Candidato à liderança da UGT Mário Mourão quer “pôr o setor privado na agenda”
“Espero pôr o setor privado também na agenda da UGT, a par com o da função pública, porque problemas existem em todos os setores", sinalizou Mário Mourão, candidato à liderança da UGT.
O candidato a secretário-geral da UGT Mário Mourão quer “pôr o setor privado na agenda” da central, “a par com o da função pública”, para “dar resposta” e “visibilidade” a todas as áreas que a organização sindical representa.
“Espero pôr o setor privado também na agenda da UGT, a par com o da função pública, porque problemas existem em todos os setores, infelizmente, e nós temos que dar resposta a todos os setores que a UGT representa”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN – ex-Sindicato dos Bancários do Norte), que no sábado disputa com José Abraão a liderança da tendência sindical socialista (TSS) da central.
O presidente da TSS eleito no congresso de sábado será, por inerência, o candidato a secretário-geral da UGT, a eleger no XIV congresso da central sindical, previsto para abril de 2022, e que sucederá a Carlos Silva, que lidera a central sindical desde 2013.
Na opinião de Mário Mourão, atualmente, “o setor público tem um peso enorme” na UGT e, se é verdade que “os privados também têm”, o facto é que, “em termos dos media, a mensagem não tem passado suficientemente bem para ser acolhida”.
“O setor público tem uma forte influência – e ainda bem que o tem, porque também há muitos problemas –, mas a UGT tem também uma componente muito forte de sindicatos do setor privado filiados e também temos que lhe dar visibilidade”, considerou.
Assim, sustentou, uma das bandeiras da sua candidatura “não é dar mais força [aos privados], mas é pô-los em igualdade de circunstâncias com os trabalhadores da função pública”: “São todos sindicatos da UGT, são todos precisos. Há problemas no setor público e no setor privado e a central tem de ser o veio de comunicação com os seus sindicatos, porque tem de saber interpretar a vontade dos seus sindicatos, que são os donos da central”, explicou.
“A central fará aquilo que os sindicatos quiserem e, portanto, face ao momento que vivemos no setor privado, temos que dar-lhe também uma importância na comunicação que a UGT tem que fazer no futuro e na própria Concertação Social”, reiterou.
Embora considere serem “mais as coisas” que o “unem” do que as que o “dividem” do “amigo” e agora concorrente José Abraão – que é secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (Sintap) e da Federação Sindical da Administração Pública (Fesap) – Mário Mourão acredita que, enquanto líder de um sindicato da banca, oriundo do setor privado, estará em melhores condições para “criar a harmonia entre os setores que a UGT representa”.
“Distingue-nos o estilo e alguma coisa de conteúdo. Provavelmente, o Abraão terá uma intervenção mais na área do setor público, onde ele é um quadro excelente que a UGT e a tendência socialista não podem perder. E eu acho que o setor público, sim, mas também o setor privado, porque há muitos problemas no setor privado”, afirma.
Apesar das diferenças, o presidente do sindicato bancário assegura: “O Abraão é um socialista como eu, somos militantes do partido. Há muitos anos que nos cruzámos na UGT, somos amigos, e não tenho dúvidas de que este debate não nos vai afastar”.
E acrescenta: “No congresso vão ser discutidas as moções programáticas e, no momento seguinte, não tenho dúvidas de que darei um passo para, a partir daquele momento, não haver nem vencedores, nem vencidos. Somos todos precisos para o projeto da UGT, somos todos precisos para os momentos difíceis com que vamos ter que nos confrontar”.
Considerando que “a UGT hoje é insubstituível na democracia e na sociedade portuguesas”, nomeadamente para “dar respostas ao mundo do trabalho”, Mário Mourão salienta o facto de ser “uma central que privilegia o diálogo, a negociação coletiva e a concertação” e defende que assim tem de “continuar a ser”: “Esse é o nosso ADN e daí não nos podemos desviar”, diz.
