Peritos voltam a discutir evolução da pandemia. Como estávamos há um ano?
Face ao agravamento da Covid, peritos voltam ao Infarmed. Como evoluíam os indicadores em novembro de 2020? E como estão agora? Taxa de vacinação reflete-se fortemente nos óbitos, internamentos e UCI.
Dois meses depois, o Governo volta a ouvir os especialistas sobre a situação epidemiológica em Portugal. Numa altura, em que o número de infeções está a aumentar, os especialistas dividem-se quanto à necessidade de medidas restritivas. Mas, afinal, como estávamos há um ano?
Desde o início de outubro que Portugal vive sob um alívio de medidas de contenção da Covid-19, onde a responsabilidade individual e a avaliação do risco são determinantes no combate à pandemia. Face à tendência crescente do número de infeções, o primeiro-ministro decidiu convocar uma nova reunião no Infarmed para ouvir os especialistas.
Tanto Governo como Presidente da República descartam, para já, medidas que impliquem legalmente o regresso ao Estado de Emergência. Contudo, o chefe de Estado já avisou que não se pode “estar a descansar à sombra da vacinação”. À semelhança do Executivo, também o Chefe de Estado prefere não fazer antecipações, mas Marcelo Rebelo de Sousa já veio defender que o uso obrigatório de máscara na rua deve ser reposto.
Tal como nas reuniões anteriores, os especialistas vão passar “a pente fino” os indicadores que medem a evolução da pandemia e apresentar projeções para o futuro, havendo já alguns matemáticos a estimarem que Portugal pode chegar aos seis mil casos diários se não forem tomadas medidas. Neste contexto, nesta reunião deverão também ser feitas algumas recomendações sobre as medidas que devem ser implementadas para travar o aumento de infeções.
Os especialistas ouvidos pelo ECO estão divididos quanto à necessidade de implementar novas medidas. Ainda assim, entre as medidas sugeridas pelos peritos que defendem um aperto das regras, estão medidas que não penalizem a economia, nomeadamente a obrigatoriedade do uso de máscara na rua e em espaços fechados, o incentivo ao teletrabalho (sempre que compatível com as funções desempenhadas), uma aposta na ventilação dos espaços, o aumento da testagem ou o regresso dos limites de lotação dos espaços. Isto a par de se acelerar a administração da uma dose de reforço da vacina contra a Covid para os maiores de 65 anos.
Perante a escala de casos, os especialistas alertaram que Portugal poderá estar a enfrentar a quinta vaga da pandemia. No entanto, é indiscutível que as consequências do aumento de infeções que se está a verificar são bastante diferentes face ao ano passado no que toca aos serviços de saúde e à letalidade. Tal como apontou o investigador Miguel Prudêncio ao ECO, o grande “elemento transformador” é a vacinação.
À semelhança deste ano, com os casos de infeção a dispararem mas ainda sem vacinas, no início de novembro de 2020 o Presidente da República interveio e propôs um novo Estado de Emergência “muito limitado e largamente preventivo”. A ideia era evitar uma nova vaga, que se veio a verificar “explosiva” depois do Natal e Ano Novo (dado que nesse período festivo foram levantadas algumas restrições).
Assim, nessa altura as restrições variavam consoante o risco de transmissão definido para determinado concelho (nos concelhos de maior risco havia recolher obrigatório e restrições aos horários dos estabelecimentos), as máscaras eram obrigatórias quer na rua e nos espaços fechados e os certificados de Covid estavam longe de ser utilizados. Mas, afinal, como evoluíam os indicadores da pandemia (infetados, mortes, internamentos e cuidados intensivos) nos primeiros 17 dias de novembro de 2020? E como estão agora?
Entre 1 e 17 de novembro de 2020, Portugal contabilizou 83.729 casos de Covid-19, em termos acumulados, o que representa cerca de 4.925 infeções por dia, de acordo com a análise realizada pelo ECO com base nos relatórios da DGS (dado que o balanço é sempre relativo ao dia anterior). Já entre 1 e 17 de novembro deste ano foram registados 23.938 casos em território nacional, isto é, cerca de 1.408 por dia. Contas feitas, o número de casos registados desde o início de novembro deste ano é três vezes inferior ao registado em igual período do ano passado.
Mas o efeito da elevada taxa de cobertura vacinal é ainda mais significativo na mortalidade, internamentos e unidades de cuidados intensivos (UCI). Nos primeiros 17 dias de novembro de 2020, Portugal registou 1.088 óbitos por Covid-19, em termos acumulados, o que representa cerca de 64 mortes por dia, ao passo que este ano, nos primeiros 17 dias deste mês, foram registadas 133 mortes (cerca de oito por dia). Assim, atualmente morrem oito vezes menos pessoas vítimas da Covid face a igual período do ano passado.
Quanto à pressão que está a ser exercida nos hospitais, o cenário é semelhante. Entre 1 e 17 de novembro de 2020, estavam, em média, 2.664 pessoas internadas nos hospitais devido ao Sars-CoV-2, ao passo que nos primeiros dias de novembro deste ano, a média situava-se em 406 internamentos. Contas feitas, é um número mais de seis vezes inferior face ao período homólogo.
Por fim, nos primeiros 17 dias de novembro do ano passado, estavam, em média, 376 pessoas internadas em UCI nos hospitais devido a complicações associadas à doença, ao passo que em igual período deste ano a média situa-se em 68. Trata-se portanto de um valor mais de cinco vezes inferior, e bem abaixo do limite dos 255 definido como “crítico”.
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