A transformação digital, numa visão integrada, não pode esperar

  • Gabriela Teixeira
  • 27 Julho 2021

Para muitas empresas a transformação digital já não pode esperar mais, pois tal pode comprometer a sua competitividade.

Após um ano e meio de pandemia global, encontramo-nos ainda perante alguma incerteza ao nível social e económico entre outras. Ainda atravessamos uma era sem precedentes, com novos desafios por endereçar e torna-se claro que o caminho para a recuperação não será, nem linear, nem homogéneo, que depende de diferentes realidades, nas várias regiões e setores e que pede respostas à escala local.

Um dos elementos chave, que as empresas mais resilientes tiveram, foi o aumento do seu nível de transformação digital. A digitalização ganhou uma relevância exponencial para diversos setores de atividade e empresas e, para 48% dos CEO, a rapidez das alterações tecnológicas converteu-se numa das suas principais ameaças. O consequente aumento da preocupação dos CEO com as ameaças cibernéticas e a desinformação coincide com esta rápida aceleração da transformação digital durante a pandemia, esforços e projetos que não estão a abrandar.

De acordo com o Global Digital Trust Insights 2021, da PwC, 40% dos gestores referiram ter intensificado o ritmo de digitalização nas suas empresas, pondo em prática novas estratégias. 21% estão a modificar os seus modelos de negócio e a redefinir o seu funcionamento e 18% estão a procurar entrar em novos mercados e/ou setores de atividade.

A acompanhar esta necessidade, de acordo com o Global CEO Survey, 94% dos CEO portugueses estão a planear aumentar o seu investimento de longo prazo para transformação digital e, apesar do nível de preocupação registado sobre ciberataques, menos de metade preveem mesmo aumentar o seu investimento em 10% ou mais.

Os dados acima indicam claramente que as empresas estão a apostar na transformação digital como um dos pilares mais significativos de resposta ao atual contexto económico e de aposta futura. A transformação digital, nas empresas e nos organismos do Estado, já não é só uma decisão estratégica mas sim uma realidade necessária. E que requer um aumento do investimento e novas formas de financiamento.

Se decisões de elevada magnitude não são fáceis de tomar, em especial num período de forte incerteza, o surgimento dos fundos europeus pode ser um fator decisivo nesta avaliação.

Muitas vezes ouvimos as empresas referirem que têm em curso a sua transformação digital simplesmente porque já têm vários programas digitais transversais a decorrer. Esperam que todos estes programas, juntos, transformem a organização num negócio digital. No entanto, a abordagem que permite uma transformação digital de sucesso é a que se inicia com uma visão clara de onde as empresas querem estar e desenvolver a abordagem integrada desde essa visão.

Ao terem uma visão clara de onde querem estar, como pretendem criar valor e, acima de tudo, como se vão diferenciar dos seus concorrentes, permite-lhes trabalhar a partir daí e priorizar as iniciativas e identificar quais as que criam soluções sustentáveis e de maior valor acrescentado. Esta abordagem é muito diferente de apenas definir programas de transformação digitais isolados na empresa e com base nestes programas definir a tecnologia necessária para implementar.

Uma das formas de financiamento do país será, sem dúvida, o novo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que prevê um valor de 2,9 mil milhões de euros para apoiar a transição digital do país, dos organismos do Estado e das empresas portuguesas, com foco na criação de competências, empreendedorismo digital e transformação dos modelos de negócio.

A competitividade de Portugal e do seu tecido empresarial passa por aqui.

A dimensão Transição Digital destina-se à capacitação do desenvolvimento de uma economia mais assente no digital e a sua relevância foi aumentada pela atual pandemia. Esta dimensão enquadra-se nas orientações da Construção do Futuro Digital da Europa, com o Pacto Ecológico Europeu, e divide-se em cinco componentes: Empresas 4.0, Qualidade e Sustentabilidade das Finanças Públicas, Justiça Económica e Ambiente de Negócios, Administração Pública – Capacitação, Digitalização e Interoperabilidade e Cibersegurança, e Escola Digital. Outras possíveis fontes de financiamento são os fundos do Portugal 2020, Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e do Plano de Recuperação Europeu (Next Generation EU) que deverão permitir a Portugal beneficiar de um volume significativo de fundos, a ser aplicados ao longo dos próximos nove anos na recuperação e expansão da economia nacional, em parte através do apoio às empresas e organismos do Estado.

De facto, a digitalização e inovação de processos, produtos e serviços representam um fator determinante na transformação do país e caracterizam todas as políticas de reforma existentes. Os vários planos prevêem a implementação de estratégias destinadas a recuperar o atraso acumulado neste domínio e a promover investimentos em tecnologias, infraestruturas e processos digitais.

Da nossa experiência, e se quisermos ir um pouco mais ao detalhe, no âmbito dos apoios para a transição digital, as empresas necessitam de elaborar os seus projetos, por exemplo, para definição e adoção de modelos de negócio de matriz digital (maior presença online, marketing digital, ecommerce, soluções cloud, etc), apoio à capacitação tecnológica, adequando a cibersegurança, a privacidade e interoperabilidade dos sistemas que fazem parte da cadeia de valor das empresas, implementar programas que assegurem a segurança dos dados, bem como a privacidade, a promoção da tomada de decisão baseada em informação tratada com recurso a ferramentas tecnológicas, a capacitação de processos de decisão baseados em dados e modelos de gestão com qualidade que permitam aumentar a monitorização dos eventos e potenciar a melhoria contínua e a capacidade de resposta “quase em tempo real e em contexto” ou o desenvolvimento de novas soluções e produtos digitais.

Para muitas empresas a transformação digital já não pode esperar mais, pois tal pode comprometer a sua competitividade. Ao terem uma visão clara da sua estratégia digital, de uma forma integrada, a tecnologia também deve ser definida tendo como base esta visão integrada, não esquecendo os temas da cibersegurança para sua proteção.

Adicionalmente, para o sucesso de uma efetiva transformação digital, as pessoas e as competências são vitais e não podem ser esquecidas. É crítico envolver as pessoas na definição da visão da empresa e partilhar com elas. É importante que as pessoas percebam qual o seu papel e contributo na transformação digital e que tenham oportunidades de fazer o upskilling das suas competências, adequando os seus conhecimentos às necessidades das suas empresas.

Os modelos de negócio, após uma transformação digital, não serão apenas mais rentáveis, mas também completamente diferentes, mais dinâmicos e mais inovadores.

É portanto necessário planear o amanhã, com resiliência e sentido de oportunidade. Para fazer parte desta mudança e a concretizar, os gestores terão que ganhar novos pontos de vista, repensar estratégias, nomeadamente a digital e fazer uma avaliação constante do impacto das suas decisões e ações. Não só nos temas internos, mas também nos temas que podem afetar as comunidades onde se inserem. Ao fazê-lo irão definir um rumo que construirá confiança e proporcionará resultados sustentados para todos os stakeholders envolvidos e também para a sociedade.

  • Gabriela Teixeira
  • Consulting Lead Partner da PwC

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