“Bússola” no “verde” abre a porta a nova fase do desconfinamento após a Páscoa
Com a "bússola" na "zona verde", Portugal vai passar à próxima fase do plano de desconfinamento, já a partir de 5 de abril. Haverá mais alunos na escola, lojas abertas e reabrem esplanadas dos cafés.
O plano de desconfinamento português conhece hoje uma nova página. Chegou o dia de o Governo decidir que medidas vão vigorar a partir de segunda-feira, dia 5 de abril, no rescaldo do fim de semana da Páscoa. As opções do Executivo deverão ser anunciadas pelo primeiro-ministro, António Costa, numa conferência de imprensa após a reunião semanal do Conselho de Ministros.
Na semana passada, a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse aos jornalistas que o Governo só iria decidir o desconfinamento pós-Páscoa no dia 1 de abril, ou seja, esta quinta-feira. Ao abrigo do plano inicial, apresentado a 11 de março, a intenção do Governo é a de retomar na segunda-feira o ensino presencial dos 2.º e 3.º ciclos e reabrir as lojas com até 200 m2 e porta para a rua.
A ambição é ainda a de permitir a reabertura das esplanadas dos restaurantes, cafés e pastelarias, com um máximo de quatro pessoas por mesa, assim como os museus e as galerias. A confirmar-se, será a primeira vez em meses que os cidadãos do território continental poderão pedir uma cerveja na esplanada de um café, ou desfrutar de uma refeição à mesa de um restaurante, desde que na rua. O plano só prevê estas atividades no interior dos estabelecimentos a partir de dia 19.
Contudo, Portugal enfrenta um sério desafio na gestão da pandemia: o país segue a contraciclo com a Europa. A terceira vaga da Covid-19 afetou mais cedo os portugueses, depois de um Natal marcado pelo alívio das restrições, estando agora a ter impacto nos demais países europeus.
Enquanto os portugueses prosseguem com a reabertura, os países vizinhos estão, pelo contrário, a fechar. França e Itália, por exemplo, têm registado subidas expressivas nos novos casos, numa altura em que a vacinação na União Europeia está a decorrer mais lentamente do que no Reino Unido e EUA. Há novos confinamentos a serem implementados em vários países, de que é exemplo o anúncio do presidente francês Emmanuel Macron esta quarta-feira.
De olhos postos na bússola
Mas o desconfinamento português não foi pensado sem um “travão de mão”. O Governo avisou desde cedo que o plano anunciado a 11 de março está permanentemente condicionado ao avanço da pandemia. Nasceu, assim, a “matriz de risco”, também apelidada aqui no ECO de “bússola” do desconfinamento.
A 15 de março, o país deu um primeiro passo “modesto” com a reabertura dos salões de cabeleireiros, barbearias e manicures. Para passar inadvertidamente à fase seguinte, reabrindo as esplanadas a 5 de abril, o Governo determinou que o risco de transmissibilidade médio (Rt) em Portugal teria de ser inferior a 1, e que a incidência da Covid-19 medida pelo número de casos por cada 100 mil habitantes teria de estar abaixo dos 120 no acumulado a 14 dias.
Posto isto, como estamos? O boletim epidemiológico de quarta-feira mostra que, a nível nacional, a incidência da Covid-19 é de 65,3 e o Rt situa-se em 0,94. Por outras palavras, tanto na análise continental como na análise nacional (isto é, incluindo as regiões autónomas dos Açores e Madeira), Portugal está na zona verde da “bússola” do desconfinamento:
A zona verde deverá permitir, assim, que o país prossiga com o desconfinamento, até porque a ministra Mariana Vieira da Silva, há uma semana, deixou escapar uma novidade: mesmo que o Rt supere 1, se a incidência for baixa, o país deve poder continuar a desconfinar. Há zonas verdes para lá dos dois eixos, explicou.
No entanto, toda a medalha tem um reverso. Desde logo, apesar de a incidência da doença ter vindo a diminuir, o risco tem vindo a aumentar. A 24 de março, o Rt era de 0,91, inferior ao atual, pelo que as atenções vão continuar centradas na evolução deste indicador.
Os especialistas têm alertado que o comportamento dos portugueses na Páscoa será determinante para a evolução da pandemia nos próximos dias. Um fim de semana pascal de maiores ajuntamentos, e violações das restrições, poderá atirar o país para a zona laranja, o que implicaria um retardamento do desconfinamento. No pior dos cenários, se entrar na zona vermelha, o Governo diz que não hesitará em voltar a encerrar estabelecimentos e apertar as medidas.
Há 32 concelhos na “zona laranja”
O outro fator ainda é pouco claro, mas deverá ser esclarecido pelo Governo esta quinta-feira: está previsto que possam ser adotadas medidas de caráter local, disse Mariana Vieira da Silva na semana passada. Por isso, o desconfinamento português, daqui para a frente, pode tomar diferentes velocidades, à semelhança do que aconteceu no ano passado, depois do período do verão.
Sobre isso, é certo que nem todo o país está na zona verde. Como noticiou o ECO na segunda-feira, há, pelo menos, 32 concelhos portugueses com incidências da Covid-19 superiores ao limite de 120, encontrando-se, por isso, na zona laranja da matriz de risco, acima do eixo horizontal. O caso mais grave é o de Machico, na Madeira, que apresentava uma incidência de 601 casos por 100 mil habitantes no início da semana.
Para já, uma coisa é certa: até 5 de abril, os portugueses estão impedidos de saírem dos respetivos concelhos de residência. A medida deveria ter entrado em vigor às 20h00 de dia 26, mas o Governo antecipou-a, de surpresa, para a meia-noite desse dia. Serão, por isso, dez dias de forte aperto e controlo das deslocações, na expectativa de se impedirem eventuais ajuntamentos familiares no feriado da sexta-feira santa e no fim de semana da Páscoa.
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