Portugueses têm mais capacidade de poupar, mas um terço teme o risco da bolsa

Apenas 30% dos adultos em Portugal investem em ativos financeiros. Relatório conhecido esta terça-feira vai servir de base a um novo programa para reforçar a literacia financeira no país.

A capacidade para poupar dos portugueses tem vindo a aumentar nos últimos anos, mas apenas 30% da população investe o dinheiro que põe de parte. Falta de confiança, medo de arriscar e ausência de confiança são as principais razões que afastam os portugueses do mercado de capitais, de acordo com os resultados de um estudo apresentado esta terça-feira pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

“Cada vez mais portugueses indicam ter capacidade de poupar dinheiro: em comparação com os resultados de anteriores inquéritos à literacia financeira, a parcela dos que não poupam decresceu continuamente de 48% em 2010 para 41% em 2015 e 38% em 2020“, revela estudo Financial literacy for investors in the securities market in Portugal conduzido pela Valdani Vicari & Associati e pela KPMG para o supervisor nacional. Em comparação com a União Europeia, Portugal continua abaixo da média.

O inquérito revela que, da população adulta no país, 30% são investidores, sendo a percentagem mais elevada nas cidades e zonas com maior densidade populacional, bem como entre pessoas com mais qualificações académicas. Também em termos de género há diferenças: as mulheres estão “subrepresentadas”, o que pode ser explicado por “menor apetite pelo risco” ou “menor nível de confiança nos próprios conhecimentos”.

“Em comparação com os homens, menos mulheres responderam corretamente às perguntas de educação financeira. No entanto, isso pode significar que estas tendem a avaliar os conhecimentos próprios de forma mais realista e não que têm baixa confiança de forma geral”, explica o estudo. “As mulheres tendem a confiar mais em pessoas que lhes são próximas no que diz respeito a tomada de decisões e informações, incluindo funcionários do banco ou familiares e amigos. Também negociam com menos frequência do que os homens e verificam o valor das suas carteiras com menos frequência”.

Inversão do mercado, mau aconselhamento ou azar explicam perdas

Entre quem não investe, há alguns que nunca o fizeram e outros que já o fizeram e deixaram. “Mais de um terço dos não-investidores que já o foram no passado indicam que a razão para não investirem em valores mobiliários é não confiarem nestes investimentos (37%) e não gostarem de assumir riscos (36%), enquanto um terço não tem conhecimentos suficientes sobre o assunto (30%)”.

Os investidores passados que perderam dinheiro nos mercados rejeitam quaisquer culpas: 62% considera que perdeu dinheiro por mudanças no mercado, 26% a mau aconselhamento e 13% a má sorte. Os não investidores que não querem investir veem falta de recursos (47%), falta de confiança (24%) e aversão ao risco (23%) como principais razões. Já quem nunca o fez, mas até consideraria, precisava de ter mais recursos (69% em todas as idades e 80% entre os jovens), mas também mais conhecimentos.

Neste momento, as decisões relativas a investimentos financeiros são principalmente influenciadas por terceiras pessoas. A principal fonte de informação das pessoas inquiridas são os funcionários de bancos (46%), seguidos de família e amigos (38%). Aliás, 42% dos que investem revelam que o fizeram por recomendação do banco ou de gestores de conta.

"A questão do risco parece ser um fator importante para a população portuguesa. Reconhecer o nível geral de aversão ao risco e, ao mesmo tempo, melhorar a compreensão das oportunidades por meio da diversificação e de outros benefícios do investimento pode ser incluído num programa.”

Financial literacy for investors in the securities market in Portugal

Após terem dado esse passo, as decisões de investimento são tomadas essencialmente por comparação, com 40% a dizer que considerou vários produtos antes de avançar com uma aquisição e a maioria destes a explicar que foi o banco que recomendou a escolha. Embora menos (eram 81% em 2015), ainda 75% das pessoas não lê os contratos antes de assinar.

“Há frequentemente um foco superior nos lucros face a outros aspetos. Olhando para uma série de declarações, 54% dos investidores preferiram investir numa empresa que com resultados positivos, em vez de investir noutra que está a minimizar o impacto no ambiente. A percentagem é comparativamente maior do que a registado entre não investidores (32%) e entre aqueles que nunca investiram (31%)”, refere.

CMVM vai usar recomendações para desenvolver programa de literacia

“Estes resultados ou conclusões listados acima servem para orientar a próxima parte do projeto sobre o apoio ao desenvolvimento de um projeto de programa de educação financeira para investidores e não investidores”, revela o relatório, que traz quatro recomendações preliminares para serem desenvolvidas e implementadas pelas autoridades portuguesas.

A primeira recomendação é que o programa possa ter como objetivo a melhoria do conhecimento, por exemplo, por meio da atualização e adaptação do material educacional existente sobre o mercado financeiro, visando a melhoria dos níveis de educação financeira. “A questão do risco parece ser um fator importante para a população portuguesa. Reconhecer o nível geral de aversão ao risco e, ao mesmo tempo, melhorar a compreensão das oportunidades por meio da diversificação e de outros benefícios do investimento pode ser incluído num programa”, aponta.

Em termos de conteúdos, o programa pode ter também como objetivo aumentar a consciência geral e o comportamento do mercado de valores mobiliários como oportunidade para uma oportunidade de economia consciente, mas também cobrindo aspetos como finanças sustentáveis.

Já no que diz respeito ao público-alvo, as recomendações referem que as ações poderiam ser cobertas para diferentes grupos específicos como mulheres ou jovens, além dos esforços para abordar a população em geral com um programa de educação financeira sobre investimento. Por último, recomenda que o seja vinculado a uma cooperação (mais forte) com outras organizações e instituições, como universidades.

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