“Acredito que Portugal” pode vir “a ser um hub digital”, diz Pablo Ruiz-Escribano

  • Lusa e ECO
  • 4 Outubro 2021

"Acredito que Portugal tem um dos melhores fatores para vir a ser um hub digital, o que tem de fazer é uma estratégia de país", diz Pablo Ruiz-Escribano.

Pablo Ruiz-Escribano, um dos vice-presidentes da Schneider Electric Iberia, considera, em entrevista à Lusa, que “Portugal tem um dos melhores fatores para vir a ser um hub digital“, mas é preciso ter “uma estratégia de país”.

O vice-presidente das áreas de secure power & field services da Schneider Electric para o mercado ibérico afirma que Portugal tem vantagens competitivas e a empresa quer fazer parte do processo de digitalização do país. “Acredito que Portugal tem um dos melhores fatores para vir a ser um hub digital, o que tem de fazer é uma estratégia de país”. Ou seja, Portugal “tem que ter uma estratégia comum que ajude a trazer investimentos e que alinhe todos os diferentes atores da cadeia de valor”.

E quando isso acontecer haverá “um ecossistema que tem uma economia, uma indústria do digital sustentável“, afirma, isto porque atualmente o que existe são “algumas coisas separadas, algumas empresas, alguns grandes projetos de data center [centro de dados], que é infraestrutura necessária para suportar” a transformação digital, “mas não tem tudo interconectado”.

Por exemplo, o projeto Sines 4.0 “é um projeto flagship, mas Portugal não pode ficar como um hub se só tem um flagship, tem que desenvolver uma indústria, um ecossistema, tem de ter uma visão holística“, defende Pablo Ruiz-Escribano.

Portugal “tem um posicionamento geoestratégico e condições: um país estável, onde as pessoas gostam de vir morar, que tem pessoas com boa formação, tem tudo, mas falta uma estratégia comum de país para trazer e alinhar todos os atores e trazer os investimentos“, sublinha o gestor da Schneider Electric. Pablo Ruiz-Escribano destacou a “oportunidade com o PRR [Plano de Recuperação e Resiliência]” para a transformação digital da economia, quer nas indústrias, cidades, edifícios inteligentes.

“Tudo isso será uma fonte para gerar dados que vai alimentar esses grandes hubs que podem ficar aqui [em Portugal] e que vão converter dados em valor”, tornando-se numa “indústria que será sustentável e que vai estar continuamente a crescer“, afirmou.

No entanto, Portugal também tem concorrência, alerta, dando exemplos de Madrid, Marselha e outras cidades que estão a trabalhar na mesma linha”. A transição digital “não é só uma aposta de Portugal, é uma necessidade de Portugal, uma necessidade de todas as economias”, afirma o responsável ibérico da Schneider Electric.

“Há uma necessidade de todas empresas, sejam pequenas, médias e grandes, é uma necessidade sem dúvida da indústria, a tecnologia hoje é muito mais disponível, então para ganhar competitividade, para fazer produto é preciso integrar a tecnologia, é preciso integrar a digitalização no ADN e nos processos das empresas”, continua.

Mas ainda há “muito caminho a percorrer”, as empresas, quer em Portugal como em Espanha, ainda não têm uma estratégia integrada da digitalização, pois ainda estão a “trabalhar em parcelas e não têm uma estratégia holística”. Ou seja, “as empresas estão a trabalhar em silos e, para mim, o que a tecnologia hoje fornece é a possibilidade de mais dados, mas que fluam e sejam conectados entre si” e por isso “acho que temos muito a fazer”.

A Schneider Electric quer fazer parte do processo e, neste momento, está a ajudar os seus clientes, também em Portugal, a “fazer essa transformação” digital. “Estamos a pôr [a experiência do grupo na digitalização] na ajuda às empresas pequenas e médias de Portugal, temos uma equipa ibérica que está a seguir o PRR e o NexGenerationEU” para que os apoios cheguem “ao maior número de empresas possível” e ajudar a definir qual deve ser a estratégia de digitalização”, conta.

