Peritos divididos quanto ao regresso do teletrabalho obrigatório
Regresso ao teletrabalho? Os peritos ouvidos pelo ECO estão divididos. Se há quem defenda que todas as medidas que não prejudiquem a economia devem ser tomadas, outros descartam medidas restritivas.
O Governo admite um regresso ao teletrabalho obrigatório, quando compatível com as funções desempenhadas, se a situação pandémica se continuar a agravar. Os peritos ouvidos pelo ECO estão divididos. Se Carlos Robalo Cordeiro e Bernardo Gomes defendem que “todas as medidas que não prejudiquem o tecido económico devem ser postas em cima da mesa”, por outro lado, Miguel Prudêncio considera que, neste momento, o regresso a medidas restritivas “não faria sentido”.
Em declarações aos jornalistas à margem de uma conferência internacional, a ministra do Trabalho e da Segurança Social afirmou que “a situação vai sendo acompanhada, avaliada, em função do risco”, pelo que o Governo tomará “as medidas que sejam necessárias” a cada momento, disse, quando questionada sobre um eventual regresso do teletrabalho. Em reação, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) diz esperar que sejam tomadas “medidas proporcionais”.
Recorde-se que esta medida deixou de ser obrigatória a 1 de agosto, passando apenas a ser recomenda. Dois meses depois, quando Portugal avançou para a última fase de desconfinamento, a recomendação foi, inclusivamente, levantada, apesar de ainda haver algumas empresas a manterem a medida.
“Estamos a entrar num processo de grande aumento da incidência e da transmissibilidade” da Covid, assinala Carlos Robalo Cordeiro, acrescentando ainda que se denota já “alguma pressão” sobre os serviços de saúde. Este agravamento da pandemia levou o primeiro-ministro a convocar para sexta-feira uma reunião no Infarmed.
Perante este cenário e com o aproximar do Inverno, período mais propício a infeções respiratórias, o diretor do serviço de Pneumologia dos Hospitais da Unidade de Coimbra e ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia defende que o Governo deve já tomar medidas para conter a propagação da doença e admite que o regresso do teletrabalho, se compatíveis com as funções desempenhadas, é uma “forte possibilidade”.
“Aquilo que se revelou positivo ou eficaz durante o processo anteriores, concretamente o teletrabalho ou outras medidas, como o uso obrigatório de máscara em espaços fechados ou ambientes ao ar livre com muita gente fazem todo o sentido“, assinala Robalo Cordeiro, em declarações ao ECO. “Todas as medidas que tendam a limitar o número de pessoas em contacto” e que “não comprometam a atividade económica” são bem-vindas, por forma a evitar “medidas mais graves” como futuros confinamentos, resume.
A par da aceleração do reforço da terceira dose da vacina contra a Covid aos maiores de 65 anos, também a aplicação das habituais medidas de contenção, bem como a “redução da lotação de pessoas nos espaços, o desfasamento de horários nos locais de trabalho ou, sempre que possível, na opção pelo teletrabalho” são medidas vistas com bons olhos por Raquel Duarte, pneumologista e ex-secretária de Estado da Saúde, em entrevista ao DN.
Além do regresso ao uso obrigatório de máscara em espaços fechados, o Infeciologista António Silva Graça considerou ainda que “seria prudente pensar em retomar a recomendação do teletrabalho”, em declarações à RTP3.
Um pouco mais comedido, Bernardo Gomes concorda que “tudo o que possa ser feito sem prejuízo da atividade e social e económica deve ser posto em cima da mesa“, pelo que defende que o regresso do teletrabalho “pode ser incentivado e legislado”, afirmou em declarações ao ECO. Contudo, o médico de saúde pública defende que, neste momento, a prioridade está na aposta da “ventilação dos espaços”, no reforço da testagem, pedindo, o regresso da comparticipação dos testes rápidos, bem como em tornar a comunicação mais clara e assertiva.
Neste âmbito, o também investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto reitera que é necessário fazer “recomendações genéricas” sobre os cuidados que os cidadãos devem ter, chamando ainda a atenção para o reforço das medidas às populações de determinadas regiões ou zonas, já que há algumas zonas do país onde o índice de transmissibilidade está “mais acelerado”, como é o caso da região Centro.
Em contrapartida, para Miguel Prudêncio a chave do controlo da pandemia está na vacinação. Com 87% da população portuguesa com a população completa, o investigador do Instituto de Medicina Molecular sublinha que “não há necessidade de fazer alterações muito significativas” nas medidas atualmente em vigor.
Em declarações ao ECO, Miguel Prudêncio diz-se “um otimista cauteloso”, dado que face à elevada taxa de cobertura vacinal considera que o foco neste momento não deve ser a subida do número de infeções, mas antes acompanhar a evolução dos internamentos e cuidados.
“Antes das vacinas tínhamos uma cadeia de acontecimentos em que um número de infeções correspondia a um número de internamentos e a um número de óbitos. Neste momento, temos um elemento transformador em relação ao ano passado que quebra esta cadeia de acontecimentos”, sinaliza, sublinhando, no entanto, que é preciso continuar a acompanhar e a monitorizar estes indicadores e administrar as doses de reforço da Covid e da gripe aos mais idosos. Nesse contexto, o especialista considera que neste momento, o regresso a medidas restritivas “não faria sentido”.
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