De -40 a 50 dólares. Foi um ano louco para o petróleo no meio da pandemia
O vírus agravou os desafios do mercado. A queda na procura, a acumulação de stocks e o conflito entre produtores fez afundar preços, antes de uma retoma impulsionada pela perspetiva de vacinas.
O ano que agora termina foi atribulado em muitos aspetos e o mercado petrolífero não escapou a esta realidade. A pandemia de Covid-19 trouxe desafios adicionais a um setor que já estava sob a pressão da sobreprodução e da transição energética. Neste cenário, os preços andaram numa montanha russa que passou mesmo pelos históricos -40 dólares por barril.
O início de 2020 foi marcado por um contexto de elevada oferta por parte das petrolíferas, contrastante já com uma expetativa de menor procura mundial. O excessivo excedente de petróleo tem levado os maiores produtores do mundo a adotar, há já quatro anos, uma estratégia conjunta para controlar os níveis de produção e, consequentemente, o valor da matéria-prima. Foi ainda em janeiro que o preço do brent (a referência europeia) alcançou o máximo do ano, acima dos 68 dólares por barril, enquanto o crude West Texas Intermediate (WTI) negociava na casa dos 63 dólares.
Com a pandemia, tudo mudou. O confinamento generalizado de populações por todo o mundo originou quebras abruptas no consumo de derivados de petróleo. As deslocações para fora de casa reduziram-se drasticamente e, um pouco por todo o mundo, o transporte aéreo parou. A procura foi sendo cada vez menor.
O acordo que tinha sido instituído entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e parceiros como a Rússia entrava também em crise, mediante a incerteza trazida pela crise de saúde pública que se ia gradualmente instalando. Os diferentes países não só não chegaram a acordo sobre como responder a esta crise como lançaram mesmo uma guerra de preços, enquanto os stocks de petróleo acumulavam em armazéns e refinarias, sem perspetiva de serem escoados.
Em reação, o crude WTI perdeu todo o valor e — com a tempestade perfeita a ser gerada pela chegada ao fim de contratos que obrigavam à entrega de barris — entrou mesmo em terreno negativo pela primeira vez na história, tocando no mínimo histórico de -40,03 dólares. Já o brent de referência europeia alcançou, por sua vez, o valor mais baixo de 19,33 dólares. O evento nunca visto lançou um pânico temporário nos mercados.
Matéria-prima toca valores negativos pela primeira vez na história
Fonte: Reuters
Com o desconfinamento gradual, o consumo de petróleo começou a recuperar. A progressiva retoma da economia — impulsionada pelos estímulos monetários da Reserva Federal norte-americana e do Banco Central Europeu (BCE) e orçamentais dos vários países — ajudou a normalizar o mercado. Tanto o brent como o crude WTI estão a negociar perto de 50 dólares por barril, regressando lentamente aos valores de mercado em vigor antes da pandemia.
Fazendo as contas à totalidade do ano, após a montanha russa nos preços, o brent desvalorizou 23% para 51 dólares por barril, enquanto o crude WTI caiu 21% para 48 dólares por barril. E agora? “Melhorias no outlook económico deverão claramente ajudar a gerar uma pressão crescente nos preços do petróleo, à medida que a procura normalize“, antecipam os analistas do JP Morgan, no outlook para 2021.
A recuperação cíclica do mercado petrolífero está dependente do desenvolvimento da vacina eficaz contra o coronavírus, bem como da capacidade detida pela economia global para recuperar da recessão. Isto enquanto o mercado se reorganiza face às políticas energéticas mais verdes.
“Mas os obstáculos continuam à medida que o mundo transita da dependência dos combustíveis fósseis em direção às renováveis“, alerta o JP Morgan. O consenso entre os analistas, compiladas pela Reuters, indicam que o preço do brent poderá descer ainda mais até aos 49,35 dólares em 2021, enquanto o crude WTi poderá recuar até 46,40 dólares.
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