Rascunho do documento final da COP26 continua a dividir opiniões
A última formulação suaviza o processo, em comparação com uma versão anterior do texto que apelava diretamente à aceleração sobre o financiamento de exploração de carvão e de combustíveis fósseis.
Os países participantes da COP26 vão ser convidados a limitar o financiamento “ineficiente” em relação aos combustíveis fósseis e a acelerar a saída da utilização de carbono, refere o último projeto de documento final da cimeira.
A última formulação suaviza o processo, em comparação com uma versão anterior do texto que apelava diretamente à aceleração sobre o financiamento de exploração de carvão e de combustíveis fósseis.
Os sistemas de “captação de carbono” no sentido da redução das taxas referentes aos gases de efeitos de estufa na atmosfera são apresentados como processos de redução do aquecimento global, mas o assunto ainda não convenceu os ecologistas.
A questão referente às energias fósseis é particularmente conflituosa, nomeadamente nos países produtores e nos Estados que dependem destes recursos para a produção de energia.
Estas energias, que são a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa, por exemplo, nem sequer são mencionadas no Acordo de Paris.
Um outro ponto do novo texto preliminar que foi divulgado através do portal da conferência pede aos Estados membros que aumentem, a partir de 2022, os compromissos em relação à redução de emissões “com mais regularidade”.
Em comparação com a primeira versão do texto, o novo esboço de documento final, acrescenta que esta revisão deve ser feita “tendo em conta as circunstâncias nacionais”, abrindo caminho para ajustes em determinados países.
Informações não confirmadas indicam que os trabalhos da cimeira, para a conclusão do documento final, podem não terminar hoje, tal como estava previsto, podendo prolongarem-se durante o fim de semana.
As reações ao documento são mistas
O último projeto de documento final da cimeira do clima (COP26) tem merecido reações mistas, com especialistas a elogiarem o equilíbrio entre as exigências e as propostas de financiamento, enquanto ambientalistas lamentam mudanças nas medidas sobre combustíveis fósseis.
A última formulação foi conhecida esta sexta-feira e enquanto uns sublinham o maior equilíbrio entre as exigências para a redução das emissões de gases de efeito estufa e as propostas de financiamento dos países pobres, outros apontam como negativo que as medidas sobre os combustíveis fósseis e o processo da saída da utilização de carbono tenham sido suavizadas.
Citado pela agência espanhola EFE, o especialista Ed King assinalou que o último texto, “parece significativamente mais equilibrado, com elementos mais fortes nos conceitos de adaptação, financiamento, e perdas e danos” devido às alterações, dando mais esperança de apoio aos países pobres.
No mesmo sentido, o ‘think-tank’ E3G sublinhou ambições mais concretas na redução das emissões e um “maior equilíbrio” entre as medidas de mitigação e adaptação às alterações climáticas.
Relativamente à mitigação, o novo esboço do documento final pede aos governos que revejam e reforcem os seus objetivos de redução das emissões até 2030 para a 27ª Conferência das Partes (COP27) em 2022 e insta aqueles que ainda não apresentaram a sua estratégia nacional a fazê-lo no mesmo prazo, mantendo a meta de alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
Por outro lado, manifestando uma “grande deceção” com o facto de os países ricos não terem cumprido o compromisso assumido em 2009 para apoiar em 100 mil milhões de dólares anuais, até 2020, os países em desenvolvimento, o texto aponta que esse financiamento seja assegurado entre este ano e 2025.
Ed King considera positiva a constituição prevista de um grupo de trabalho para desenvolver o conceito de “perdas e danos”, de forma a analisar subsídios para os países pobres, que são simultaneamente os mais afetados pelas alterações climáticas e menos responsáveis por elas.
Em contraste com as medidas que mereceram elogios de especialistas, o ponto mais controverso do novo texto é a mudança na linguagem utilizada num parágrafo referente aos hidrocarbonetos.
A última formulação suaviza o processo, em comparação com uma versão anterior do texto que apelava diretamente à aceleração sobre o financiamento de exploração de carvão e de combustíveis fósseis.
O porta-voz do partido ecologista espanhol Verdes Equo, Florent Marcellesi, criticou a alteração, afirmando que “como era de esperar”, o documento “foi enfraquecido pela Arábia Saudita e pela Austrália”, com a ideia de que “existem bons combustíveis fósseis”.
“Isso é uma falácia, os melhores combustíveis fósseis são aqueles que ficam no subsolo”, defendeu.
No mesmo sentido, a diretora da organização ambientalista ‘Greenpeace’, Jennifer Morgan, lamentou que a referência aos hidrocarbonetos tenha sido “enfraquecida de maneira critica”, reconhecendo, pelo menos, não desapareceram, e disse que as pegadas dos países produtores de petróleo são visíveis na nova versão.
Jennifer Morgan disse ainda que o esboço divulgado hoje reconhece melhor as necessidades de financiamento dos países em desenvolvimento, mas denunciou “movimentos cínicos” para manipular as negociações sobre o mercado de compensação de carbono para favorecer os países poluidores.
Já Sara Shaw, da organização ‘Friends of the Earth’, alertou que o documento final não deve contar “lacunas e zonas cinzentas” que acabem por prejudicar os esforços para subida da temperatura média em 1,5ºC, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
O documento final da COP26 deverá ser apresentado hoje, mas informações não confirmadas indicam que os trabalhos da cimeira, para a conclusão do documento, podem não terminar até ao final do dia, tal como estava previsto, podendo prolongarem-se durante o fim de semana.
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