À espera do super-homem

  • David Tomé
  • 2 Julho 2021

Imaginem que alguns empreendedores, estabeleciam um acordo com o estado para gerir uma escola problemática, com o compromisso de obter melhores resultados.

“À espera do super-homem” é um documentário que conta a dura realidade das famílias norte-americanas, com fracos recursos económicos, que querem dar aos seus filhos uma educação escolar minimamente decente.

Esta é uma história contada por um jornalista que vê nalguns professores, os atuais super-heróis, os únicos capazes de salvar estas crianças de um destino, na maior parte dos casos, ligado ao insucesso escolar, exclusão social ou à criminalidade.

Em 2009, ele próprio se confronta com a situação de ter de escolher a melhor escola para os seus filhos. O medo de os mandar para uma escola pública, de má qualidade, era-lhe assustador. Algo constrangido, comenta que “traindo os ideais pelos quais julgava viver, passo por três escolas públicas, enquanto levo os meus filhos a uma escola privada. Mas eu tenho sorte, tenho essa opção.”

A maioria dos pais não têm essa opção, contudo, tentam a sorte (literalmente) em charter schools. Estas escolas de iniciativa privada, onde os alunos são financiados pelo estado, são muitas vezes criadas por professores que não se resignam. Em média, apresentam projetos educativos diferenciadores, onde o aluno é o foco (como deve ser sempre) e sem os problemas estruturais de influência corporativa que as escolas públicas sofrem.

Saliento desde já, que não pretendo com esta introdução defender que a escola pública é melhor ou pior do que a privada. Para isso temos as avaliações, os rankings e sobretudo as perspetivas de um futuro mais ou menos risonho para cada um dos seus alunos. Procuro só e apenas, chamar a atenção para umas das maiores riquezas que temos na sociedade, a possibilidade de ter opções.

No entanto, tal como o jornalista, os pais de cerca de 320 000 alunos em Portugal que frequentam escolas privadas vão (provavelmente) experienciando os mesmos sentimentos, mas na verdade, estes são sortudos, já que têm a possibilidade de escolher, ou seja, voltamos ao critério das opções.

Não deveríamos estar a proporcionar a todos os portugueses um conjunto maior de opções? Deveremos condenar Portugal a uma lógica educativa que na verdade pode ser melhorada? O que é que poderíamos apresentar como alternativa, isto é, como opção?

Imaginem que alguns empreendedores, estabeleciam um acordo com o estado para gerir uma escola problemática, com o compromisso de obter melhores resultados. A este cenário, vamos também juntar uma ou mais Fundações privadas que assumiriam todos os encargos durante o tempo que durasse o projeto. E agora a cereja no topo do bolo, o Estado apena reembolsaria os custos, na proporção dos objetivos efetivamente alcançados. Para garantia quanto aos resultados obtidos, uma entidade independente faria a monitorização de todo o projeto.

Pois bem, acabo de vos dar um exemplo do que é uma social impact bond ou na versão portuguesa, Título de Impacto Social, que poderia servir de suporte à criação de projetos educativos alternativos. Estes instrumentos são um modelo de financiamento inovador, orientados para a obtenção de resultados sociais na prestação de serviços públicos, assentes numa cultura de objetivos mensuráveis e onde o risco financeiro é assumido pelos parceiros sociais (no caso do nosso exemplo seriam as fundações).

E onde é que este tema se cruza com as opções que considerei como uma das maiores riquezas da sociedade? Vejamos, os alunos e o estado ganhariam a possibilidade de aceder a soluções inovadoras, diferenciadoras, que surgissem junto de pessoas motivadas com multiplicidade de formações e conhecimentos. O Estado por si só, poderia ter acesso a uma portfólio de soluções mais baratas e mais eficazes na maximização do retorno social, além da dispersão do risco de investimento. Os investidores sociais, teriam a opção de dirigir os recursos para uma maior variedade de projetos, bem como a possibilidade de “reciclar” o investimento (para posterior re(uso) noutras situações). Quanto a estes últimos, considero que este tipo de projetos seriam uma alternativa bem mais interessante, para reorientar o investimento que normalmente é alocado ao combate de efeitos e não nas causas dos problemas sociais.

Em Portugal a Fundação Calouste Gulbenkian é parceira social de 5 projetos, diferentes do exemplo que apresentei, com resultados extremamente satisfatórios. Os caríssimos leitores podem consultar os relatórios de encerramento dos Títulos de Impacto Social nas redes sociais da Maze (1) (que teve a responsabilidade de monitorizar todo o processo).

Sabemos que na grande maioria das vezes, estas iniciativas produzem resultados excelentes, contudo e infelizmente, o setor público e social a nível global não está a querer mudar, nem se mostra preparado para tal (2).

Ainda assim, acredito nos super-homens e nas super-mulheres que andam por aí com vontade de transformar o mundo. Eles são rápidos a pensar o problema e a implementar a solução.

“Será um pássaro? É um avião? É o super-homem? Não, é um empreendedor social.

(1) https://mailchi.mp/maze-impact/tis-relatorios?fbclid=IwAR2aj_acd1EuXtBUB0cI4_7sJdAv2Nv7osnJ24sxOhm9wM7XRXIeaqf4uOc
(2) The impact of agility: How to shape your organization to compete, Mckinsey and company

  • David Tomé

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