Contas falsas obrigam CEO do Wells Fargo a abdicar de 35 milhões e do salário
Enquanto o banco norte-americano investiga a responsabilidade de John Stumpf numa alegada fraude com contas falsas, o CEO está a ser sujeito a vários castigos.
A pressão sobre o CEO do Wells Fargo continua a aumentar agora que o conselho de administração do banco norte-americano anunciou que John Stumpf vai ser obrigado a devolver mais de 35 milhões de euros (41 milhões de dólares) em ações e vai ainda ter de abdicar do seu salário enquanto decorre uma investigação às más práticas no banco, conta esta quarta-feira o Financial Times.
A decisão do banco de recuperar os 35 milhões de dólares em ações, que tinham sido entregues a Stumpf como prémio e que este só poderia vender mais tarde, foi anunciada no final do dia de terça-feira após uma reunião de emergência do conselho de administração. Tal como o CEO, também a dirigente da divisão de retalho do Wells Fargo nos últimos nove anos, Carrie Tolstedt, terá de entregar quase 17 milhões de euros em ações e vai sair da empresa três meses mais cedo do que o previsto, sem indemnização. Nem Stumpf nem Tolstedt poderão receber bónus em 2016.
John Stumpf tem estado sob escrutínio desde que o Wells Fargo foi multado em 165 milhões de euros (185 milhões de dólares) pelo regulador norte-americano por ter permitido que alguns empregados abrissem contas falsas para clientes que não as tinham pedido nem autorizado. O número de contas falsas abertas apenas para esses funcionários atingirem os seus objetivos de vendas poderá ascender aos dois milhões.
O escândalo valeu ao Wells Fargo não só uma multa de valor excecionalmente alto como também críticas vindas de reguladores, deputados e senadores, com alguns a pedirem um inquérito a possíveis violações das leis do trabalho. Sob grande pressão política, o banco tem tentado reconstruir a sua reputação sem a saída do atual CEO. John Stumpf lidera o banco enquanto diretor executivo desde 2007.
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O banco conduz agora uma investigação interna para tentar perceber o papel de John Stumpf no escândalo das contas falsas, deixando aberta a porta para futuras sanções mais pesadas sobre o CEO. “Estamos profundamente preocupados com estas questões, e comprometemo-nos a assegurar que todos os aspetos dos negócios da empresa são realizados com integridade, transparência e supervisão”, disse aos jornalistas o diretor independente Stephen Sanger.
Stumpf obrigado a sair da Fed
John Stumpf foi ouvido na semana passada no Capitólio por um comité do senado norte-americano para as práticas bancárias, onde foi confrontado com uma exigência de demissão por parte da senadora democrata Elizabeth Warren, e é esperado novamente em Washington esta quinta-feira para ser interrogado por um comité de serviços financeiros.
Na semana passada, as declarações de Warren fizeram manchete nos Estados Unidos pela sua dureza, como se lê no Washington Post. Warren pressionou Stumpf acerca do que ele ganhou pessoalmente com a fraude das contas falsas, afirmando: “Enquanto este golpe acontecia, você detinha uma média de 6,75 milhões de ações do Wells Fargo. O preço das ações nesse período subiu cerca de 30 dólares, o que representa mais de 200 milhões de dólares em lucros só para si pessoalmente“.
Após interromper Stumpf várias vezes e de o ter criticado por não ter demitido qualquer executivo dos quadros superiores na sequência do escândalo, Warren concluiu: “Devia demitir-se, devia devolver o dinheiro com que ficou quando enquanto esta fraude decorria, e devia ser investigado num processo criminal pelo Departamento de Justiça”.
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A grande pressão sobre o CEO obrigou-o também a demitir-se do seu cargo enquanto conselheiro da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), onde pertencia a um grupo de 12 executivos de bancos que reuniam com a Fed quatro vezes por ano para discutir assuntos económicos. “John tomou uma decisão pessoal de se demitir”, lia-se num comunicado do Wells Fargo. “A prioridade dele é liderar o Wells Fargo”.
Editado por Paulo Moutinho.
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