“Colocámos a Greenvolt no mercado em cinco meses”, diz Manso Neto
A nova empresa da Altri chega hoje ao PSI-20. O CEO, João Manso Neto, nomeado para os prémios IRGAWards, assinala o "tempo recorde" que demorou a levar a empresa para a bolsa, "em plena pandemia".
João Manso Neto, CEO da Greenvolt desde março, é um dos nomeados na categoria de melhor CEO na relação com os investidores da 33ª edição dos Investor Relations and Governance Awards (IRGAwards), uma iniciativa da Deloitte, ainda pelo trabalho à frente da EDP Renováveis, que liderou desde 2006.
Agora na empresa do grupo Altri, que esta segunda-feira se estreia no principal índice da Bolsa de Lisboa, realça o trabalho feito nas circunstâncias difíceis da pandemia: “Em cinco meses, em conjunto com a equipa, com o suporte dos acionistas e apoiado em assessores e consultores experimentados, realizamos um roadshow digital, captamos o interesse de uma grande diversidade de investidores e colocamos a empresa no mercado“.
Sobre Portugal, diz que o essencial do “nosso atraso e divergência face à generalidade dos países europeus (…) passa pela não eficiente canalização e transformação dos fundos existentes em projetos produtivos, públicos ou privados”. E defende uma mudança de mentalidades: “Não decidir é também decidir, só que é a pior metodologia”.
Qual foi a sua principal aprendizagem enquanto líder durante o período da pandemia?
A pandemia mostrou ser possível que parte relevante do trabalho de muitas profissões pode ser realizado em teletrabalho o que, potencialmente, evidencia que, sem sacrifício da produtividade, há condições para evoluir positivamente na conciliação entre a vida familiar e laboral. Mas também tornou óbvias as limitações do teletrabalho, sendo que o contacto direto quer entre os colegas quer com os fornecedores e clientes traz uma dinâmica e uma riqueza não substituíveis. Soluções equilibradas serão, portanto, as ótimas.
Não sendo, portanto, as condições de trabalho realizado em pandemia as ótimas, a segunda ideia que gostaria de transmitir é que havendo clareza de ideias, espírito de equipa e trabalho, é possível, mesmo em condições difíceis, realizar projetos exigentes e difíceis.
Efetivamente, em plena pandemia tive a oportunidade de participar na construção de um novo projeto, rodeado de profissionais focados e sólidos e que num tempo recorde o concretizou: a Greenvolt. Em cinco meses, em conjunto com a equipa, com o suporte dos acionistas e apoiado em assessores e consultores experimentados, realizamos um roadshow digital, captamos o interesse de uma grande diversidade de investidores e colocamos a empresa no mercado. Neste rápido processo contamos também com uma colaboração estreita das autoridades, nomeadamente da CMVM e com total envolvimento da Euronext Lisboa. A Greenvolt é hoje a prova que, apesar de um contexto desafiante, há sempre espaço para criação de valor e que não há impossíveis nem desculpas para não fazer.
O tema da edição deste ano dos IRGAwards é o foco da gestão das empresas nas características humanas e sustentáveis. Concorda que a geração de retorno para os acionistas deve estar lado a lado com o retorno para a sociedade naquilo que é o propósito das empresas?
O propósito das empresas é criar valor, nomeadamente económico, porque sem criação de valor não há muito que reste para distribuir. Embora muito em voga nos últimos anos, devido à aceleração das alterações climáticas entre outros fatores, a sustentabilidade seja ela económica, financeira ou ambiental, há muito que faz parte das preocupações das boas organizações.
Certo é que, durante um certo período, o foco esteve quase exclusivamente na remuneração dos capitais, mas nem sempre foi assim. Se recuarmos umas décadas, verificaremos que milhares de empresas prioritizaram as suas pessoas e a comunidade, devolvendo à comunidade uma parte substancial do valor criado. É, pois, de realçar o regresso a um passado em que a comunidade e as pessoas voltam a ocupar um lugar relevante. Enfatizo, porém, a estrita necessidade, de forma a cumprirem o seu propósito, das organizações serem sustentáveis do ponto de vista financeiro, remunerando adequadamente os capitais envolvidos. Sem essa condição preenchida, a sustentabilidade é uma ficção.
Qual a principal transformação que gostaria de ver Portugal fazer?
Na minha opinião, os problemas que Portugal enfrenta e que justificam o nosso atraso e divergência face à generalidade dos países europeus não resulta nem de uma falta de dinheiro nem, sem prejuízo da necessidade de uma melhoria continua, da escassez ou subqualificação do capital humano empresarial ou laboral. Efetivamente, creio que o essencial do nosso problema passa pela não eficiente canalização e transformação dos fundos existentes em projetos produtivos – privados ou públicos – decorrendo daí um não aproveitamento dos mesmos ou a sua utilização para fins não reprodutivos ou mesmo perversos.
A resolução deste problema passa em larga escala por uma mudança de mentalidades e de metodologias de atuação designadamente em termos de:
- existir um diálogo efetivo entre os parceiros sociais no sentido de os projetos concretos viáveis – sublinho públicos ou privados – serem identificados, prioritizados e implementados.
- haver um consenso de que a primeira prioridade será criar nova riqueza e não a partilha da existente, sem prejuízo, naturalmente do cumprimento dos deveres básicos de solidariedade social e da prevenção da exclusão. Com mais riqueza, a subsequente redistribuição será um exercício muito mais fácil e abrangente.
- se instituir a cultura de que há que, com a melhor informação disponível, tomar decisões com rapidez e risco controlado, rejeitando-se as posições cómodas de, por falta de coragem, arrastar problemas. Não decidir é também decidir, só que é a pior metodologia até porque não fundamentada.
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