A transformação digital “é uma questão de sobrevivência, se uma empresa não tomar agora a decisão para digitalizar, em cinco anos poderá desaparecer”, porque tudo “está a mudar completamente”, sublinha Pablo Ruiz-Escribano. A pandemia, refere, acelerou duas necessidades: “desenvolver um mundo mais sustentável e também um mundo mais digital”. E isso também teve efeitos no modelo de trabalho, que será tendencialmente híbrido. “Acho que o modelo híbrido com flexibilidade ficará como um novo sistema de trabalho”, considera, uma medida que terá impacto no meio ambiente e na sustentabilidade. Em Portugal, a Schneider Electric tem “até três dias de teletrabalho possível”.

Apesar de no ano passado a empresa em Portugal ter sido impactada pela pandemia, este ano está “a crescer mais do que em 2019”, adianta. “A nossa estratégia de digitalização e de sustentabilidade foi reforçada, estamos a ganhar quota de mercado”, acrescenta, salientando que o mesmo está a acontecer em Espanha. Com quase 200 trabalhadores no mercado português, a Schneider Electric prevê o reforço da equipa. Para o próximo ano, a Schneider Electric pretende ampliar a equipa em Portugal com a contratação de aproximadamente 15 pessoas.

“Tenho duas responsabilidades [no mercado português], uma delas é o negócio de secure power, que suporta a infraestrutura crítica para os data centers, sem dúvida gostaríamos de ficar como parceiros estratégicos das empresas no processo de digitalização”, afirma, quando questionado sobre as metas para Portugal.

Além disso, pretende “ganhar quota de mercado” e se Portugal se tornar “um gateway de dados para a Europa, nós queremos acompanhar” o país “nesse processo”. Na área dos serviços, o objetivo é duplicar as receitas.

5G? É crítico que façamos o desenvolvimento o mais rapidamente possível”

Pablo Ruiz-Escribano defende também, em entrevista à Lusa, que “é crítico” que o desenvolvimento da rede 5G seja feita “o mais rapidamente possível”, sob pena de perder a corrida.

O processo de atribuição das licenças em Portugal dura há mais de oito meses, tendo a licitação principal arrancado em 14 de janeiro e, atualmente, nos países da União Europeia, só Portugal e a Lituânia é que não têm ofertas comerciais de 5G (quinta geração).

“É crítico que façamos um desenvolvimento do 5G o mais rapidamente possível porque se não vamos chegar tarde e algumas outras economias vão desenvolver muito mais rapidamente as soluções, as aplicações”, tendo uma vantagem competitiva, considera o vice-presidente de secure power & fiel services para o mercado ibérico da Schneider Electric.

“Para o mercado informático, [o 5G] é uma grande oportunidade”, sublinhou, salientando que esta tecnologia vai impulsionar a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things, em inglês) e algumas aplicações “que hoje parecem um sonho e que vão ser realidade”, salienta Pablo Ruiz-Escribano.

Há grande oportunidade para desenvolver a era da computação, algumas aplicações que hoje não são possíveis, graças ao 5G e à tecnologia ficarão possíveis daqui a poucos anos“, reitera o responsável da Schneider Electric,

Para Pablo Ruiz-Escribano “é um risco” o atraso na implementação da tecnologia. Na tecnologia, atualmente, “se não ficamos na ponta do desenvolvimento corremos o risco de que alguém desenvolva mais rápido e assuma a liderança”, alerta. Por exemplo, os Estados Unidos e a China “tomaram a liderança do comércio eletrónico e dos dados pessoais, agora têm uma posição dominante” com a qual “a Europa não pode competir contra”.

No entanto, “acho que tudo o que tem a ver com dados industriais, dados que tenham a ver com empresas, a Europa ainda tem a possibilidade de ganhar essa batalha” e agora “é o momento de fazer todo esse desenvolvimento”, defende.

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