A Uber e a crise de identidade
Para uns, é uma empresa de transportes. Outros conhecem-na pelas entregas. Oficialmente, porém, diz-se uma empresa "de tecnologia". O que é a Uber?
A Uber está comprometida com Portugal, mercado que tem servido de rampa de lançamento para produtos como o Uber Green e o Uber Connect.
Na quinta-feira de manhã, a empresa recebeu políticos e jornalistas para a inauguração da nova sede em Lisboa, que fica nas proximidades do Campo Pequeno. Um investimento de “mais de 90 milhões de euros” que junta no mesmo espaço a operação da Uber, da Uber Eats e o centro de suporte para nove países do sul da Europa. O nome: Uber Hub.
São cinco pisos de escritórios e salas de conferências, um ambiente moderno e vários elementos verdes. A mensagem é clara: a Uber encontrou a sua casa de sonho em Portugal e quer assumir-se como uma empresa sustentável. Em 2025, todos os “Ubers” serão elétricos.
Nas entrelinhas, a mensagem é outra: o teletrabalho não veio para ficar, pelo menos de forma permanente. “Não acho que o trabalho remoto seja uma coisa passageira. Acredito que vai ser parte da realidade no futuro, mas também é necessária uma componente de trabalho em equipa”, admite o boss, Manuel Pina.
Voltar ou não voltar ao escritório é uma decisão que ainda não está tomada e o futuro é “incerto”, atira o diretor-geral. Mas há uma clara inclinação da Uber para a adoção de um modelo híbrido de trabalho, parte em casa e outra parte no escritório.
Para já, uma coisa é certa: até janeiro, os operacionais da Uber (aqueles que se sentam atrás de um ecrã e não os que se sentam atrás do volante) podem continuar a escolher “se” e “quando” ir ao escritório. Depois, logo se vê.
A distinção entre os trabalhadores da Uber e os demais é relevante. Em Portugal, a Uber não reconhece motoristas e estafetas como assalariados da empresa. São trabalhadores independentes. E isso tem vantagens (flexibilidade nos horários) e desvantagens (perda de alguns direitos).
É um modelo de negócio que tem sido posto em causa noutros mercados, como o do Reino Unido. Em março, depois da derrota judicial, a empresa passou a oferecer a mais de 70 mil motoristas um salário mínimo e férias pagas. Este mês, na Holanda, um tribunal também considerou que os motoristas da Uber são trabalhadores dependentes. A empresa vai recorrer da decisão.
Por cá, as questões laborais da “economia da partilha” estão a ganhar relevância no plano político. Mas há um ponto notório: sobre se a Uber é uma empresa de transportes ou uma empresa de entregas, Manuel Pina responde, com convicção, que a Uber é uma empresa “de tecnologia”. Leia-se, não tenciona juntar à folha de pagamentos milhares de motoristas e estafetas de um dia para outro.
É discutível: a Uber vive numa permanente crise de identidade que lhe é muito conveniente. Mas já está habituada a estas coisas. Quando entrou em Portugal, em 2014, era um negócio novo a funcionar à margem da lei. Isso mesmo lembrou Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa, na inauguração da nova sede.
Felizmente, a lei evoluiu e a Uber também. Hoje, é um negócio mais maduro e diversificado. E até recebe secretários de Estado nas suas instalações.
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