“Se capitalismo português são os devedores do Novo Banco, as minhas reservas com PCP vão todas embora”, confessa Daniel Bessa

Daniel Bessa ficou surpreendido pela negativa com o que viu no inquérito ao Novo Banco sobre os grandes devedores, mas garante que "a classe empresarial portuguesa não é isto".

O economista Daniel Bessa afirma em entrevista ao ECO que as audições aos grandes devedores do Novo Banco são “quase uma espécie de psicanálise” e que “nunca pensou que fosse tão mau”. Para o ex-ministro da Economia se o “capitalismo português é isto então o Partido Comunista não é pior”. Apesar de não acreditar que a comissão de inquérito vá ter consequências práticas, considera que foi útil para separar o trigo do joio e garante que “a classe empresarial portuguesa não é isto”.

“Se o capitalismo português é o que foi oferecido por estes senhores então as minhas reservas em relação ao PCP vão todas embora. A proposta que o Partido Comunista tem para oferecer não é grande coisa, mas não é pior que isto“, compara o economista, criticando fortemente os grandes devedores do Novo Banco que passaram pela comissão de inquérito. Porém, realça que estes não representam a classe empresarial de Portugal.

As últimas audições da comissão parlamentar de inquérito ao Novo Banco trouxeram para a ribalta uma lista de nomes que fazem parte dos grandes devedores do sistema financeiro e não pelos melhores motivos: as perdas milionárias que provocaram à banca. Foi “demolidor”, classifica Bessa, deixando críticas indiretas a Luís Filipe Vieira, Nuno Vasconcellos ou Bernardo Moniz da Maia.

“Ao chamar os devedores nós fomos confrontados com pelo menos uma pessoa que deve centenas de milhões que não pagou e que diz que não sabe o que é uma imparidade. Eu até acredito que não saiba o que é, para saber o que é uma imparidade é preciso o mínimo de sofisticação. Gerou imparidades de centenas de milhões que nós somos convidados a pagar e isto ficou a nu. Eu não pensei que fosse tão mau“, diz Daniel Bessa, referindo-se ao presidente do Benfica que disse que não sabia o que era uma imparidade.

O ex-ministro da Economia destaca ainda que não conhece nenhuma atividade dos maiores devedores do Novo Banco que justifiquem os montantes em dívida. “Encontro pessoas que devem às centenas de milhões de euros e eu não conheço atividade que justifique isso. Não vou dizer que a verdade dessas pessoas é o palheiro [referência a Luís Filipe Vieira] e mota de água [referência a Nuno Vasconcellos], não vou dizer. Essas pessoas valem mais que isso e tem outras atividades (…) Essas pessoas foram vínculos de negócios em proveito não sei de quem, mas que foram ruinosos“, afirma.

Apesar de reconhecer esta utilidade de “psicanálise” do inquérito, o economista Daniel Bessa considera que os resultados práticos serão “muito poucos” ou “nenhuns”. “Não serviu de grande coisa”, diz, referindo que se o objetivo destas comissões é questionar as somas que passam do Fundo de Resolução para o Novo Banco “é tempo perdido”.

O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, confirmou em sede de comissão de inquérito que Luís Filipe Vieira tinha um património com apenas três ativos: uma casa para palheiro, uma moradia e uma loja em Alverca. Por sua vez, o antigo dono da Ongoing não admitiu a dívida de 520 milhões ao Novo Banco durante a comissão de inquérito, depois dos credores só terem encontrado uma mota de água registada em nome de Nuno Vasconcellos.

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