Desigual propõe redução da jornada laboral a 93% dos colaboradores
No setor têxtil espanhol, a empresa é a primeira a considerar esta medida. A 7 de outubro os colaboradores vão votar para decidir a sua implementação.
Há mais uma espanhola a considerar reduzir a semana de trabalho. Desta vez, é a Desigual — pioneira no setor têxtil espanhol — que está a estudar a possibilidade de avançar com uma medida muito próxima da semana laboral de quatro dias. A redução será votada pelos funcionários a 7 de outubro. Se receber, pelo menos, 66% de votos a favor, será implementada na empresa de moda catalã fundada por Thomas Meyer.
A medida abrange mais de 500 trabalhadores dos escritórios de Barcelona e também dos centros de distribuição e produção de Viladecans e Gavá, o que representa um total de 93% dos colaboradores abrangidos. Ficam de fora as equipas comerciais e de operações, para as quais a companhia está a desenvolver outras medidas que promovam o bem-estar e a conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal, avança o Cinco Días (acesso livre, conteúdo em espanhol).
“Queremos que as pessoas trabalhem mais felizes, e queremos ser mais atrativos para reter o talento que temos em casa e atrair o que está fora. A jornada de quatro dias vai fazer com que sejamos mais competitivos“, afirma Alberto Ojinaga, diretor-geral da Desigual ao jornal espanhol.
A avançar com esta medida, a jornada semanal na companhia não seria exatamente repartida entre quatro dias da semana, daria origem a uma redução da carga horária em cinco horas, passando de 39,5 a 34,5. Esta diminuição, de cerca de 13% das horas, implicaria um corte salarial de 6,5% para cada trabalhador.
“Não estimamos poupanças, nem custos adicionais. Não se trata de uma medida para reduzir salários. Há um ano e dois meses que trabalhamos nela e só decidimos, finalmente, apresentá-la porque vamos conseguir o objetivo do ano, que é voltar a ser rentáveis”, refere o líder da empresa, que, no ano passado, com o embate da pandemia, acabou por perder 80 milhões de euros.
Das horas que se perderão, haverá coisas que deixemos de fazer; outras que faremos de forma mais eficiente; outras que teremos de reforçar e contratar. É uma decisão valente, disruptiva e pioneira.
Na maioria dos casos, os colaboradores passariam a trabalhar de segunda a quinta-feira. No entanto, cerca de 10% dos funcionários fariam o horário de terça a sexta-feira, de forma a manter alguns serviços nas lojas. “Das horas que se perderão, haverá coisas que deixemos de fazer; outras que faremos de forma mais eficiente; outras que teremos de reforçar e contratar. É uma decisão valente, disruptiva e pioneira”, afirma Alberto Ojinaga.
A Covid-19 acabou por ser o “pontapé de saída” para a decisão. A pandemia mostrou que “há formas diferentes de trabalhar e de fazer as coisas, continuando a ser eficientes”. “Acreditamos que a tendência natural será no sentido deste tipo de iniciativas. O que estamos a fazer é colocarmo-nos na vanguarda, que é o que mais gostamos na Desigual”, diz Alberto Ojinaga.
Antes da data da votação final, a empresa iniciará um projeto-piloto, para comprovar a efetividade da medida e a recetividade da mesma entre os trabalhadores. “Acreditamos que vai agradar à maioria dos trabalhadores”, admite o diretor-geral da empresa. Se sair aprovada da votação, a sua implementação será quase imediata.
Em Espanha, a semana de trabalho de quatro dias começa a não ser uma extravagância. Há alguns meses, a Telefónica Espanha tornou-se a primeira espanhola a abrir a porta a este modelo, de forma voluntária, com um projeto-piloto de três meses previsto de outubro de 2021 até ao final do ano. Os colaboradores interessados puderam inscrever-se no teste até ao início de setembro.
Ainda poucos, mas já há casos em Portugal
Além de Espanha, outros países começam a equacionar a semana de quatro dias de trabalho e a tomar posições mais demarcadas. A Islândia já testou o modelo e considerou-o um “sucesso esmagador”. O Japão começou a pressionar os empregadores a optarem pela redução da semana de trabalho, na sequência de uma série de novas orientações económicas, que surgem ano e meio depois de a pandemia ter obrigado a alterações profundas no mercado.
Em Portugal, a questão será contemplada no Livro Verde sobre o Futuro do Trabalho. Enquanto isso, embora timidamente, algumas empresas começaram a dar os primeiros passos neste sentido. A Feedzai, inspirada pela experiência na Islândia, decidiu trabalhar, durante o mês de agosto, apenas quatro dias por semana. Agora, é hora de avaliar o projeto-piloto, que envolveu os cerca de 500 trabalhadores espalhados pelo mundo.
“Depois de agosto, logo se vê se é para manter ou não”, disse Dalia Turner, VP of people do unicórnio nacional numa entrevista que deu à Pessoas a meados de julho.
Também o Doutor Finanças fez o mesmo teste durante o mês de agosto. Apesar de ainda ser “muito prematuro” tirar conclusões, a diretora de recursos humanos da empresa, Irene Rua, confessa, numa conferência organizada esta quinta-feira pela Coverflex precisamente sobre a semana de trabalho de quatro dias, que “o balanço é claramente positivo”.
Na empresa especialista em finanças pessoais e familiares, a decisão foi acelerada pelo contexto pandémico. “O nosso principal driver foi, sem dúvida, o bem-estar e a conciliação da vida das nossas pessoas. Vendo que a medida corria muito bem em países tão díspares, não vimos porque não avançar”, conta.
Terminado o mês de agosto, as equipas voltaram a trabalhar os cinco habituais dias semanais e a empresa vai analisar os resultados, “se serviu os interesses das pessoas e também do Doutor Finanças”, detalha a líder de recursos humanos.
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