Acesso ao ensino superior não combate desigualdades

EDULOG sugere a alteração das condições para a atribuição de bolsas e reforço da oferta formativa. Para atrair mais estudantes estrangeiros, propõe a criação do "visto de estudante".

O contexto socioeconómico tem influência nas taxas de abandono no ensino superior, indicando que o seu alargamento não está a combater eficazmente as desigualdades, conclui um estudo da EDULOG, uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo. “Os resultados obtidos mostram que a expansão do ensino superior em Portugal não se traduziu na eliminação das desigualdades sentidas pelos estudantes, sendo o contexto socioeconómico o fator que mais promove essas desigualdades”, aponta o EDULOG num comunicado divulgado hoje.

O estudo “Estudantes nacionais e internacionais no acesso ao ensino superior” conclui que “quanto menos favorecido é o contexto socioeconómico do estudante, maior é a taxa de abandono“. As contribuições das famílias têm um peso no orçamento superior à média da UE, observa o EDULOG. “Com a perceção de que se trata de um investimento com retornos incertos no longo prazo, muitos indivíduos são forçados a entrar mais cedo no mercado de trabalho para aumentar o rendimento familiar”, acrescenta.

Também na entrada para o mercado de trabalho são identificadas desigualdades. “Os estudantes de contextos desfavorecidos enfrentam maior risco de desemprego, sugerindo que o ensino superior pode nem sempre cumprir o seu papel de promotor da mobilidade social“, conclui-se.

É necessário promover a concertação entre o decisor político e as instituições de ensino superior, que objetive um acesso equitativo a universidades e politécnico e a criação de mecanismos que reduzam as taxas de abandono.

Alberto Amaral

Membro do Conselho Consultivo do EDULOG

“Esta investigação deverá servir como ponto de partida para uma reflexão mais alargada sobre o papel que o ensino superior tem (e deverá ter) na redução das desigualdades”, assinala Alberto Amaral, membro do Conselho Consultivo do EDULOG. “É necessário promover a concertação entre o decisor político e as instituições de ensino superior, que objetive um acesso equitativo a universidades e politécnico e a criação de mecanismos que reduzam as taxas de abandono”, acrescenta.

Face ao diagnóstico, o EDULOG deixa uma série de recomendações:

  • a alteração das condições de atribuição de bolsas de ação social, incluindo o seu valor, de modo a alargar o número de estudantes elegíveis;
  • a intensificação do trabalho de complementaridade entre as instituições de ensino superior e o mercado de trabalho, para se conseguir uma melhor integração das alunos no emprego;
  • o reforço da oferta formativa no ensino superior, para acompanhar o aumento do número de candidatos;
  • o reforço dos processos de orientação das escolhas dos estudantes, ainda no ensino secundário;
  • a aposta em ações de sensibilização para os estudantes e famílias de contextos mais desfavorecidos, com o propósito de demonstrar os benefícios do ensino superior.

Criação do “visto de estudante”

O estudo debruça-se também sobre os estudantes internacionais, cujo número mais do que duplicou numa década em Portugal. Lembra o relatório “Uma Estratégia para a Internacionalização do Ensino Superior Português”, da autoria de uma comissão mista do Ministério Adjunto e do Desenvolvimento Regional e do Ministério da Educação e Ciência, cujas recomendações não foram aplicadas.

Dos 48.649 estudantes internacionais no ano letivo 2019/20, 27,08% vêm de países que não falam português. O EDULOG nota “que se mantém uma das fragilidades do processo de internacionalização resultante da fraca oferta de ciclos de estudo na língua inglesa”.

É ainda sublinhada “a burocracia na obtenção dos vistos dos estudantes extracomunitários, nunca tendo sido implementada a via verde proposta pelo relatório” referido acima. “Também existem dificuldades de recrutamento de estudantes da EU, explicitamente excluídos da aplicação do EEI [Estatuto do Estudante Internacional], o que cria problemas nos concursos de acesso”, aduz.

“Com o gradual decréscimo da taxa de natalidade em Portugal, e consequente redução de jovens portugueses a ingressar no ensino superior a médio prazo, torna-se evidente que a internacionalização do ensino superior português passará a ser uma das principais estratégias de suporte à sustentabilidade das instituições“, afirma Alberto Amaral. “É imperativo começar a adotar medidas que mitiguem as dificuldades no desenvolvimento internacional do nosso sistema de ensino”.

Uma das propostas é a criação de um “visto de estudante”, com base numa burocracia simplificada, tal como já acontece na Alemanha, Polónia ou Suécia. Um maior investimento no financiamento da investigação académica, de forma a melhorar a visibilidade internacional do país a nível científico e a promoção de uma oferta formativa em inglês são outras medidas propostas.

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