Ex-TAP criam super virtual que leva compras até casa “a voar”

Startup portuguesa fundada por ex-comandante da TAP promete entregar compras de casa em menos de uma hora. Hoogloo quer expandir área de cobertura e está a contratar.

Há um novo concorrente no negócio das dark stores: a Hoogloo. Quer seja uma barra de chocolate ou as compras de mercaria para todo o mês, esta startup portuguesa promete fazer voar as encomendas do armazém até à porta da sua casa, com entregas em menos de uma hora e sem intermediários.

Não é mero acaso que, por detrás desta ideia, estejam dois ex-trabalhadores da TAP. João Alves, 39 anos, é o fundador e foi quadro da companhia aérea nacional durante mais de 15 anos, tendo desempenhado a função de comandante até há bem pouco tempo, em março de 2021. Maria Francisca Afonso, diretora de operações da Hoogloo, foi assistente de bordo da TAP durante dois anos, até junho de 2020.

Para já com um armazém na Amadora, nesta primeira fase, a área de cobertura da Hoogloo limita-se a esse concelho, mais Lisboa, Oeiras e uma parte de Sintra. Para aceder à “loja” virtual — através do site ou das aplicações para iOS e Android –, é preciso introduzir na plataforma uma morada dentro de um local abrangido pela cobertura. Só depois é que a Hoogloo permite aceder ao catálogo, prometendo entregas “sempre dentro de uma hora”, desde que feitas entre as 9h e as 23h.

A taxa de entrega cobrada pela Hoogloo é de 2,95 euros e não há uma “quantidade mínima” de produtos. “Nos pedidos abaixo dos 19,95 euros, temos uma taxa adicional de dois euros”, lê-se no site da startup, enquanto as compras superiores a 50 euros “escapam” a esta taxa. As categorias de produtos já disponíveis vão da saúde e bem-estar aos congelados, mas também produtos biológicos e até alimentos para animais. Mercearia em geral.

A Hoogloo tenta ainda captar a atenção dos clientes com descrições irreverentes em todos os produtos: sobre o leite Matinal, escreve: “Diz Matinal, mas podes beber à tarde e à noite.” Acerca da manteiga Milhafre, nota: “Se conheces alguém que não goste de manteiga barrada num pão quente, por favor envia um e-mail para essapessoa@nãoexiste.com.”

Para um piloto, “o céu é o limite”

A ideia que deu origem à Hoogloo surgiu em plena pandemia: “Queríamos fazer compras e não existia nada que fosse ao encontro das nossas expectativas. Ou eram os supermercados e as filas, e ficávamos à espera, ou os serviços online eram antiquados”, conta ao ECO o fundador e CEO, João Alves. Detetada a oportunidade de negócio, juntou uma equipa e meteu mãos à obra: “A ideia foi esta: criar uma marca divertida, com irreverência, uma aplicação funcional e conseguir captar clientes por aí.”

Experiência era “zero”, diz João Alves. “Nenhum de nós tinha experiência em logística”, confessa o ex-comandante. Mesmo assim, com a ajuda de consultores, “muita leitura e networking“, foi possível “ir à luta”. A Honesthorizon Lda. foi constituída oficialmente a 30 de setembro de 2020, “integralmente com capitais próprios”, e o serviço foi oficialmente lançado a 9 de agosto deste ano.

“Neste momento, somos nós que estamos a entregar” as encomendas, explica João Alves, quando questionado acerca das operações da empresa. Com uma campanha de comunicação prestes a arrancar, e esperando-se um aumento no volume de clientes, existem três alternativas para as entregas rápidas da Hoogloo: os serviços de um parceiro, a capacidade excedente oferecida por empresas tipo “Uber” ou trabalhadores independentes que se inscrevam para fazer as entregas da empresa.

A Hoogloo é, sobretudo, uma aposta a longo prazo de que o crescimento do comércio eletrónico veio para ficar, incluindo no retalho alimentar. À pergunta de “onde vê a startup daqui a uns anos”, João Alves responde: “Para um piloto, o céu é o limite.” O objetivo, por agora, é expandir a cobertura na Grande Lisboa, abrir mais armazéns, contratar mais gente para a equipa e, depois, rumar em direção ao Porto.

Dark stores saem da escuridão

Sendo um conceito pouco conhecido até à chegada da pandemia, a Hoogloo é mais uma dark store a operar no mercado português. Este tipo de negócio pode ser comparado, no caso do retalho alimentar, a supermercados virtuais localizados em armazéns: os estafetas entram, recolhem os produtos das prateleiras e entregam a mercearia diretamente na casa dos clientes.

Assim, à Hoogloo juntam-se outras plataformas concorrentes, mas estrangeiras. Em junho, o ECO noticiou a chegada a Portugal de duas dark stores, a Blok e a Gorillas, respetivamente, espanhola e alemã. Além disso, a Glovo, que também é espanhola, tem vindo a expandir a presença em Portugal e planeia ter 16 dark stores a funcionarem no país.

A Hooglooo concorre ainda com as lojas online das maiores insígnias do mercado, como é o caso do Continente Online. Isto porque um litro de leite comprado num grande hipermercado é um litro de leite que não é encomendado de uma dark store, como a Hoogloo.

De resto, foi notório o efeito que os confinamentos tiveram no comércio eletrónico, sobretudo nas encomendas de alimentos. À semelhança do que aconteceu um pouco por todo o mundo, muitos portugueses perderam o receio de encomendarem comida pela internet, acelerando a digitalização do retalho em vários anos.

A título de exemplo, em novembro do ano passado, Ricardo Batista, diretor-geral da Glovo em Portugal, falava num crescimento de 150% da plataforma desde o início da pandemia. Outro exemplo é o Mercadão, que faz as entregas online do Pingo Doce: em janeiro, por ocasião do segundo confinamento, fonte oficial da marca disse ao ECO que a operação cresceu mais de 700% desde o início da pandemia. A comida dos portugueses vai, assim, continuar chegar cada vez mais pelo “correio”.

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