O deputado liberal diz que a remodelação do Governo é necessária para dar um sinal de responsabilização e meritocracia à sociedade portuguesa. E deixa cair a ideia de que haverá eleições antecipadas.
Já arrancaram as negociações para o Orçamento do Estado 2022 (OE 2022), num ano que será marcado pelas eleições autárquicas, que podem mudar o xadrez político. Ao longo deste verão quente o ECO vai ouvir Governo, partidos, parceiros sociais e empresários sobre um Orçamento que ainda não tem aprovação garantida e que está a ser desenhado no meio de uma pandemia. Leia aqui todos os textos e as entrevistas, Rumo ao OE.
João Cotrim Figueiredo considera que o Governo está a usar o “medo” das pessoas como “arma política” para colocar-se como uma “espécie de salvador” do país, “infantilizando a população portuguesa”. “Foi fomentada esta atitude do medo e a continuar pode eternizar-se e transformar a retoma económica que precisamos como de pão para a boca em algo ainda mais difícil“, ataca o deputado da Iniciativa Liberal em entrevista ao ECO, assinalando que Portugal não pode continuar a viver na “ditadura do medo”.
Quanto a uma remodelação do Executivo liderado por António Costa, o também presidente do partido nota que mais importante do que os ministros são as políticas, mas considera que a saída dos responsáveis que erraram daria um sinal de “meritocracia” em que quem erra assume as suas responsabilidades. “É mais esse princípio de responsabilização que Portugal também precisa muito“, argumenta João Cotrim Figueiredo.
A IL tem defendido que é preciso reduzir as restrições. O Governo antecipou a retirada de mais regras. Continua a achar que é demasiado lento?
O que nos custa é ver que se usa o medo como arma política para as pessoas, perante o receio que se gerou com a pandemia, olharem para o Governo como uma espécie de salvador. É o Governo quem tem a faca e o queijo na mão no que diz respeito aos cuidados de saúde e aos apoios económicos. Foi uma infantilização da população portuguesa. Foi fomentada esta atitude do medo e a continuar pode eternizar-se e transformar a retoma económica que precisamos como de pão para a boca em algo ainda mais difícil: uma sociedade temerosa, demasiado cautelosa, dominada pelo medo, não vai ser capaz de retomar um ritmo de crescimento significativo. Temos que nos habituar a viver com o vírus, com os riscos que ele contém, temos de ser responsáveis e tomar as precauções necessárias, mas não podemos viver permanentemente nesta ditadura do medo que o Governo nos quis impor porque lhe dá jeito.
Se há coisa que este Governo se especializou em fazer é desresponsabilizar tudo e todos e nunca ninguém é responsável por coisíssima nenhuma.
É urgente uma remodelação do Governo?
Mais do que os eventuais erros que se podiam evitar se ministros incompetentes não se mantivessem em funções, mais do que isso era o sinal que se daria à sociedade. Quando alguém é incompetente, quando não cumpre as suas funções, ou quando as cumpre mal e não assume as responsabilidades, o sinal que se deveria dar à sociedade é que essas pessoas devem pagar por isso. No caso dos ministros, devem ser demitidos. É mais esse princípio de responsabilização que Portugal também precisa muito. Se há coisa que este Governo se especializou em fazer é desresponsabilizar tudo e todos e nunca ninguém é responsável por coisíssima nenhuma. Isso é muito grave para o tipo de sociedade que nós queremos construir que é baseada no mérito e faz parte deste saber quando se errou e pagar o preço.
[António Costa] está neste momento mais preocupado a lançar proto candidatos à sua própria sucessão para se libertar para uma corrida presidencial em 2026 do que propriamente em gerir melhor possível os destinos do país.
No final de 2020 disse que o partido teria de estar preparado para eleições antecipadas. Ainda considera que esse é um cenário provável?
Não, essa probabilidade reduziu-se muito e a entrevista do primeiro-ministro ao Expresso explica porquê. Ele tenta, sem grande sucesso, mostrar-se muito entusiasmado com o período que aí vem de execução de fundos europeus e que isso é o desígnio da vida dele e quer muito fazer parte desse caminho, mas percebe-se que foi a incapacidade em 2019 de conseguir concorrer ao cargo europeu que tanto desejava que o obrigou a reconhecer que nesta altura não tem alternativa na cena política. Está neste momento mais preocupado a lançar proto candidatos à sua própria sucessão para se libertar para uma corrida presidencial em 2026 do que propriamente em gerir melhor possível os destinos do país. Aqui há uns largos meses achei que se o PS tivesse hipótese de atingir uma maioria absoluta, o que significaria responsabilizar terceiros pela eventual queda do Governo, acho que o teria feito porque é uma máquina de ganhar eleições e de propaganda muito eficaz. Neste momento, já não acho.
A 26 de setembro a IL vai estrear-se nas autárquicas. Qual é a expectativa do partido?
É de facto a primeira vez que a Iniciativa Liberal disputa as autárquicas e esta vai ser a última vez que vamos poder dizer isto porque depois desta eleição já teremos disputado todas pelo menos uma vez. Não houve um referendo desde que o partido existe, mas de resto fomos a todos os atos eleitorais. Não temos uma referência histórica sobre o que seria um bom ou mau resultado: numericamente é difícil dizer o que é um bom resultado. Politicamente sabemos que queremos fazer como nas presidenciais para afirmar a competência das pessoas que se candidatam. Queremos mostrar que a nível local também existe uma alternativa liberal a esta visão mais estatizante e coletivista.
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Remodelação do Governo daria um sinal à sociedade de meritocracia, defende João Cotrim Figueiredo
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