Preço do petróleo acima dos 75 dólares e tendência de subida deve manter-se
O preço do petróleo Brent continua em alta a cotar-se acima dos 75 dólares, mais quase 15% que no início de 2020, analistas acreditam que tendência vai manter-se a curto prazo.
O preço do petróleo Brent continuava esta quarta-feira em alta a cotar-se acima dos 75 dólares, mais quase 15% que no início de 2020, e analistas contactados pela Lusa acreditam que a tendência vai manter-se a curto prazo.
Depois de no ano passado ter entrado em terreno negativo pela primeira vez na história devido às medidas adotadas para travar a pandemia em todo o mundo, o preço do denominado “ouro negro” começou a recuperar este ano e, atualmente, já está quase 15% acima do verificado no início de 2020.
A Agência Internacional de Energia (AIE) verificou que a procura global também está a aumentar a um ritmo forte este mês e estimou que deve continuar a crescer nos próximos trimestres e atingir os níveis pré-crise no final de 2022.
Sublinhando que no ano passado os contratos do petróleo atingiram valores negativos pela primeira vez na história, o analista da XTB Henrique Tomé, considera que o preço do petróleo vai continuar a subir também impulsionado pela reabertura da economia, depois de vários meses de fortes medidas de confinamento em todo o mundo que fez com que a procura estivesse limitada.
No mesmo sentido, Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades acredita que o preço do petróleo vai manter a tendência face a uma oferta insuficiente para cobrir a procura, sublinhando que “os países OPEP (Organização de países Exportadores de Petróleo) têm-se mantido fiéis às suas quotas de produção (que, no passado, raramente eram respeitadas sempre que o preço do barril subia) não as excedendo”.
“A possibilidade de um alívio das sanções contra o Irão, que poderia ajudar a mitigar a escassez na oferta, parece estar bastante longe”, defende Ricardo Evangelista.
No último relatório mensal do mercado petrolífero, a Agência Internacional de Energia (AIE) insistiu novamente, como já tinha feito em maio, que a OPEP devia abrir mais as suas torneiras para que o mundo fosse devidamente abastecido.
Na opinião do BPI Research, “a curto prazo poderá ainda manter-se alguma pressão atendendo às perspetivas positivas para a procura e à manutenção de constrangimentos pelo lado da oferta, incluindo por exemplo, o facto da produção de petróleo nos EUA estar ainda aquém do seu potencial depois de interrompidos os investimentos e a exploração devido à pandemia”.
Contudo, segundo o BPI Research, “estes constrangimentos derivados da própria pandemia tendem a esbater-se à medida que os pontos de exploração regressam à normalidade” e se perspetiva que as sanções contra o Irão venham a ser aligeiradas, possibilitando o regresso do país para um acréscimo da oferta mundial.
Assim, numa perspetiva a médio prazo, o BPI Research prevê uma redução das pressões sobre os preços e aponta para um regresso dos mesmos a níveis em torno de 65 dólares por barril em 2022 (previsões BPI/CaixaBank Research).
O analista da XTB Henrique Tomé defende que “se a produção de petróleo começar a aumentar, em conjunto com o possível regresso da produção iraniana, então os ganhos poderão estar limitados”.
No entanto, à medida que a atividade económica continua a recuperar e as medidas restritivas continuam a diminuir, é natural que os preços do petróleo possam continuar a valorizar-se, admite Henrique Tomé.
Ricardo Evangelista defende que é “difícil estimar” um limite máximo para o preço do petróleo, recordando que “no passado a indústria do petróleo conseguia estimar com alguma facilidade, e com vários meses de avanço, os níveis de oferta e procura”.
“Ainda com alguma incerteza relativamente ao ‘timing’ do regresso à normalidade qualquer previsão para um limite máximo arrisca-se a errar o alvo”, afirma Ricardo Evangelista, adiantando que, “no entanto, o consenso geral aponta para que o consumo se aproxime rapidamente dos níveis pré-pandemia, sendo que o crescimento da oferta não tem acompanhado”.
“Podemos também falar de uma febre especulativa que tem afetado o mercado das matérias-primas, normal num ciclo de crescimento económico, que também ajuda a suportar o preço do petróleo”, afirma ainda Ricardo Evangelista, adiantando que “há quem fale na possibilidade de se chegar aos 100 dólares por barril antes do fim do ano”.
Contudo, Ricardo Evangelista conclui que “é muito difícil de prever, até porque a mudança de postura da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) na semana passada, ao lançar a ideia de que as taxas de juro vão começar a subir um ano antes do que era anteriormente esperado, poderá pôr fim ao ‘bull market’ das matérias-primas, o que também afetaria a dinâmica de subida do petróleo”.
Em relação aos efeitos da subida do preço do petróleo para Portugal, o analista da XTB Henrique Tomé destaca o aumento dos preços dos combustíveis, tanto do gasóleo como também da gasolina, afirmando Ricardo Evangelista que “Portugal é um país que importa grande parte da energia que consome, por isso, a subida do preço do petróleo não irá ajudar o país num momento em que é fundamental que a atividade económica recupere”.
“Será um fator negativo para a indústria, refletindo-se em custos de produção mais elevados, e também afetará as famílias através de combustíveis mais caros”, adianta o analista da ActiveTrades.
Também o BPI Research considera que “as consequências para Portugal são negativas, pesando na inflação e nos custos para as famílias e empresas dado que o país continua a ser importador líquido e dependente desta ‘commodity’ para a componente energética, ainda que menos que no passado dado o maior peso das energias renováveis no ‘mix’ energético”.
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