Banca portuguesa será das mais castigadas pelo fim das moratórias. FMI pede “estratégia de saída cuidadosa”
"Alguns dos sistemas financeiros que poderão enfrentar um impacto maior com o fim destas medidas também apresentam buffers de capital comparativamente mais reduzidos", alerta o FMI.
Portugal, assim como a generalidade dos países europeus, recorreu às moratórias para proteger famílias e empresas, mas também às linhas de crédito para salvar muitos negócios do forte impacto da crise provocada pelo novo coronavírus. A banca nacional foi pró-ativa na concessão destas “redes de salvação” num contexto de forte contração económica. Contudo, alerta o Fundo Monetário Internacional (FMI), com o fim destas benesses, o setor financeiro português será dos mais castigados. O impacto na solvabilidade do sistema nacional será bem mais expressivo que generalidade do setor internacional.
“Moratórias e linhas de crédito Covid deram o necessário apoio” para que a liquidez continuasse a fluir. As “moratórias reduziram de forma expressiva o incumprimento no crédito, que teria atingido diretamente os rácios de capital e reduzido o apetite da banca pela concessão de crédito”, diz o FMI, enquanto as linhas de crédito garantidas pelos Estados “permitiram aos bancos evitarem perdas potenciais”. Foram ambas medidas muito importantes para responder à pandemia, mas o prazo de validade de ambas está a chegar ao fim.
“O fim destas medidas poderá levar a um aumento do incumprimento nos créditos”, alerta o FMI no Global Financial Stability Report, onde antecipa que poderá, por isso, ser necessário que os bancos aumentem as provisões, mas também para se prepararem para um impacto maior dos ativos ponderados pelo risco. O resultado será uma redução nos rácios de capital.
Considerando o elevado peso das moratórias (Portugal apresenta a terceira maior proporção destas na análise do FMI), mas também o das linhas de crédito garantidas, a banca portuguesa poderá, de acordo com cálculos do FMI, ser das mais castigadas pelo fim de ambas as medidas de apoio em tempos de Covid-19.
"Alguns dos sistemas financeiros que poderão enfrentar um impacto maior com o fim destas medidas também apresentam buffers de capital comparativamente mais reduzidos.”
O FMI diz que, em média, esta fase de phasing-out das medidas de apoio pode ter um impacto de 20 pontos-base nos rácios de capital dos bancos, mas será pior em alguns sistemas financeiros. Na Grécia, as provisões e a ponderação dos ativos de risco deverá retirar quase 120 pontos aos rácios, mas em Itália a “fatura” também vai superar os 100 pontos, assim como em Espanha. Depois de Chipre surge então Portugal, com os bancos a poderem ver os seus rácios de capital a encolherem em cerca de 80 pontos-base.
“Alguns dos sistemas financeiros que poderão enfrentar um impacto maior com o fim destas medidas também apresentam buffers de capital comparativamente mais reduzidos”, alerta o FMI. “São países em que a pandemia está a ter um impacto macroeconómico mais farto, por isso será crítica uma estratégia de saída cuidadosa”, defende.
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