Mais de 60% das empresas recusam pagar despesas de teletrabalho

Um inquérito realizado pela AEP mostra ainda que quatro em cada dez empresários portugueses estão contra o "dever de se abster de contactar o trabalhador no período de descanso".

Mais de metade das empresas portuguesas (62%) está contra o pagamento obrigatório de despesas com o teletrabalho, nomeadamente energia e internet, ainda que dedutíveis pela empresa, revela um inquérito realizado durante o mês de novembro pela Associação Empresarial de Portugal (AEP), a que o ECO teve acesso.

Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP, frisa que, apesar do aumento dos custos em casa, também deve entrar nesta equação a redução de outras despesas. “As pessoas que estão em teletrabalho deixam de ter algumas despesas que teriam em regime presencial. Deixam de ter deslocações, eventualmente de fazer refeições fora, entre outras”, argumenta.

O dirigente associativo questiona ainda como se calcula o aumento do custo da eletricidade e da energia, acrescentando que o mais sensato é fazer todas as contas e pesar quanto é que o trabalhador gastava a deslocar-se para o local de trabalho e qual a poupança que obtém por estar a laborar a partir de casa.

O mesmo inquérito mostra ainda que quase quatro em cada dez empresas estão contra o “dever do empregador se abster de contactar o trabalhador no período de descanso, ressalvando as situações de força maior”, sendo que 23% discorda totalmente e 14% “apenas” discorda.

Para o líder da AEP, o “descanso das pessoas não está em causa”, mas considera que esta “é uma medida rígida” e que os “empresários sentem esta medida com uma afronta ao bom senso e ao respeito que têm pelos trabalhadores”.

Os empresários sentem esta medida com uma afronta ao bom senso e ao respeito que têm pelos trabalhadores.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

Luís Miguel Ribeiro sustenta também que “a maioria das empresas trabalha para o mundo e que existem variáveis e fusos horários diferentes e que há necessidade de contactar o empregador quando surge uma dificuldade”.

Os empregadores vão ter de se abster de contactar os seus trabalhadores durante o período de descanso. Esta alteração ao Código do Trabalho foi proposta pelo PS e aprovada, no início de novembro, pelos deputados, tendo ficado, contudo, ressalvado, que em “situações de força maior” é possível “furar” esse dever. A medida já foi promulgado pelo Presidente da República.

A esmagadora maioria das empresas (78%) discorda ainda do alargamento do teletrabalho, sem acordo do empregador, a pais com filhos até oito anos. Luís Miguel Ribeiro lembra que metade das inquiridas são da indústria transformadora e que esta medida faz com que as “fiquem em dificuldades porque as equipas não ficam completas e as linhas de produção deixam de estar em pleno funcionamento”.

Ainda em relação ao teletrabalho, a grande maioria das empresas incluídas na amostra não adotou este regime. Quase metade das empresas inquiridas (46%) está a laborar em regime maioritariamente presencial. Apenas uma em cada seis empresas não se encontram em regime de trabalho total ou maioritariamente presencial.

Fábrica 2030 - Portugal e a Reindustrialização Europeia - 24NOV20
Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEPHugo Amaral/ECO

Por outro lado, fora do tema das alterações à legislação laboral, quase metade (44%) diz que vai aumentar a capacidade produtiva e cerca de três quartos tem esperança que o PT2030 venha a ser uma fonte de financiamento para os projetos de investimento.

Apesar deste sentimento de esperança, o líder da AEP, alerta que Portugal “tem um sistema muito burocrático e que as empresas pensam duas vezes antes de fazer uma candidatura a um programa comunitário”. Luís Miguel Ribeiro pede celeridade na análise e aprovação dos projetos.

Matérias-primas, transporte e energia ameaçam a indústria

Face ao cenário atual, as principais dificuldades prendem-se com o aumento dos custos das matérias-primas, transportes e energia. 92% das empresas aponta o preço das matérias-primas como principal obstáculo, seguido da escassez (67%) das mesmas. O custo de energia (58%) e transportes (50%) também são apontados nesta lista.

Apesar das dificuldades sentidas, metade das empresas espera atingir este ano os níveis de atividade pré-pandemia. No entanto, no que respeita às exportações, esses níveis só deverão ser atingidos no primeiro semestre do próximo ano.

“Continuamos a ter muita dificuldade na questão da logística. Com o aumento dos custos, as empresas estão a retrair-se no envio dos produtos. Além da logística, alguns dos principais mercados estão em retração. Tudo isto acresce às dificuldades em atingirmos os níveis de exportação antes da pandemia”, concluiu o líder da AEP.

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