O primeiro fundo escolhido para o Portugal Blue é o Blue Pioneers Funds, que vai gerir apenas uma parte do valor. O ministro do Mar assume ao Capital Verde que gostava de ver este orçamento duplicar.
O Portugal Blue vai mobilizar mais de 70 milhões de euros de capital público (nacional e europeu) e privado para fomentar o ecossistema da economia azul portuguesa, disponibilizando capital de risco e oportunidades de expansão a empresas em todos os estágios de desenvolvimento.
Criado em outubro de 2020, este programa — “um fundo de fundos” — nasceu de uma parceria entre o Fundo Europeu de Investimento (FEI) — o braço de capital de risco do Banco Europeu de Investimento (BEI) –, o Governo português (através do Fundo Azul) e o Banco Português de Fomento (BPF), enquanto entidade gestora.
Esta quarta-feira, durante um evento em Lisboa que contou com a participação do ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, do CEO do Fundo Europeu de Investimento, Alain Godard, e da CEO do Banco Português do Fomento, Beatriz Freitas, foi anunciado que o primeiro fundo escolhido para o Portugal Blue, entre oito candidatos, foi o Blue Pioneers Fund.
Em entrevista ao ECO/Capital Verde, o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, deu mais alguns detalhes sobre a missão deste fundo de capital de risco de angariar mais capital e investir na expansão e no crescimento de empresas portuguesas focadas na economia azul.
Que importância tem a economia azul em Portugal?
A economia azul em Portugal representa cerca de 5% do PIB, 5% das exportações e 4% do emprego. Temos vantagens competitivas. O pescado está no topo das exportações nacionais, com 14%.
O Portugal Blue foi criado em outubro de 2020, mas só agora está verdadeiramente a avançar. Porquê este atraso?
Não houve atraso. Houve um processo de articulação entre o Fundo Azul, que é gerido pela Direção Geral de Política do Mar, o Ministério do Mar e o Fundo Europeu de Investimento para constituir este fundo. Hoje foi anunciado o primeiro investimento no âmbito do Portugal Blue — o Blue Pioneers Fund –, em fase inicial e totalmente dedicado a investimentos na economia azul. É apoiado por três grandes fundações em Portugal: a Fundação Oceano Azul, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Champalimaud. Foi o consórcio selecionado para gerir esta componente do Portugal Blue e trata-se de um spin-off da Faber Ventures, uma empresa muito experiente em capital de risco.
Que razões levaram a que fosse o escolhido?
O Blue Pioneers Fund fez a sua proposta e já tinha as equipas constituídas e definidas as principais áreas de atuação dentro da economia azul, que faziam parte da lista predeterminada pelo Ministério do Mar, em ligação com o Fundo Europeu de Investimento, como a aquacultura, bioeconomia azul, energias renováveis oceânicas, dessalinização. Áreas muito alinhadas com a estratégia nacional para o mar. As decisões de investimento e a escolha dos projetos vão caber totalmente à equipa de gestão do fundo selecionado para gerir o Portugal Blue. Este fundo, que junta 25 milhões do Fundo Azul e 25 milhões do Banco Europeu de Investimento, tem aqui 50 milhões até 2026. E vai buscar ainda mais 25 milhões ao capital privado, às fundações.
É um valor adequado?
O Blue Pioneers Fund não vai estar a gerir o bolo todo porque foram feitos dois avisos de candidaturas. O Portugal Blue é um fundo de fundos e há um acordo entre o Fundo Azul do Ministério do Mar e o Invest Fund do FEI, em que cada parte dá 25 milhões até 2026 para investir em economia azul sustentável. Este Portugal Blue é gerido pelo Banco de Fomento Português, que em abril abriu duas candidaturas: uma para venture capital (startups e empresas mais embrionárias e em fase precoce, mas com ideias e a necessitar de investimento para se afirmarem no mercado) e outro para growth capital (para empresas com mais maturidade). Este último aviso encerrou em abril e foi bastante concorrido. De maio a setembro decorreu o processo de seleção e avaliação de candidaturas. Os 75 milhões do Portugal Blue são uma fronteira. Gostaríamos de mobilizar até, eventualmente, mais 75 milhões de euros para apoiar este ecossistema de economia azul portuguesa.
Falta então escolher outro fundo para a parte de early stage e venture capital?
O Portugal Blue terá até dois fundos portugueses dedicados à economia do mar, que prossigam estes objetivos do impacto climático e do desenvolvimento sustentável da economia do mar. O Portugal Blue vai cobrir cerca de 70% dos fundos selecionados e vai capturar o remanescente. Para já, só é conhecido o Blue Pioneers Fund.
Em que projetos se espera que o Blue Pioneers Fund invista?
Esperam-se projetos alinhados com a estratégia nacional para o mar, na área da biotecnologia azul, energias renováveis, robótica submarina, sensores, algas, alimentação com base no oceano, aquacultura. Mas eles é que irão selecionar os projetos. Terão de ser extremamente inovadores, sobretudo no venture capital, para se alinharem com a nova economia azul.
E do PRR, o que se espera para a economia do mar?
O PRR tem uma componente de mar e, com este domínio de empreendedorismo, temos o hubazul em Lisboa, Porto, Aveiro e Algarve, que está vocacionado para a bioeconomia, ciências médicas, farmacêuticas, cosméticas, biomateriais, plásticos biodegradáveis. Depois temos as grandes questões sobre a alimentação proveniente do oceano, o potencial da aquacultura de algas. Tudo isto liga com as energias offshores, como a eólica, que ainda estão menos testadas, como também a das marés e ondas, além de continuar a fazer investigação e desenvolvimento. Depois, a robótica e as soluções digitais, remote sensing, indústrias emergentes. Tecnologias de dessalinisação. São áreas que continuarão a marcar a agenda.
Há apetite pelas energias offshore?
Há um interesse muito grande pelas eólicas offshore, com investimento próprio, sem recorrer a subsídios. Está na calha. Estamos agora em fase de consulta para um despacho, para podermos dinamizar mais este setor. Há grande interesse de empresas nos parques eólicos offshore e para o ano vamos ter grandes novidades nesse setor. E em várias zonas da costa portuguesas. Viana do Castelo é uma zona pioneira e com possibilidade de expansão. São incontornáveis se queremos fazer uma transição energética e ter uma economia mais descarbonizada.
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“Gostaríamos de mobilizar mais 75 milhões para a economia azul”
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