Das malas transportadas aos dividendos à TAP. Conheça a Groundforce em números

A empresa de handling é ou não estratégica para o país? O ECO apresenta um retrato em sete números chave.

Os trabalhadores da Groundforce estão em sucessivas manifestações a pedir ajuda para resolver o impasse que a empresa vive depois de ter entrado em rutura de tesouraria.

O acionista privado, Alfredo Casimiro, atira as culpas para cima do Governo, dizendo que demora a dar aval a um empréstimo bancário e acusando-o de procurar uma nacionalização.

O ministro Pedro Nuno Santos rejeita as acusações e garante estar a tentar resolver a situação para que os 2.400 trabalhadores recebam os salários em atraso, mas avisa que a Groundforce “não é estratégica” para o país a ponto de ser nacionalizada.

Esta é a empresa em causa, em sete números (pré-pandemia):

50,1% do capital privado

O capital da SPdH – Serviços Portugueses de Handling, S.A., (a empresa conhecida comercialmente como Groundforce) é atualmente detido pela Pasogal de Alfredo Casimiro, em 50,1% e pelo grupo TAP em 49,9% (43,9% diretamente e 6% através da Portugália).

Nascida em 2003, a empresa de handling era totalmente detida pela TAP, que foi forçada pela Autoridade da Concorrência a vender a maioria do capital. A privatização, com a alienação aos espanhóis da Globália, acabou por gerar uma guerra acionista e a participação acabaria em 2008 nas mãos da banca. Em 2012, o Governo fecha novo negócio com o Grupo Urbanos de Alfredo Casimiro.

70% do negócio ligado à TAP

As relações entre os acionistas continuaram sem ser as melhores, tendo atingido um ponto de particular tensão quando Casimiro tentou travar a privatização da TAP em 2015 por receio que pusesse em causa o seu objetivo de comprar a restante parte da Groundforce. A privatização avançou e a compra não.

Guerras acionistas à parte, certo é que as duas empresas continuaram umbilicalmente ligadas e 70% do negócio da Groundforce é conseguido através da TAP. Ainda assim, tem uma “carteira estável de clientes, assistindo também todos os anos novas companhias que procuram os nossos serviços”, de acordo com a página da empresa, que indica que a Groundforce assiste mais de 150 companhias aéreas nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo.

126.601 toneladas de carga

O negócio inclui serviço de passageiros, serviço de bagagens, load control, comunicações e operações de voo, lounges VIP, serviço de placa, carga, correio e armazenagem, representação, supervisão e coordenação, bem como assistências personalizadas. Em 2018 — ou seja, antes da pandemia ser sequer imaginável –, realizaram 221.356 movimentos, assistiram 25,1 milhões de passageiros e transportaram 126.601 toneladas de carga.

25 milhões de euros de prejuízos

Exatamente pela forte ligação à TAP, quando a companhia foi fortemente afetada pela pandemia, a Groundforce sofreu os efeitos em cadeia. Segundo números avançados por Casimiro ao ECO, a faturação caiu para 63 milhões de euros em 2020, menos 58% do que os 153 milhões de euros registados em 2019. De lucros de nove milhões de euros antes da pandemia, os resultados da empresa passaram para prejuízos de 25 milhões de euros no ano passado. “Estamos com 10% do número de voos, é incomportável”, diz o empresário.

3 milhões em dividendos

Os prejuízos deverão impedir a Groundforce de pagar dividendos referentes ao ano passado, ao contrário do que tem acontecido nos últimos anos. Em 2019, a Groundforce deu 2,997 milhões de euros euros em dividendos aos acionistas, dos quais metade foram para a TAP e a outra metade para o acionista privado. Ainda assim, o valor representa uma quebra de 45% face aos 5,398 milhões de euros distribuídos em 2018.

6,4 milhões em capitais próprios positivos

O acionista defende que a empresa era saudável antes da pandemia e que por isso conseguirá voltar a ser depois. Os números confirmam-no: os capitais próprios eram positivos em 2019, em 6,36 milhões de euros, apesar de revelarem uma deterioração face aos 6,657 milhões de 2018. O endividamento terá aumentado mais do que a criação de rendimento, já que o passivo subiu para 36,144 milhões de euros (de 31,094 milhões em 2018) e o ativo aumentou para 42,5 milhões em 2019 (de 37,751 milhões em 2018).

Mil pessoas despedidas

Para conseguir recuperar, a empresa antecipa que será necessário um plano de reestruturação, mas está à espera de conhecer o parecer de Bruxelas sobre as medidas a aplicar à TAP para poder adaptar a atividade. Enquanto não acontece, a Groundforce já está a ajustar o negócio às quebras da pandemia: reduziu 60 milhões de euros em custos, renegociou contratos com fornecedores e cortou o quadro de funcionários em cerca de mil pessoas (equivalente a um terço da força de trabalho).

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