Em cenário de pandemia, a forte procura por bicicletas poderá levar a Miranda a registar "o melhor ano de sempre". Para fazer face à procura, investiu 15 milhões na ampliação da fábrica.
A Miranda Bike Parts nasceu em 1950 e passados 71 anos assume-se como o maior fabricante da Europa em componentes de transmissão para bicicletas. Exporta 85% da produção para todo o mundo, principalmente para a Europa a Ásia. No seu leque de clientes estão as principais marcas mundiais de bicicletas como a KTM, Decathlon, Canyon Bicycles, Trek, SCOTT, entre muitas outras.
Para fazer face às encomendas, a fábrica trabalha 24 horas durante cinco dias por semana. Ao entrar na fábrica o olhar vai imediatamente para a maquinaria pesada. Grande parte da produção de componentes é automatizada, mas é a mão humana dos mais de 200 colaboradores que fica encarregue pelo acabamento final das peças.
A Miranda exporta milhões de componentes de transmissão, desde sistemas de mudanças, cranques, travões, rodas dentadas, entre outros. O “produto-estrela” da casa são os cranques. Todos os produtos produzidos na Miranda são testados em laboratório e também através de testes de uso diário por equipas de competição. “Queremos garantir que o nosso produto é inquebrável”, destaca João Miranda, diretor de marketing e neto do fundador.
Todas as peças acabadas são inspecionadas pelos trabalhadores. João Miranda conta que metade da equipa é composta por mulheres tendo em conta que é um trabalho minucioso e as mulheres são “mais perfeccionistas”. Maria do Carmo Gaio é um desses exemplos.
Trabalha na Miranda Bike Parts há 47 anos e foi o único trabalho que teve na vida. Maria do Carmo Gaio conta que na fábrica já fez de tudo um pouco, à exceção das máquinas CNC. Apesar do amor à camisola, vai reformar-se dentro de duas semanas e vai deixar as pedaleiras para dedicar-se aos netos. “Esta foi sempre a minha casa e vou embora com o sentimento de missão cumprida”, conta ao ECO bastante emocionada.
Todo o trabalho desenvolvido é realizado no chão da fábrica, desde o polimento até à pintura final até chegar ao produto acabado. “Não temos que subcontratar serviços a ninguém. A barra de alumínio chega às nossas instalações e no fim da linha a peça sai montada exatamente como o cliente quer. Com esta autonomia somos altamente competitivos em relação à Ásia, tendo em conta que temos um controlo absoluto no processo e em cada etapa de fabrico existe um controlo absoluto”, destaca João Miranda, que pertence à terceira geração deste empresa familiar.
Apesar do cenário de pandemia, a Miranda está convicta que 2021 será “o melhor ano de sempre da empresa” ao conquistar um volume de negócios de 27 milhões de euros. Esta conquista deve-se de forma indireta à pandemia da Covid-19. “Assistimos a uma crescente procura por bicicletas. A necessidade de ter um meio de transporte económico sem correr a transportes públicos, o facto de os ginásios terem fechado durante alguns meses e a necessidade de fazer desportos individuais para cumprir as regras impostas pelo Governo, são alguns dos fatores que fizeram aumentar a procura por este tipo de transporte”, explica ao ECO, João Miranda.
Para além desta realidade, João Miranda conta que outro fator que fez aumentar as encomendas foi o facto de os mercados asiáticos terem parado a produção devido à Covid-19 e os grandes produtores europeus perceberam que tinham que cortar a dependência que tinham da Ásia. Com esta mudança de paradigma, a indústria portuguesa das duas rodas ficou a ganhar.
Fruto do crescimento e do aumento de encomendas, no ano passado, a empresa investiu 15 milhões de euros na ampliação da unidade fabril e na aquisição de novas máquinas para aumentar a capacidade de produção e melhorar os processos de fabrico. A principal missão da Miranda Bike Parts é pedalar até conquistar novos mercados.
