Moody’s vê malparado da banca portuguesa nos 9% com fim das moratórias

Agência explica que, só após o fim das medidas de apoio a empresas e famílias, será possível perceber o impacto na banca, mas estima já que o rácio de NPL suba para 9% este ano, face a 5,5% em 2020.

A Moody’s tem uma perspetiva negativa sobre a banca portuguesa. E está preocupada com o impacto que o fim das moratórias possa ter na qualidade dos ativos. A agência de notação financeira antecipa um aumento do crédito malparado este ano e uma queda nos resultados fruto do crescimento das provisões. E avisa que o Novo Banco poderá ser um fardo adicional.

“Temos um outlook negativo para o setor da banca portuguesa, em linha com vários outros países europeus. O que este outlook negativo quer refletir é a elevada incerteza no ambiente operacional que poderá traduzir-se em fundamentos bancários mais fracos“, explicou Pepa Mori, vice-presidente e senior credit officer para a banca europeia da Moody’s, numa conferência digital sobre Portugal organizada esta quarta-feira pela agência.

“A nossa principal preocupação no que diz respeito à banca portuguesa é que a melhoria na qualidade dos ativos dos bancos que se verificou em 2020 sofra uma brusca reversão à medida que as medidas do Governo de apoio aos devedores — como as linhas de crédito garantidas ou as moratórias de crédito — comecem a desaparecer”, avisou.

Atualmente 22% das carteiras das instituições financeiras está sob moratórias, um regime que está em vigor, pelo menos, até setembro deste ano, não estando excluída uma nova extensão. Só nessa altura é que será possível perceber o impacto destas medidas na banca, mas as estimativas da Moody’s é que o rácio de non-performingloans (NPL) suba para 9% este ano, face a 5,5% no final do ano passado.

Além do impacto na qualidade dos ativos, o agravamento do malparado irá obrigar igualmente ao aumento das provisões para acautelar eventuais perdas, o que reduz ainda mais os resultados líquidos (já por si comprimidos pelo impacto da pandemia nas margens financeiras).

Por um lado, Pepa Mori lembra que “os bancos portugueses entraram a crise mais fortes do que na crise financeira anterior“, o que é “muito importante” em termos de capital e liquidez. “Os bancos portugueses comparam positivamente com os europeus”, sublinha.

Novo Banco “poderá ser um fardo para os bancos”

Por outro, a analista vê um risco adicional no horizonte: a decisão do Parlamento (através de uma maioria negativa sem o apoio do Governo) de bloquear as injeções de capital no Novo Banco. É o Fundo de Resolução que injeta dinheiro no Novo Banco, sendo que este organismo consegue os fundos através de impostos cobrados aos bancos e de empréstimos do Estado. Com o bloqueio ao dinheiro público, os bancos poderão ser chamados a intervir.

O Governo inscreveu 476 milhões de euros no Orçamento do Estado para 2021 para a transferência do Fundo de Resolução para o Novo Banco, valor que foi chumbado no Parlamento e para o qual ainda não há solução. “O nosso cenário base é que o financiamento continuará a estar disponível para o banco, mas consideramos que este fator é relevante. As implicações que poderá ter para os bancos portugueses é que, caso não seja encontrada uma solução, poderá vir a ser um fardo para os bancos“, acrescentou Pepa Mori.

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