Ramiro Sequeira duplica salário com subida a CEO da TAP

Três membros do conselho de administração viram os salários revistos em alta nos últimos meses. Enquanto desenhava plano de reestruturação com despedimentos, o Governo deu o aval aos novos ordenados.

Com a passagem a CEO interino da TAP, o salário de Ramiro Sequeira passou para 35 mil euros brutos por mês. O montante é quase o dobro do que o gestor ganhava no cargo anterior de chief operating officer (COO), mas fica abaixo da remuneração do antecessor Antonoaldo Neves. O aumento foi decidido em outubro pela Comissão de Vencimentos da TAP, onde o Estado não está representado, começando a ser pago agora. No entanto, o ECO sabe que o Governo teve conhecimento do aval às alterações.

Ramiro Sequeira recebia, até recentemente, um total de 17 mil euros brutos por mês. Destes, 12 mil dizem respeito a rendimento fixo, a que acresciam 70 mil por ano em complementos salariais (o que dividido por 14 vezes, dá os tais cinco mil euros por mês).

O salário passa agora para 35 mil euros brutos, com efeitos retroativos a 17 de setembro (ou seja, a data à qual teve efeito a nomeação como CEO interino). Fazendo as contas, o total anual sobe de 238 mil euros para 490 mil euros brutos. Estas informações estavam presentes em documentos internos a que o ECO teve acesso e que não referiam se acresce ainda rendimento variável a este montante.

O CEO substituiu Antonoaldo Neves (que saiu com o acionista brasileiro David Neeleman quando o Estado quis reforçar a posição na companhia aérea), que ganhava cerca de 45 mil euros brutos por mês de rendimentos fixos, a que acrescem 7 mil euros para casa e outros 7 mil para a educação de filhos. A atualização do salário de Ramiro Sequeiro foi aprovada pela comissão de Vencimentos.

Apesar de o Governo não estar representado na comissão, o ECO sabe que foi o próprio Executivo a avançar com este salário quando propôs que Ramiro Sequeira acumulasse as funções de CEO interino com as que já tinha de COO.

Quando for escolhido o novo CEO, Sequeira deverá retomar as anteriores funções, mas poderá manter-se como vogal do Conselho de Administração da TAP, pelo que o ajustamento do salário ainda terá de ser negociado, apurou o ECO. Questionados, nem a TAP nem o Ministério das Infraestruturas e da Habitação quiseram fazer comentários.

Miguel Frasquilho e Alexandra Vieira Reis também são atualizados

O CEO interino não foi o único a ver o salário revisto face às novas funções. Miguel Frasquilho, presidente do conselho de administração da TAP SA e da TAP SGPS, passou a ganhar 13,5 mil euros brutos por mês (14 vezes ao ano) face aos anteriores 12 mil euros. Neste caso, a revisão estará relacionada com novas funções assumidas na Portugália e na TAP SGPS, devido à saída de Humberto Pedrosa.

O apoio público à TAP, devido às dificuldades financeiras geradas pelo impacto da pandemia na aviação, levou o Estado a reforçar a posição acionista, ficando com a posição de David Neeleman. O único acionista privado (além dos 5% do capital que estão nas mãos dos trabalhadores) passou a ser Humberto Pedrosa, que é também dono da Barraqueiro. Por uma questão de incompatibilidades, tanto Humberto Pedrosa como o filho David Pedrosa abandonaram o conselho de administração da TAP SGPS, onde eram presidente e administrador, respetivamente.

Com estas saídas, entraram José Silva Rodrigues (não remunerado) e Alexandra Vieira Reis, que já era diretora da TAP e ganhava 14 mil euros mensais (12 mil euros fixos a que acresce um complemento salarial de dois mil euros). A entrada na comissão executiva valeu-lhe uma atualização salarial para os 25 mil euros por mês.

Tal como todos os trabalhadores da TAP, estes gestores também serão alvo de um corte salarial no âmbito do plano de reestruturação, que deverá ser na ordem dos 30%.

Em sentido contrário aos gestores agora aumentados, a administradora não executiva Esmeralda Dourado passou a não receber remuneração.

A revisão foi feita ainda antes de o Governo ter enviado a Bruxelas a proposta de plano de reestruturação da TAP, que é condição para o apoio público à companhia aérea. Na apresentação pública das linhas gerais do plano e no Parlamento para falar sobre o assunto, o ministro das Infraestruturas e da Habitação Pedro Nuno Santos defendeu que há salários demasiado elevados na TAP e que é preciso reduzir os encargos.

Questionado sobre regalias dos administradores, acrescentou: “Mordomias cortamos já e com prazer. Estamos a tentar identificá-las e se tiver aí algumas que não estejamos a considerar, diga-nos que cortamos já”.

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