UE quer 40% de renováveis até 2030. “É ambicioso mas é fazível”, diz Comissária Europeia

"Vamos precisar de todas as tecnologias: a capacidade solar tem de aumentar para os 400GW (3x mais), o eólico onshore tem aumentar 5 vezes até 500 GW", disse Kadri Simson na conferência da APREN.

“É um dos grandes desafios que a nossa sociedade enfrenta: avançarmos para lá dos combustíveis fósseis. É um desafio e uma oportunidade para desenvolver cada vez mais as renováveis”. Foi desta forma que a Comissária Europeia da Energia, Kadri Simson, marcou o arranque da conferência anual da APREN, que este ano se realiza a 9 e 10 de novembro, subordinada ao tema “Renováveis, motor da recuperação económica”.

No seu discurso inicial, a responsável europeia com a pasta da energia sublinhou que a União Europeia está “a dar o sinal que energia renovável é o pilar da ambição da UE”, sobretudo com o novo pacote legislativo Fit for 55, o grande roteiro destinado a fazer cumprir o Green Deal europeu e a tornar o continente no primeiro continente neutro em carbono em 2050.

“Mas antes temos uma grande paragem a meio do caminho, que é conseguir reduzir 55% as emissões até 2030. E aí entram as renováveis. Tínhamos uma meta de 20% até 2020 que se transformou em 40% até 2030. É ambicioso mas é fazível”, diz Simson.

A Comissária deixa o alerta: “Vamos precisar de todas as tecnologias: a capacidade solar tem de aumentar para os 400GW (3x mais do que em 2020), o eólico onshore tem aumentar 5 vezes até 500 GW e o eólico offshore também tem de aumentar 5 vezes. Todos estes aumentos são enormes”.

No entanto, Simson reconhece que há grandes entraves, como a necessidade de aumentar exponencialmente os investimentos, as ligações à rede, as licenças. “São barreiras, mas a atual atual diretiva das renováveis traz novas regras. Aumentar a capacidade renovável é uma necessidade para a recuperação da economia pós-covid. Temos de aumentar a resistência aos combustíveis fósseis e à volatilidade dos preços. A Europa já é líder em solar e vento, estamos a lutar por uma posição de liderança nas lideranças”, disse.

E como? O hidrogénio é uma prioridade e também aumentar a capacidade solar cobrindo todos os telhados da Europa com painéis solares.

Metas da UE são ou não ambiciosas o suficiente?

Quem trabalha com renováveis a nível europeu e esteve presente no debate “Novo enquadramento das renováveis – será suficiente para o cumprimento das metas?” não podia concordar mais. Giles Dickson, CEO da WindEurope, e com anos de experiência na matéria, defendeu que para atingirmos as metas a que a EU e propõe “devíamos estar a construir 40 GW de potência eólica por ano, quando neste momento a média anda nos 15 GW”.

“É um alto nível de ambição, um grande salto”, defendeu Giles, que não acredita que as metas precisem de ser obrigatórias a nível nacional. “Já todos percebemos que as renováveis são a forma mais barata de gerar energia. Alguns estamos membros precisam de um empurrão da UE, é verdade”, rematou, sublinhando a importância das garantias de origem e a elegibilidade do armazenamento para ajudas do Estado.

Já Walburga Hemetsberger, da Solar Power Europe, diz, pelo contrário, que as metas não são ambiciosas e há até quem queira ir mais rápido com as renováveis. “O solar está a está a crescer mais do que todos os outros. As licenças são muito importantes, tal como os PPA e as garantias de origem. O armazenamento também devia ser reconhecido e apoiado financeiramente”, diz.

Walburga concorda plenamente com a comissária europeia e além do autoconsumo doméstico quer também mais autoconsumo de larga escala a nível industrial. “Todos os telhados têm de ser mais usados para energia solar, até chegarmos pelo menos aos 49%”, exige.

Jorgo Chatzimarkakis, do Hydrogen Europe, fala em “tentar atingir as metas a nível europeu, em vez de a nível nacional, sendo que assim os mais atrasados fazem equipa com os outros”. Sobre as metas diz que são “atingíveis”.

Para o hidrogénio é necessário que haja eletrolisadores e rápido, e que a sua produção possa ser apoiada e financiada.

Como olham os eurodeputados portugueses para o pacote Fit for 55?

Já no debate com os eurodeputados portugueses, a troca de ideias e opiniões foi grande. Graça Carvalho lembrou que o pacote Fit for 55 está agora no Parlamento Europeu e que cabe aos eurodeputados melhorá-lo ainda, já que dá pouca atenção ao custo da energia, por exemplo, e precisa de uma maior ligação às tecnologias que estão no mercado. No que diz respeito a Portugal, diz que maior dificuldade na aplicação deste pacote está nos transportes e edifícios.

Carlos Zorrinho, por seu lado defendeu que “a ameaça da dependência energética é uma oportunidade para investir”. E diz que para o FIt dor %% ter sucesso “tem de ter preciso pelas pessoas, tem de incluir incentivos às famílias”. Concluiu ainda lembrando que “sermos pioneiros nas renováveis teve custos e que os modelos de energia limpa baseados no nuclear não fazem sentido para Portugal”.

Marisa Matias lembrou que a urgência climática precisa de uma resposta abrangente e de abrangência legislativa. “Faltam políticas reais para a transição energética, falta acabar com as rendas excessivas. A revisão do cálculo dos preços da energia é urgente”

Nuno Melo por seu lado considerou que as metas europeias são muito ambiciosas. “São negociadas em bloco, mas com países com realidades muito diferentes. É muito difícil assegurar que Portugal não se atrase”, argumentou.

Sandra Pereira diz que não perspetiva mudanças na política da UE, que não há alteração do paradigma da mobilidade e que Portugal devia ser exportador de energia, mas França impede corredores energéticos na Europa.

Para o presidente da APREN, Pedro Amaral Jorge, as medidas apresentadas pela UE ficam “aquém do esperado quando não propõem metas vinculativas para os estados individuais e só no conjunto de Europa a 27”.

Defendeu ainda que estas metas “requerem o aumento massivo de toda a capacidade de produção, com recurso a diferentes fontes renováveis que terão de ser complementadas com armazenagem”.

“A Comissão Europeia apresentou um conjunto de instrumentos necessários, ainda que na minha opinião não sejam suficientes para cumprir os objetivos” no que diz respeito ao clima, defendeu o presidente da APREN.

“Os Estados-membros não podem esquecer que é fundamental apoiar os cidadãos a financiar investimentos em eficiência energética, novos sistemas de aquecimento e refrigeração e na mobilidade. Obviamente eletrificados com energia de fontes renováveis”, concluiu.

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