Costa vê “três anos perdidos” na economia por causa da pandemia
A pandemia representa "três anos perdidos" para Portugal, mas as empresas têm-se mostrado resilientes, disse António Costa, numa entrevista que marca o início do novo confinamento.
O primeiro-ministro estima que a pandemia represente para Portugal “três anos perdidos” ao nível económico, mas ressalva que “as empresas portuguesas têm mostrado maior resiliência” do que o que era esperado no início da crise sanitária. Numa entrevista à TVI, António Costa avançou ainda que a fatura com as medidas de apoio às famílias e à economia vai em 22,9 mil milhões de euros, “mais do que vamos receber da bazuca europeia”.
As declarações do chefe do Governo surgem a poucas horas de começar um novo confinamento generalizado no país, devido ao aumento acentuado dos novos casos, internamentos e mortes provocados pela Covid-19. O dever de recolhimento domiciliário e o encerramento de diversas atividades entra em vigor à meia-noite de sexta-feira e António Costa não escondeu que terá um custo “enorme” para Portugal e para os portugueses.
“Temos mesmo de fechar. Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para evitar chegar a este ponto”, disse o primeiro-ministro. Explicou que o alívio das medidas no Natal visou ir ao encontro de um equilíbrio entre “responsabilidade individual com solidariedade coletiva”, mas não assumiu a responsabilidade total do agravamento da situação pandémica no país. Mesmo assim, acerca disso, disse: “O facto de não termos tido medidas mais restritivas fez com que as pessoas tivessem comportamentos menos restritivos.”
"O facto de não termos tido medidas mais restritivas fez com que as pessoas tivessem comportamentos menos restritivos.”
“País não era rico quando chegou a Covid”
Os recursos de Portugal não chegam “para o que cada um sente que é a necessidade”, mas “é suficiente para amparar o que é esta crise”. António Costa disse isto para lembrar os portugueses de que “o país não era rico quando chegou a Covid e não enriqueceu durante a Covid”, mas, ainda assim, medidas tomadas no passado permitiram ter margem para medidas que são tomadas no presente.
“Tínhamos excedente orçamental, tínhamos recuperado recursos da Segurança Social, e a União Europeia reagiu prontamente. Não obstante termos aumentado o défice e a dívida [em 2020], ontem [quarta-feira] conseguimos fazer uma coisa histórica: emitir dívida a 10 anos com taxa negativa. É fruto da solidariedade europeia e da gestão orçamental. Hoje, os mercados olham para nós de forma muito diferente da crise anterior”, afirmou o primeiro-ministro.
Enquanto líder do Governo do país que assumiu este ano a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, António Costa assumiu o compromisso de acelerar o passo e pôr em marcha o fundo de recuperação proposto no ano passado pela Comissão Europeia, no valor de 750 mil milhões de euros. Como tal, o Governo quer pôr “neste semestre a famosa bazuca a disparar”, com o dinheiro “a chegar efetivamente aos Estados-membros”.
Políticos podem ser vacinados ainda na primeira fase, mas não é Costa quem decide
O novo confinamento começa num momento em que já chegaram ao mercado as primeiras vacinas contra a Covid-19. Sobre o plano de vacinação português, António Costa disse que está a “decorrer com grande normalidade” e disse que a inoculação dos profissionais prioritários do Serviço Nacional de Saúde (SNS) estará concluída já na semana que vem.
“Temos vindo todas as semanas a distribuir as [vacinas] que temos recebido e mantemos 50% reservadas para a segunda toma. Para a semana, vamos dar as primeiras doses, mas também segundas doses da primeira semana [do plano de vacinação]”, explicou o primeiro-ministro na entrevista à TVI24.
Questionado se os responsáveis políticos portugueses podem vir a ser vacinados antes da população em geral, o primeiro-ministro não afastou essa possibilidade, mas explicou que não é matéria de decisão do Governo: “Provavelmente, quando chegarmos ao grupo dos serviços essenciais dentro da primeira fase, essa questão se colocará. Mas, nessa altura, a comissão [técnica] definirá o que são esses serviços essenciais”, indicou.
Acerca disto, e ainda antes, António Costa já tinha garantido que não tomaria decisões políticas quanto à vacinação prioritária de determinados grupos de cidadãos: “A última coisa que se pode aceitar é que seja o Governo, com critérios políticos, a definir que seja esta ou aquela prioridade”, rematou.
"A última coisa que se pode aceitar é que seja o Governo, com critérios políticos, a definir que seja esta ou aquela prioridade [na vacinação contra a Covid-19].”
Requisição civil aos privados é possível. Mas, primeiro, a negociação
Por fim, o primeiro-ministro foi também questionado acerca do sistema de saúde, nomeadamente a capacidade do SNS para prestar cuidados aos portugueses. António Costa revelou que, ainda esta quinta-feira, o Ministério da Saúde reuniu com os três maiores grupos de saúde privados da região de Lisboa: “Houve um grupo, a CUF, que disponibilizou de imediato 20 camas. Os outros grupos [ainda] não tiveram condições, infelizmente, para disponibilizar mais camas.”
Acima de tudo, o primeiro-ministro apelou a que não se promovam “debates artificiais”. “Não vale a pena estar neste jogo, temos de equilibrar. Não há aqui bloqueios ideológicos, nem má vontade de uns, nem má vontade de outros”, assegurou. Por isso, a prioridade é a negociação.
E se não funcionar e não houver acordo? Questionado se o Estado pode avançar para a requisição civil de profissionais de saúde do privado, António Costa anuiu: “Nos termos da lei, sim. Mas devemos ir ao limite do que é possível sem imposição e por negociação. E não deixar de impor se a negociação não for possível.” A entrevista foi conduzida pelos jornalistas Pedro Mourinho e Anselmo Crespo.
(Notícia atualizada pela última vez as 22h16)
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