tem vindo a aumentar significativamente, graças ao chamado “incentivo verde”, que se traduz em diversas vantagens financeiras para as empresas que investem em frotas mais ecológicas. Temos um mercado maioritariamente empresarial que gradualmente começa a ter uma visão mais sustentável do papel que as frotas devem desempenhar nas suas organizações, para além das vantagens fiscais.
Mas nas propostas de alteração ao Orçamento para 2021, o PAN conseguiu aprovar uma que limita os benefícios fiscais aos híbridos e híbridos plug-in? Que impacto vai ter esta medida?
Esta medida é um recuo na estratégia de redução de emissões de CO2 a nível global, uma vez que a eletrificação da mobilidade é fundamental para atingir as metas impostas por Bruxelas. O mercado de veículos elétricos/eletrificados está a crescer em Portugal, apesar de o mercado global estar em queda e uma medida destas só vai agravar a crise que o setor atravessa.
Que peso têm os modelos eletrificados nas vendas da BMW?
Os veículos elétricos/eletrificados representam cerca de 30% nas vendas BMW e Mini em Portugal, e tínhamos previsto crescer para perto de 40% em 2021. No entanto, com a aprovação desta medida, acreditamos que iremos sofrer um impacto significativo e que terá consequências para os nossos resultados e para o objetivo comum de redução de emissões de CO2.
"O mercado de veículos elétricos/eletrificados está a crescer em Portugal, apesar de o mercado global estar em queda e uma medida destas [de limitação dos apoios aprovada no OE 2021] só vai agravar a crise que o setor atravessa.”
Mas têm razão os que afirmam que os híbridos e híbridos plug-in são “elétricos de fachada”?
Os híbridos e os híbridos plug-in não são veículos elétricos de fachada. Os veículos híbridos plug-in têm um nível de emissões bastante inferior quando comparadas com motorizações tradicionais, este tipo de veículos são verdadeiramente mais ecológicos. São veículos que, ao serem conduzidos no modo elétrico dentro das cidades em curtas distâncias, funcionam com zero emissões e com uma gestão otimizada, que se traduz numa redução significativa de consumos. Assim, num país onde este tipo de motorizações têm tido um forte crescimento, ficámos surpreendidos com a aprovação desta medida, porque acreditamos que será bastante prejudicial não apenas para o setor automóvel, que ainda está a tentar lidar com os impactos da pandemia, mas também para o ambiente.
A BMW tem agora mais modelos 100% elétricos, caso do iX3. Quais as expectativas para este SUV?
O BMW iX3 destaca-se por ser o primeiro SAV totalmente elétrico, que oferece uma autonomia de 460 km e um consumo energético combinado inferior a 20 KWh/100 km. Este modelo dispõe de um motor elétrico de 286 cv, com capacidade de carregamento rápido, o que permite, em 10 minutos, receber uma carga correspondente a 100 km de autonomia. De salientar que, em apenas 34 minutos de carregamento é possível atingir 80% da carga total do veículo. O novo BMW iX3 dispõe ainda de um sistema adaptativo de recuperação de energia que permite maximizar a eficiência do consumo de energia.
Com o lançamento deste importante modelo, queremos também desmistificar os complexos que ainda existem por parte dos clientes sobre os veículos elétricos, relacionados maioritariamente com a autonomia. Temos ótimas expectativas em relação a este modelo, e acreditamos que o seu lançamento será um sucesso junto dos nossos clientes.
Apesar do travão aos híbridos, o Estado mantém o apoio à compra de carros elétricos em 2021. “Cheque” deveria ser maior?
As várias medidas implementadas pelos governos europeus contribuíram para que haja cada vez mais veículos ecológicos nas estradas, no entanto, acreditamos que é necessário promover mais incentivos para aumentar a utilização do veículo elétrico, tais como assegurar uma boa rede de carregamento, dar vantagens ao nível das portagens nas autoestradas, estacionamento, etc.
Em Portugal, a quota de mercado de veículos eletrificados tem vindo a aumentar, principalmente nas empresas, devido às diversas vantagens financeiras que estas usufruem. Se fossem disponibilizados mais apoios destinados aos clientes particulares, não temos dúvidas que assistiríamos a um aumento da quota de veículos eletrificados a nível global.
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Híbridos são 30% das vendas da BMW. Travão aos benefícios fiscais “vai agravar a crise no setor”
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