Produção automatizada, mas funcionários são a alma da casa
Elias Ferreira da Costa é o funcionário mais antiga da casa e não tem mãos a medir para o trabalho que chega à sua linha de produção. Tem 70 anos e trabalha na Miranda Bike há 56 anos. Apesar de já estar reformado, continua a trabalhar na fábrica e conta ao ECO que é na Miranda que se “sente em casa” e que “gosta mais de estar na empresa que em casa”. Ao longo de uma grande jornada de trabalho, já fez faróis para bicicletas e motos e outros acessórios, mas conta está agora está a produzir pedaleiras para bicicletas.
Recuando um pouco na história da empresa, a Miranda Bike Parts dedicou-se cerca de duas décadas, entre os anos 60 a 80, à produção de componentes para a indústria das motos, numa altura que a produção de componentes de bicicletas foi transportada para a Ásia. Nessa altura, a empresa produzia conta-quilómetros, travões hidráulicos, caixas para os faróis, buzinas, entre outros. Elias Ferreira da Costa conta com orgulho que ainda é desse tempo e que chegou a produzir esse tipo de componentes.
Para João Miranda, esse tipo de componentes “acabaram por dar à empresa um know-how que ainda hoje nos ajuda em outro tipo de componentes direcionados às bicicletas”, refere o diretor de marketing.
Componentes para bicicletas elétricas ganham terreno
A investigação e desenvolvimento (I&D) é uma área crítica dentro da empresa. Fruto desta aposta, a Miranda Bikes tem mais de 50 patentes a nível internacional. Em, 2018 a Miranda Bike Parts criou a primeira pedaleira modular no mundo, a XMOD.
O futuro é elétrico e a procura crescente por bicicletas elétricas tem contribuído para o crescimento da empresa familiar. Este tipo de componentes é o core business da Miranda e já representam cerca de 70% do volume de negócios.
“Quando apareceram empresas de bicicletas elétricas na Alemanha, 70% a 80% das bicicletas que se viam nas feiras internacionais já tinham componentes da Miranda. Quando foram apresentadas as primeiras bicicletas elétricas com motor da Bosch nós já tínhamos os componentes até nesta multinacional. Fomos pioneiros e temos criado sempre soluções neste âmbito”, destaca João Miranda.
A fileira portuguesa das duas rodas tem cada vez mais destaque a nível internacional e continua a bater a concorrência europeia. Este ano, Portugal voltou a conquistar o título de campeão europeu na produção de bicicletas. Em 2020, foram produzidas cerca de 12,2 milhões de bicicletas em todo o bloco comunitário. Em 2020, saíram das fábricas portuguesas 2,6 milhões de bicicletas. Para o neto do fundador, esta conquista deve-se essencialmente à experiência, preço/qualidade e vantagem competitiva.
Miranda Bike é uma empresa amiga ecofriendly
A Miranda Bike Parts é uma empresa amiga do ambiente. A empresa familiar conta com mais de 1.300 painéis solares na unidade fabril localizada em Águeda, o que corresponde a 25% da energia consumida. A restante energia advém de energia verde e toda a iluminação da empresa é LED. O diretor de marketing garante que a energia elétrica é 100% proveniente de energia renovável.
O neto do fundador destaca que as emissões de CO2 da empresa já estão praticamente perto do zero. Para além da energia e do reaproveitamento de água, todo o excedente de plásticos e alumínio são reaproveitado.
Em relação às apostas para o futuro, o objetivo da Miranda é continuar a alargar o leque de componentes de transmissão e em setembro vai lançar numa loja online, mais direcionada para o cliente final. “A finalidade desta loja é garantir ao cliente final que consiga facilmente substituir um componente de transmissão na bicicleta sempre que necessário”, explica João Miranda.
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Procura desenfreada por bicicletas dá “melhor ano de sempre” à Miranda
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