O Venture Capital Gender Gap

  • Inês Palma Ramalho
  • 26 Julho 2021

Os números mostram que apenas 2,3% do montante financiado foi alocado a startups lideradas por mulheres. E, pior, esse número é mais baixo do que o de 2019.

O gender gap é um tema que está longe de ser novo ou de estar resolvido e por isso ninguém estranha que as suas ramificações afetem seriamente a área do venture capital (o nome dado aos financiamentos não-bancários tão almejados pelas startups). Para quem possa não estar dentro do tema, um financiamento de venture capital exige que um empreendedor bem-falante, com uma excelente ideia (que pode estar mais ou menos implementada, em função do estado de maturidade da startup), consiga convencer, com o seu pitch, um grupo de financiadores a investir nessa ideia e na sua startup numa fase em que a mesma tem poucas – ou nenhumas – provas dadas.

Ora, apesar de 2020 ter sido um ano recorde de investimento em venture capital (só nos EUA foram 300 mil milhões de dólares), os números mostram que apenas 2,3% do montante financiado foi alocado a startups lideradas por mulheres. E, pior, esse número é mais baixo do que o de 2019.

Os dados são recentes pelo que as razões para a descida não são ainda óbvias. Contudo, os números não mentem e, com pandemia ou sem ela, 2,3% de alocação de venture capital é incontornavelmente baixo.

Em junho de 2018, a BCG e a MassChallenge (uma rede norte-americana de incubadoras) publicaram um relatório que concluía que as startups lideradas por mulheres tinham duas vezes mais probabilidades de serem bem-sucedidas por comparação com as demais e, em geral, geravam 10% mais dividendos, dois aspetos que são da maior importância a qualquer financiador. Não se sabe exatamente por que é que isso acontece mas o estudo explora que as startups lideradas por empreendedoras mulheres têm tendência para apresentarem planos de negócios mais robustos e realistas e que, em geral, se preparam melhor, talvez em antecipação com um maior ceticismo dos financiadores. Seria de esperar que este tipo de estudos entusiasmasse qualquer grupo de financiadores a investir maioritariamente em startups lideradas por mulheres, mas não é isso que os números dos anos subsequentes têm demonstrado.

O mesmo estudo explora alguns motivos. Com base nos dados recolhidos, o duo BDG/MassChallenge conclui que projeções mais tímidas são também menos entusiasmantes, o que pode afastar investidores mais afoitos. Do mesmo modo avança que certos financiadores têm dificuldade em identificar-se com as ideias apresentadas ou com as próprias empreendedoras, sofrendo daquilo que se pode chamar de affinity bias ou pattern recognition.

Jenny Lefcourt, partner da Freestyle VC e cofundadora da All Raise, deu um excelente exemplo no podcast da HBR Ideacast, no último mês de maio: quando o Facebook começou a ganhar estatuto, era normal ver-se muito mais investimento direcionado para startups tecnológicas lideradas por jovens universitários brancos que tivessem desistido da faculdade. Ora, a maioria dessas startups falhou, como normalmente acontece. Mas todos os financiadores estavam à procura do próximo Mark Zuckerberg… e ele não era uma mulher.

Esta armadilha do pattern recognition tem uma origem: em agosto de 2020, de acordo com os dados do World Economic Forum, apenas 12% dos financiadores de venture capital são mulheres. Ora, num mundo de financiamento conferido com base em redes de contactos e afinidades, em que uma empreendedora tem de convencer uma audiência de que a sua ideia e o seu projeto é melhor do que os demais, ajuda ter uma audiência sensibilizada para as questões de género que o venture capital traz.

  • Inês Palma Ramalho
  • Advogada e vice-presidente do PSD

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