ClubHouse: do social media para o social branding
Estar no ClubHouse é estar no frenesim do Web Summit ou da ONU, a saltar de sala em sala para a que mais nos interessa. Mas mais confortáveis: de pijama, despenteados, sem deslocações, sem pressão.
Há milhares de vozes em discussões intimistas, e nunca uma rede social foi tão escrutinada na fase inicial: o ClubHouse é uma audio only social app.
Entre a necessidade de conexão, mais além das distantes mensagens de texto, e a exaustão das invasivas videoconferências, o áudio é o meio-termo ideal. A fadiga ocular é reduzida, a interatividade é aplaudida, o consumo é passivo, em multitasking, sem fios.
- Stop. Os próprios fundadores do CH criam uma sala para pedir feedback aos utilizadores, e aprender com a sua experiência.
A mais valia não é a comunicação mas sim a comunhão
Vídeos? Exigem dedicação. Podcasts? Obedecem a um guião e ficam gravados. Lives? Bruno Nogueira reúne 100 mil pessoas ao serão numa partilha tribal e efémera, mas sem interação.
No CH há a adrenalina do improviso, o medo de perder “aquela” intervenção, a liberdade de criar uma sala sobre qualquer tema, e a oportunidade de participar “levantando a mão”.
Há a expectativa de ver como vai ser gerido o frágil equilíbrio de escalar, sem diluir demasiado esta facilidade de acesso e colaboração.
- Stop. O tubarão Daymond John e Grant Cardone debatem o poder do networking: “contacts equals contracts”.
Social listening: dizem a nós, de nós, dos nossos concorrentes
Foi avaliado em mil milhões de dólares. O acesso é só por convite, gerando desejo com a ideia de escassez, e para já, só para iPhone.
Não há ainda saturação e as marcas podem ambicionar impactar com diálogo e participação, solidificando uma comunidade envolvida. A conversa pode durar horas ou dias, com participantes de todo o mundo, e líderes de qualquer setor.
- Stop. A quantidade de ouvintes que esgotam a sala de Elon Musk é inversamente proporcional ao seu tom intimista: os filhos não revelam interesse em Marte, e “bitcoin is on the verge of getting broad acceptance by conventional finance people.”
Do polido ao envernizado Instagram, para a vulnerabilidade
Há o fascínio glitterati com as dezenas de celebridades envolvidas, exibicionismo e vaidade. Mas também há quem faça quimioterapia e ali encontre empatia e conforto.
O imperativo improviso também pode ser um campo minado para as marcas, que necessariamente terão que estar abertas ao debate e espontaneidade.
Mas o valor desta audiência compensa esse risco: a demografia, a idade, o poder de compra, a dinâmica, a afluência, a inclusividade. É possível aceder a nichos e insights, e provocar a curadoria de temas e co-criação de conteúdos.
- Stop. Elon Musk interroga frontalmente o co-fundador da RobinHood, a justiceira plataforma de trading que impôs perdas milionárias aos gigantes do investimento: “The people demand answers, and they want to know the truth.”
No futuro, o top influenciador social vai ser um bot
A monetização vai passar pelo pagamento a speakers, e salas patrocinadas por marcas. Os “acessos ao backstage”, os “lançamentos exclusivos”, e os “meet & greet de celebridades”, mas em modo áudio.
Há tribos sobre tudo: marketing digital, tech, gaming, turismo, culinária, yoga, meditação, neurociência, networking, vacinas, sexo, etc.. E sobre nada: há uma sala só para gritar a plenos pulmões a frustração daquele dia.
Há combinações improváveis, a debaterem temas onde nem sabíamos que acrescentam valor.
- Stop. Ashton Kutcher e o autor do “Think Again” a discutir os psiconautas, e o uso de substâncias psicadélicas nas mudanças de padrões de comportamento: “You don’t have to believe everything you think, it’s not good for your learning and flexibility”.
As salas são ruidosas. Os aplausos, silenciosos: ligar e desligar consecutivamente o microfone, fazendo-o piscar.
Sem reprodução, tudo desaparece instantaneamente, mas os temas ressurgem no Reddit, Twitter, Instagram, LinkedIn, numa polinização cruzada de plataformas.
Confinados e despenteados, abrimos imensas vezes o frigorífico à procura de algo. É este impulso que potencia o ClubHouse.
*CEO da Marquinista e consultora de marcas.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
ClubHouse: do social media para o social branding
{{ noCommentsLabel }}