Governo diz que Casimiro pagou a Groundforce depois de ter recebido 7,6 milhões da própria empresa
Comissões de gestão mais que compensaram o valor da venda, segundo explica o ministro Pedro Nuno Santos. O montante só foi pago seis anos depois de a operação ter sido fechada.
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, acusa o anterior Executivo PSD/CDS de ter privatizado a Groundforce às “escuras” e no segredo de gabinetes fechados pela noite dentro, num processo no qual Alfredo Casimiro “foi pago” para ficar com a empresa de handling. Segundo o governante, o empresário recebeu 7,6 milhões de euros antes de fazer qualquer pagamento.
“Havia a dúvida se [Alfredo Casimiro] pagou ou não [pela compra da Groundforce]. Pagou 3,6 milhões de euros em 2018”, explica Pedro Nuno Santos sobre a compra que aconteceu em 2012. “Até 2015, recebeu 5,4 milhões de euros em fees de gestão. Entre 2017 e 2018 recebeu mais 2,2 milhões. Portanto, depois de ter recebido 7,6 milhões de euros é que pagou 3,6 milhões”, clarifica.
Nascida em 2003, a empresa de handling era totalmente detida pela TAP, que foi forçada pela Autoridade da Concorrência a vender a maioria do capital. A privatização, com a alienação aos espanhóis da Globália, acabou por gerar uma guerra acionista e a participação acabaria em 2008 nas mãos da banca. Em 2012, o Governo fecha novo negócio com o Grupo Urbanos de Alfredo Casimiro, depois da desistência da belga Aviapartner.
“Quantos empresários gostavam de ter a Groundforce sem pagar nada e ainda ganhar por cima? Isto é grave. O senhor Alfredo Casimiro não comprou empresa nenhuma, recebeu dinheiro para ficar com a empresa“, criticou Pedro Nuno Santos, na audição parlamentar na Comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação esta quarta-feira.
Aliás, também numa audição parlamentar na semana passada, Casimiro admitiu que, na altura, lhe ligou um membro do Governo para propor que avaliasse o negócio. Tanta era a pressa que viria a ser feito com a Urbanos e só mais tarde é que a participação passaria para a Pasogal (que é a atual acionista, com 50,1% do capital).
As comissões de gestão acordadas no momento da venda estão associadas às receitas, sendo que a TAP é o principal cliente responsável por 70% da faturação. Além destas, foram também distribuídos dividendos já que a Groundforce passou de prejuízos a lucros em 2013 e, com Casimiro, acumulou 28,8 milhões de euros em lucros até 2019, tendo distribuído quase 17 milhões de euros em dividendos.
“Os dividendos decorrem da empresa estar a dar lucro. Estava a dar lucro até à pandemia e são decisões normais da empresa”, referiu. Considera, no entanto, que os resultados positivos não foram conseguidos por mérito da gestão privada, mas sim às custas de contratos demasiado caros para a TAP.
Pedro Nuno Santos atribui a culpa da situação ao Executivo que liderou o processo de privatização, que considera não ter sido transparente. “Que a direita portuguesa queira privatizar tudo o que mexe, que privatize, mas não venda ao primeiro que aparece“, atirou à oposição. “Há quem ache que as negociações devem ser feitas no recato dos gabinetes, pela noite dentro, mas não é essa a minha forma de estar. Estes processos devem ser conduzidos aos olhos de todos”, defendeu.
O governante acrescentou que ainda menos possível seria manter as negociações para solucionar os problemas financeiros da Groundforce porque “estamos a falar de um empresário que, na relação com o Estado, esteve a enganar e a mentir até ao fim”, referindo-se ao acionista privado Alfredo Casimiro. “Deve o Estado comportar-se como se fosse o Estado multibanco ao seu dispor? Com este governo não”, acrescentou.
(Notícia atualizada pela última vez às 12h23)
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