PS deve “tirar conclusões” do caso Sócrates, mas só no fim do processo, diz António Costa
"Os juízes e as magistraturas não são árbitros de futebol e os políticos não estão perante os tribunais como os adeptos de um clube estão perante um árbitro", disse António Costa.
O secretário-geral do PS, António Costa, admitiu que o partido deve “tirar conclusões” do processo Marquês, em que é acusado o ex-líder José Sócrates, mas só o deve fazer “quando este caso terminar”.
“Se o PS há de tirar conclusões sobre a matéria, seguramente que sim. Mas acho que as deve tirar no momento próprio. E o momento próprio é quando este caso terminar. Aí, sim, o PS pode e deve falar”, afirmou António Costa, em entrevista ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, publicada este domingo na revista Notícias Magazine.
"Se o PS há de tirar conclusões sobre a matéria, seguramente que sim. Mas acho que as deve tirar no momento próprio. E o momento próprio é quando este caso terminar. Aí, sim, o PS pode e deve falar.”
Militantes socialistas como Ana Gomes tem vindo a criticar o silêncio de Costa e de outros dirigentes socialistas sobre o processo que envolve Sócrates e que vai a julgamento por branqueamento de capitais e falsificação de documentos, mas o líder do PS mantém a posição que teve desde 2014, quando o antigo primeiro-ministro foi detido, sintetizada na frase: “À política o que é da política, à justiça o que é da justiça.”
E o próprio afirmou que só voltará “a falar sobre esse assunto quando houver uma decisão transitada em julgado”.
Na entrevista, António Costa admitiu que “seria difícil para qualquer partido lidar” com um caso deste tipo. “O PS fez o que é correto. Porque qualquer coisa que o PS fizesse, das duas uma: ou seria uma pressão inadmissível sobre a Justiça ou seria uma desconsideração inaceitável do princípio da presunção da inocência. Ora, ou temos princípios ou não temos”, disse.
“Não é o PS que se vai substituir à Justiça, fazendo o julgamento que a Justiça há de fazer”, concluiu.
António Costa defendeu ainda a necessidade de todos respeitarem a independência do poder judicial. “Fico um bocado perplexo com a facilidade com que alguns políticos comentam as decisões judiciais como os adeptos de um clube de futebol comentam a atuação de um árbitro e gostam da decisão se é [a favor] do seu clube e não gostam se não é. Os juízes e as magistraturas não são árbitros de futebol e os políticos não estão perante os tribunais como os adeptos de um clube estão perante um árbitro”, sublinhou.
“Essa degradação do distanciamento da relação dos políticos com a Justiça é uma ameaça perigosa à independência do poder judicial. E fico perplexo quando vejo a forma totalmente normal como se ouvem as propostas que o dr. Rui Rio vai apresentando para a Justiça, são uma ameaça efetiva”, disse ainda.
O juiz de instrução criminal Ivo Rosa decidiu mandar para julgamento o ex-primeiro ministro José Sócrates, o seu amigo e empresário Carlos Santos Silva, o ex-ministro Armando Vara, o banqueiro Ricardo Salgado, todos por crimes económicos e financeiros, mas deixou cair as acusações de corrupção e fraude fiscal.
José Sócrates, que estava acusado de 31 crimes, e Carlos Santos Silva, indiciado por 33 crimes, vão a julgamento em conjunto por branqueamento de capitais e falsificação de documentos, num processo que começou a ser investigado em 2013.
Em causa estão verbas de 1,72 milhões de euros entregues pelo empresário e alegado testa-de-ferro a Sócrates, que, segundo a decisão instrutória, não configuram o crime de corrupção, por estar prescrito, mas implicam três crimes de branqueamento de capitais.
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