Seis propostas para reduzir emissões com o Orçamento do Estado
A ZERO quer um maior acompanhamento do Fundo Ambiental, melhor fiscalidade automóvel e mais economia circular no Orçamento do Estado para 2022.
A associação ambientalista Zero já partilhou com todos os grupos parlamentares e vários ministérios as suas propostas para o Orçamento do Estado de 2022. Agora, espera que as suas propostas possam vir a ser integradas no documento na discussão na especialidade.
“No sentido de promover a transparência e garantir que os investimentos feitos respeitam os objetivos para os quais foi criado, é proposto que o Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) passe a ter um papel mais interventivo no acompanhamento do Fundo Ambiental. Acabar com os subsídios perversos à incineração, promover opções reutilizáveis e incentivar a reparação de equipamentos são as propostas na área da economia circular. Na área da mobilidade, são as alterações à fiscalidade e o progressivo desaparecimento dos apoios aos veículos híbridos plug-in que merecem destaque”, diz a a associação em comunicado.
Estas são as seis propostas da Zero para tornar o Orçamento do Estado mais circular e reduzir as emissões de carbono:
- Assegurar ao Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável um papel ativo e vinculativo na política de alocação dos recursos financeiros do Fundo Ambiental, cujo orçamento vai chegar em 2022 perto dos mil milhões de euros.
- Eliminar os subsídios perversos dados até 2024 (73 milhões de euros) à incineração de resíduos urbanos que prejudicam a Economia Circular, recorrendo para isso a verbas do Fundo Ambiental.
- Reforçar a urgência da transição para a economia circular. Apesar de estar já previsto na Lei do Orçamento de Estado que a partir de 2022 os recipientes para comida terão de pagar uma taxa de 30 cêntimos, defendemos que esta proposta deverá ser reforçada com a duplicação deste valor a cada ano. Assim, em 2023, a taxa deverá ser de 60 cêntimos, devendo 50% do valor ser canalizado para o desenvolvimento de projetos conjuntos de reutilização de recipientes da comida em diferentes cidades do país, envolvendo também as empresas de entregas. Além disso, dado já existirem alternativas, a partir de 1 de julho de 2022, todos os sacos utilizados para colocar frutas, legumes ou outros produtos a granel (excluindo a carne e o peixe) devem ser sujeitos ao pagamento de uma taxa de, pelo menos, 5 cêntimos. Este valor deverá duplicar a partir de janeiro de 2023. O Fundo Ambiental deve também reservar 500 mil euros em 2022 para apoiar municípios que queiram lançar projetos de incentivo à utilização de fraldas ou produtos menstruais reutilizáveis. Este sistema de apoio pode ser sob a forma de vouchers. Os resíduos de têxteis sanitários em Portugal já representam cerca de 8% do total de resíduos sólidos urbanos produzidos anualmente no país.
- Potenciar as reparações de eletrodomésticos, aparelhos elétricos e eletrónicos em vez da substituição de equipamentos. A ZERO propõe que seja reduzida a taxa do IVA associado às reparações de equipamentos
elétricos e eletrónicos, incluindo eletrodomésticos, alterando a mesma de 23% para os 6%, favorecendo o aumento do tempo útil de vida dos equipamentos e reduzindo a sua substituição antecipada. - Alteração dos critérios na fiscalidade automóvel. As emissões de CO2 dos transportes em Portugal têm vindo a subir nos últimos anos, desenquadradas das emissões totais da economia. A ZERO entende que o critério cilindrada está obsoleto, e é redundante com o critério emissões de CO2, pois, em geral, carros com motores maiores têm mais emissões de CO2. É proposto que o peso seja introduzido como terceiro critério no ISV, sob a forma de uma taxa em função do peso do automóvel, passando a mensagem de que é necessário considerar o impacto dos veículos mais pesados – que além de poluírem mais, provocam um maior desgaste nas estradas, acarretam maiores riscos para os peões em caso de atropelamento, são mais ruidosos, e têm uma pegada ecológica de fabrico maior. A taxa deve ser progressiva e aplicada a partir de um determinado valor de peso do automóvel, podendo começar nos 5 euros por kg adicional de peso a partir dos 1.400 kg de peso do veículo, e subindo para os 10 euros/kg a partir de um peso de 1.800 kg.
- Automóveis elétricos. A ZERO entende que os benefícios estatais atribuídos aos híbridos plug-in, sob a forma de ajudas fiscais, devem progressivamente ser eliminados, reservando-os para automóveis 100% elétricos. Atualmente, os híbridos plug-in beneficiam de um desconto de 75% no ISV, que deverá baixar para os 25%; e as empresas só deverão poder rebater metade do IVA, ao invés da totalidade. A ZERO recomenda a aplicação das seguintes condições para estes automóveis acederem aos benefícios: (1) uma autonomia em modo elétrico mínima de 60 km (atualmente 50 km); e (2) acesso comprovado a pontos de carregamento, ou em casa ou no trabalho. Por outro lado, a Zero propõe a reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida, mas exclusivamente para apoio à compra de veículos 100% elétricos.
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