“Não compreendo que Novo Banco tenha vendido dívida da família Moniz da Maia por 10% do valor”, diz Bernardo Moniz da Maia
Bernardo Moniz da Maia revelou no Parlamento que ofereceu 100 milhões ao Novo Banco para aquisição da dívida da Sogema, mas queria mais financiamento para as operações no Brasil.
“Estou aqui como devedor não do BES, nem do Novo Banco, mas de um fundo que não é português e quando tudo fiz para que não se chegasse a este ponto”. O empresário Bernardo Moniz da Maia começou a audição na comissão de inquérito ao Novo Banco a atacar a venda da dívida da sua família com 90% de desconto a um fundo americano, isto quando apresentou ao banco uma proposta para adquirir o crédito por cerca de 100 milhões de euros, pedindo em troca mais financiamento para as operações no Brasil. E responsabilizou a instituição pela queda do grupo.
“Não compreendo que o Novo Banco tenha vendido a dívida da família Moniz da Maia por 10% do valor”, atirou Bernardo Moniz da Maia. “Por várias vezes fizemos propostas por maior valor”, acrescentou. O empresário adiantou aos deputados que chegou a fazer uma proposta para adquirir o crédito por cerca de 100 milhões de euros, a ser pago em 15 anos, com a contrapartida de mais financiamento do Novo Banco para manter as operações no Brasil a funcionar.
Moniz da Maia revelou que a dívida da família junto do Novo Banco ascendia a 368 milhões de euros (originada no BES em 2007 para a aquisição de ações do BCP) — isto sem contar com a dívida de 137 milhões da Ybase Florestal. A dívida acabou por vendida por seis milhões de euros em 2019, inserida no pacote no Nata II, ao fundo americano Davidson Kempner, e cujas perdas tiveram de ser cobertas pelo Fundo de Resolução.
O empresário responsabilizou o Novo Banco pela queda do grupo. E deixou várias vezes a ideia de que a família é “alheia” à atual situação do grupo. “Após a queda do BES e já como interlocutor o Novo Banco iniciámos conversas para manter o acordado e levar a bom porto os nossos compromissos. Tivemos inúmeras reuniões que nada deram. A resposta foi sempre a mesma: o Fundo de Resolução não responde ou não aprova”.
Também contou o que aconteceu no negócio que tinha no Brasil, em floresta e centrais de biomassa, e com o qual o grupo via uma forma de voltar a cumprir as obrigações com o banco. “O Novo Banco de forma incompreensível decidiu-nos retirar da operação no Brasil, contratando uma empresa chamada Resolutions“. Só que o projeto imediatamente se esvaziou, “perdendo-se todos os ativos existentes”.
Os mesmos destinos tiveram outras empresas operacionais do grupo, que foram “afogadas” e estranguladas” financeiramente pelo banco, contou.
Moniz da Maia revelou que quando pediu o financiamento ao BES (aprovado por Bernardo Espírito Santo) a família tinha um património de 500 milhões de euros. “O BES estava seguro no financiamento”. As ações adquiridas do BCP (uma posição de 2,7%) foram dadas como garantia, assim como a posição que a família tinha na Espirito Santo International.
Contudo, veio a crise do Lehman Brothers e a derrocada das ações dos bancos, incluindo o BCP. E depois, em 2014, com a resolução do BES, a participação na ESI (que havia sido comprada em 1998 com a entrega de hotéis Tivoli) passou a valer zero.
Além da dívida da Sogema, o grupo Moniz da Maia tinha outras empresas com exposições no Novo Banco, incluindo a Ybase Florestal e a Totalpart.
“Se a dívida foi contraída, é-se moralmente responsável”
A meio da audição, Fernando Anastácio, deputado relator da comissão, pediu a palavra para pergunta se Bernardo Moniz da Maia tinha a convicção de que era devedor do Novo Banco.
“Temos convicção que fomos de devedores do BES, passamos para o Novo Banco e agora somos devedores de um fundo”, respondeu o empresário. “É da família e minha”, reforçou. “Se a dívida foi contraída, é-se moralmente responsável”, disse ainda.
Moniz da Maia disse que hoje em dia não tem grande património. É administrador em várias sociedades da família, mas que aufere cerca de três mil euros pelas funções em apenas uma. Tem ainda um carro em leasing e uma “pequena conta” na Suíça que se encontra arrestada pela Justiça brasileira.
Revelou ainda que está ligado a duas fundações no Panamá: a Forma e Pastoral Foundation e Skinners Fundação Panama. Qual o património delas? “É basicamente é zero dentro daquilo que conhece. Fora disso não existe mais nada”, respondeu.
(Notícia atualizada às 18h30)
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