Galp com novo CEO ligado ao hidrogénio no dia em que revela ambição no lítio

Andy Brown esteve 35 anos na Shell e agora será o comandante que a Galp precisa para enfrentar a transição energética, setor a que terá chegado tarde demais.

Com o enorme desafio da transição energética pela frente, a portuguesa Galp contratou um gestor com três décadas e meia de experiência na petrolífera Shell, petrolífera que em 2019 deu o salto dos combustíveis fósseis para a nova era das renováveis.

Chama-se Andy Brown e em breve porá fim a 14 anos de Carlos Gomes da Silva na administração da Galp, que agora renuncia ao cargo. Sai o homem que durante mais de uma década (a década de ouro da indústria petrolífera) desempenhou as mais diversas funções enquanto administrador executivo, nomeadamente nas áreas de distribuição, trading, comercialização e marketing de produtos petrolíferos, gás natural e eletricidade. E entra, a 19 de fevereiro, o consultor especializado em hidrogénio e novas energias, mas ainda assim com um enorme background do setor petrolífero.

Diz a Galp, num comunicado enviado ao mercado, que “Andy Brown é um gestor de topo com mais de 35 anos de experiência no setor da energia, reconhecido pelo seu perfil de liderança dinâmico, foco na performance, segurança, bem-estar e desenvolvimento de pessoas”.

Ao longo da sua carreira ocupou várias funções de gestão na petrolífera Royal Dutch Shell, tendo sido membro da Comissão Executiva desde 2012, com funções de diretor de Internacional Upstream e, desde 2016, como diretor de Upstream. Após o seu longo percurso na Shell, de onde saiu em setembro de 2019, Andy Brown assumiu depois funções de vice-presidente na energética SBM Offshore, foi consultor sénior na McKinsey e na JMJ Consulting. Mais recentemente, em março de 2020, integrou também a equipa da ZeroAvia como consultor, uma startup ligada ao hidrogénio verde e às células de combustível para aviação.

Na sua página de Linkedin é assim que Andy Brown se apresenta: “Depois de uma carreira executiva internacional significativa, construí um amplo portfólio internacional de funções de consultoria na área das novas energias. Com base na experiência comprovada como diretor de grandes negócios internacionais complexos, supervisionei desafios estratégicos, comerciais, de mudança, de projeto e operacionais à escala global. Trabalhei com muitas partes interessadas para alinhar interesses variados, enfrentar desafios difíceis e chegar a um amplo consenso que funcione para todos. Familiarizado com a governance corporativa de classe mundial, bom a identificar e nutrir talentos, a permitir que pessoas talentosas se realizem e a desafiar as pessoas a darem o seu melhor”.

Brown entrou na Shell em 1984, logo depois de se formar em Ciências da Engenharia na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Entre 1984 e 2000 trabalhou na Nova Zelândia, Holanda, Brunei, Itália e Omã para a petrolífera, em funções de engenharia e gestão de projetos. Em 2001 tornou-se assistente particular do presidente da Shell e de 2002 a 2012 foi responsável pela empresa no Qatar. Foi nomeado vice-presidente executivo de operações no Qatar em 2009 e diretor internacional de upstream de 2012 a 2015, sendo responsável por todos os negócios globais de gás upstream fora da América.

Quando Andy Brown saiu da Shell, o presidente-executivo da petrolífera Ben van Beurden, disse: “Estou grato ao Andy pela sua forte liderança no negócio de upstream, especialmente por ter melhorado o desempenho dos negócios durante os últimos anos em que assistimos a uma queda nos preços do petróleo”.

“Dado o seu foco na disciplina e na eficiência, otimização de portfólio, segurança e desenvolvimento de talentos, Andy Brown deixa o nosso negócio de upstream apto para o futuro.”

À frente da Galp, o gestor terá agora o duplo desafio de manter rentável e apetecível para os investidores internacionais o negócio de Oil & Gas, com os projetos que a petrolífera tem ainda a decorrer no Brasil e em Moçambique, e que não quer correr o risco de ver transformados em stranded assets (ativos irrecuperáveis, em português), ao mesmo tempo que se assume como o comandante que a Galp precisa neste momento para enfrentar a transição energética, onde já foi “acusada” de ter chegado tarde demais.

A mais recente novidade é que a Galp vai gastar cerca de 5,3 milhões de euros para comprar 10% da mina do Barroso, da Savannah Resources, e no futuro vai ficar com metade do lítio ali extraído: cerca de 100 mil toneladas por ano. Como tinha já avançado o ECO/Capital Verde, no que diz respeito ao “estudo da cadeia de valor das baterias” de lítio, a Galp estava precisamente a olhar para o início dessa mesma cadeia de valor e à procura de um parceiro que lhe fornecesse a matéria-prima para refinar.

No que diz respeito à restante cadeia de valor, a Galp poderá ainda vir a refinar este lítio em Matosinhos e depois fornecê-lo a outras empresas europeias, como a sueca Northvolt, com quem já chegou a reunir em Portugal.

A petrolífera não esconde a vontade de dar o salto do Oil & Gas e transformar-se numa empresa de energia global — assumindo-se já como o principal operador solar na Península Ibérica, com uma carteira de 2,9 GW (que estará 100% operacional em 2024), depois de concluída recentemente a transação de 325 milhões com espanhola ACS. Dos 724 milhões investidos pela Galp até setembro, quase metade (46%) disseram respeito à unidade de Renováveis & Novos Negócios, sobretudo ao portfólio de energia solar fotovoltaica adquirido em Espanha.

Os resultados dos primeiros nove meses de 2020 da Galp dão conta que a capacidade instalada para a geração de renováveis da empresa passou de 12 MW em 2019 para 926 MW até setembro, com a energia renovável produzida a passar de 20,1 GWh no ano passado para 157,4 GWh nos primeiros nove meses de 2020.

A Galp está também, com a EDP, a REN, a Martifer, a dinamarquesa Vestas, no mega-consórcio pan-europeu formado por empresas nacionais e internacionais, com vista à criação de uma central de produção de hidrogénio verde em Sines. Numa primeira fase, o consórcio prevê a instalação de um projeto-piloto de 10MW de eletrólise que, ao longo da década, poderá evoluir até 1GW de capacidade de eletrólise, visando a prazo a instalação de cerca de 1,5GW de capacidade de geração de energia elétrica renovável para alimentação dos eletrolisadores. O investimento associado ronda os 1,5 mil milhões de euros.

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