FMI prevê crescimento de 5,1% em 2022, abaixo do Governo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o PIB português cresça 5,1% no próximo ano, abaixo do previsto pelo Governo no Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022).
Um dia depois de o Governo ter entregue o Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022) com uma previsão de crescimento de 5,5%, o Fundo Monetário Internacional (FMI) atualiza esta terça-feira as suas projeções no World Economic Outlook (WEO) e prevê que a economia portuguesa cresça menos quatro décimas: 5,1% em 2022. Este valor vai ao encontro da previsão da Comissão Europeia (julho) e do Conselho das Finanças Públicas (setembro).
Apesar de ficar aquém da previsão do Executivo, este crescimento fica acima dos 3,9% estimados em abril pelo FMI. Também para 2021 há boas notícias: o Fundo reviu em alta o crescimento de 3,9% para 4,4%, aproximando-se dos 4,8% estimados pelo Executivo na proposta do OE 2022. Com este ritmo de expansão económica, Portugal chega ao nível pré-Covid no início do próximo ano.
Se crescer 5,1%, de acordo com as previsões do FMI, Portugal será o quinto país da Zona Euro que mais crescerá, apenas ultrapassado por Espanha (6,4%), Malta (6%), Letónia (5,2%) e República Checa (5,2%). Face à média da Zona Euro, Portugal crescerá menos em 2021, com o PIB europeu a crescer 5%, e crescerá mais em 2022, com o PIB europeu a crescer 4,3% no próximo ano.
No médio prazo, a expectativa do FMI é que o crescimento da economia portuguesa desacelere até aos 1,8%.
É de notar uma diferença significativa entre as previsões do Governo e do FMI: as do FMI só têm em conta o Orçamento aprovado (o de 2021), ou seja, é em políticas invariantes, tal como os exercícios do CFP, enquanto o Executivo já tem em conta as medidas que incluiu na proposta do OE2022.
No mercado de trabalho, os economistas de Washington concordam que haverá uma melhoria: a taxa de desemprego passará de 7% em 2020 para 6,9% em 2021, caindo novamente em 2022 para 6,7%. O Governo é ligeiramente mais otimista ao ver a taxa de desemprego nos 6,5% em 2022.
Quando à taxa de inflação, o FMI vê esta a fixar-se num valor superior ao que o Governo antecipa: esta deverá ser de 1,2% em 2021 e de 1,3% em 2022.
Em relação às contas externas, o saldo corrente será negativo: -1,7% do PIB em 2021 e 2,1% do PIB em 2022. As previsões relativas ao défice orçamental e à dívida pública serão divulgadas mais tarde com o Fiscal Monitor.
Retoma continua, mas desacelerou
Gita Gopinath, economista-chefe do FMI, escreve neste World Economic Outlook que a retoma económica continua, mas o seu ritmo enfraqueceu por causa da propagação da variante Delta que está a atrasar o regresso total à normalidade. Além disso, as disrupções nas cadeias de valor mundiais estão a durar mais do que o esperado, tendo um impacto superior na inflação em muitos países.
Assim, “os riscos para as previsões económicos aumentaram e os trade-offs [contrapartidas] das políticas tornaram-se mais complexos“, admite Gopinath. É isso que justifica a ligeira revisão em baixa do PIB mundial para 5,9% em 2021 — a qual é mais expressiva em determinados países, principalmente nos mais pobres –, mantendo-se nos 4,9% em 2022.
Mais uma vez, o FMI alerta para a “divergência perigosa” nas previsões económicas entre os países mais e menos ricos. Os economistas do Fundo antecipam que as economias avançadas recuperem a trajetória de crescimento pré-pandémica em 2022, excedendo-a em 0,9% em 2024. Já as economias emergentes e em desenvolvimento, excluindo a China, deverão manter-se 5,5% abaixo da trajetória pré-pandemia em 2024. Estas divergências são explicadas pela desigualdade no acesso a vacinas e a apoios económicos, nomeadamente o acesso a dívida.
No que toca à política monetária, Gopinath alerta que esta tem de andar no fio da navalha entre abordar a evolução da inflação e atentar aos riscos financeiros, mantendo o apoio à recuperação da economia. Porém, o FMI alinha com as perspetivas dos principais bancos centrais: a taxa de inflação vai regressar ao nível pré-pandemia a meio de 2022.
Num apelo final, a economista-chefe do FMI pede que os esforços se concentrem na vacinação nos países onde há falta de vacinas para que não se corra o risco de surgir uma variante resistente às vacinas. “Se a Covid-19 tiver um impacto prolongado no médio prazo, o PIB mundial pode encolher num valor acumulado de 5,3 biliões de dólares nos próximos cinco anos face às nossas projeções atuais“, avisa.
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