Judo “oferece” três medalhas ao país mas não consegue atrair marcas

Depois de ganhar bronze em judo, Jorge Fonseca questionou a falta de patrocínios na modalidade. Com várias medalhas e milhares de praticantes o que explica o desinteresse das marcas?

De kimono azul e algo desiludido pela derrota diante de Cho Guham nas meias-finais de judo na categoria de -100 kg nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Jorge Fonseca regressou ao tatame com uma missão: uma medalha. Ganhou bronze. E, com “um grande beijinho”, o bicampeão atirou críticas à Puma e Adidas, por não o terem patrocinado. Será que as medalhas conquistadas pelo judo não são suficientemente brilhantes para atrair as marcas? “Qualquer jogador mediano de futebol da Liga Portuguesa consegue dar mais retorno que um bicampeão do mundo de Judo e isto é uma má notícia”, diz Daniel Sá, diretor executivo do IPAM e especialista em marketing desportivo.

“Quero dedicar esta medalha aos dirigentes da Adidas e à Puma, porque me disseram que não tinha capacidade para ser representado. Sou bicampeão do Mundo, terceiro [classificado] nos Jogos Olímpicos, o que é preciso mais demonstrar para ser patrocinado pela Adidas e pela Puma?“, atirou Jorge Fonseca em declarações à RTP.

O que dizem as marcas?

Um discurso que não tardou a viralizar nas redes sociais. A Adidas reagiu. “Queremos dar os parabéns ao atleta Jorge Fonseca pela sua medalha de bronze. Ele teve um desempenho incrível para vencer o combate final, que é uma conquista extraordinária. Enquanto marca de desporto, procuramos apoiar todos os atletas com os nossos produtos, ajudando-os na conquista dos seus objetivos desportivos”, disse fonte oficial da marca, citada pela Sábado. No entanto, ressalva, no que “a contratos de patrocínio diz respeito, por muito que gostássemos de apoiar um maior número de atletas, muitas vezes temos que tomar algumas decisões difíceis sobre com quem podemos trabalhar. O atleta Jorge Fonseca é extremamente talentoso e desejamos-lhe os maiores sucessos desportivos no seu futuro.”

Nos Jogos Olímpicos, a Adidas patrocina, por exemplo, Nelson Évora, campeão do mundo do triplo salto em 2007 e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, e que tem nesta edição dos Jogos a sua última participação.

Já a Puma apoia Patrícia Mamona e o Pedro Pablo Pichardo, atletas do triplo salto. Contactada pelo ECO a marca não quis comentar este tema.

O que explica o afastamento das marcas do judo?

Mas ‘o grande beijinho’ de Jorge Fonseca levantou a questão: porque é que apesar de a modalidade já ter “oferecido” a Portugal três medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos (1986, 2016 e agora em 2021) e inúmeros títulos de campeão europeu e mundial, nenhum dos oito judocas que rumaram a Tóquio é patrocinado?

Visibilidade do atleta e da sua modalidade junto do grande público são fatores tidos em consideração pelas marcas na hora de pesar os prós e contras do seu investimento. E nessa ponderação o judo perde para outras com maior exposição. “O patrocínio é um negócio. As marcas olham para isto [os patrocínios] como uma vertente do seu negócio. Quando uma marca decide investir mil, dez mil, 100 mil ou um milhão de euros num atleta, a marca quer retorno“, diz Daniel Sá, diretor executivo do IPAM e especialista em marketing desportivo, em declarações ao ECO.

Quase que diria que qualquer jogador mediano de futebol da Liga Portuguesa consegue dar mais retorno que um bicampeão do mundo de Judo e isto é uma má notícia.

Daniel Sá

Especialista em marketing desportivo

Retorno que depende em grande parte da visibilidade que um atleta tem. As marcas desejam um desportista que “tenha uma presença mediática grande, tenha performance desportiva e que dê inserções em jornais, revistas, internet, televisão”, diz o especialista em marketing desportivo. No caso de Jorge Fonseca apesar de fazer críticas “legítimas pois é um atleta que é bicampeão do mundo e atual vencedor de uma medalha Olímpica”, o atleta não recebeu o patrocínio “porque seguramente as marcas fizeram o cálculo e não veem o retorno necessário ao investimento que teriam de fazer.”

Daniel Sá dá como exemplo a grande discrepância existente, em termos de retorno, entre o desporto rei em Portugal, o futebol, e o judo. “Quase que diria que qualquer jogador mediano de futebol da Liga Portuguesa consegue dar mais retorno que um bicampeão do mundo de Judo e isto é uma má notícia.”

O judo, e não só, não pode viver de exposição mediática. É forte nos Jogos Olímpicos, nos Campeonatos Europeus e nos Mundiais. Não pode viver destes solavancos. São solavancos que lhes dão algum impulso mediático, alguma visibilidade, mas comparando de novo com o futebol, nós temos aqui um impacto literalmente 365 dias por ano, quase 24 horas por dia”, disparou.

Uma discrepância que não é exclusiva dos atletas, mas que se estende às próprias federações das modalidades. Atualmente, a Federação Portuguesa de Futebol tem um total de 12 sponsors enquanto a Federação Portuguesa de Judo (FPJ), apesar de ter 14.056 praticantes e 249 clubes inscritos em 2020, segundo o relatório e contas da FPJ, tem apenas um: os Jogos Santa Casa.

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