Mourão foi recentemente reeleito presidente do SBN, que lidera desde 2005, e pretende manter-se neste cargo se ganhar a corrida a secretário-geral da UGT, porque “a banca atravessa um momento difícil” e não lhe pode “virar as costas”.
Garantindo que “é possível conciliar as duas funções”, “sem prejuízo” para nenhuma, Mário Mourão assegura: “Se ganhar [a liderança da UGT], estarei sempre na Concertação Social e nas audiências quer com o Presidente da República, quer com o Governo. Disso não abdicarei, porque é aí que acho que temos que dar a cara em nome da instituição que representamos ao mais alto nível, para que as instituições também se saibam respeitar umas às outras”.
Relativamente ao facto de, pela primeira vez em 43 anos de história da UGT, haver dois candidatos à liderança, Mário Mourão congratula-se com a novidade, pois considera que “é assim que devem funcionar as instituições”. “Isto praticamente era uma monarquia, quem saía escolhia o seu sucessor”, graceja, convicto de que a atual disputa “vai promover o debate” e “enriquecer o congresso, porque vai haver duas moções programáticas para discutir”.
“Uma das coisas que eu valorizo muito relativamente ao facto de haver duas candidaturas é que já fez muito para a organização da tendência socialista neste último mês e para a atenção que lhe é preciso dar e que nunca foi dada”, concluiu.
Mário Mourão defende aproximação entre tendência sindical socialista da UGT e PS
Na mesma entrevista, Mário Mourão defende um melhor relacionamento entre a tendência sindical socialista da central e o PS, considerando que “é tempo de se entenderem” e que é o líder certo para isso.
“A tendência sindical socialista [TSS] sentia-se um corpo estranho no Partido Socialista [PS] e o Partido Socialista na TSS também. Acho que é o tempo de estas duas organizações se entenderem”, afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Financeiro de Portugal (SBN), em entrevista à agência Lusa.
Segundo salienta Mário Mourão, “a tendência sindical socialista tem uma experiência e um nome de longos anos no mundo do trabalho que o PS não pode desperdiçar, porque o PS é também um partido de trabalhadores, e isso nem sempre funcionou”.
“Todos nós conhecemos que houve problemas de relacionamento entre a tendência socialista e o PS. E, se houve problemas, é porque quer do lado do PS, quer do lado da tendência, provavelmente estavam ali duas pessoas [António Costa e Carlos Silva, respetivamente], com um perfil forte, de grande perseverança e com atitudes diferentes, mas que por vezes não facilitou o entendimento que deve haver”, afirmou.“Isso não funcionou muito bem e é algo de que eu pretendo implementar relativamente às relações com o Partido Socialista”, acrescentou.
Embora defendendo o total “respeito pela autonomia e independência de cada uma das organizações”, o presidente do ex-Sindicato dos Bancários do Norte considera “importante que o mundo do trabalho dos socialistas tenha pontes com o PS para fazer chegar as suas sugestões relativamente às leis de trabalho”.
Outro dos desafios em cima da mesa é, na opinião de Mário Mourão, o do teletrabalho, que “é preciso regular” devidamente e que será “uma das [suas] bandeiras” caso chegue à liderança da UGT no próximo ano.
Também prioritário é, em sua opinião, que a atual situação política “não afete questões que já estavam previstas no Orçamento [do Estado para 2022] e que podem muito bem ser ativadas, mesmo não havendo Orçamento”.
Como exemplos, apontou a progressão do salário mínimo para os 705 euros – “há condições para pagar já em janeiro aquilo que estava previsto no Orçamento, sem prejuízo de poder haver novamente negociações, se entretanto se entender que poderá ser mais”, sustenta – e a atualização salarial de 0,9% para os trabalhadores do setor público, que “pode e deve ser uma das premissas que não deve ser prejudicada pelo fato de não haver orçamento”.
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