A managing partner da Abreu Advogados, Inês Sequeira Mendes, confessa que para 2022 prevalece um sentimento de “otimismo tímido”.
“Híbrido”. É assim que Inês Sequeira Mendes, managing partner da Abreu Advogados, caracterizou o ano de 2021, dividindo o ano em duas fases distintas de dinâmica social e económica em Portugal.
À Advocatus, Inês Sequeira Mendes confessa que para 2022 prevalece um sentimento de “otimismo tímido”. Acredita que, com a situação pandémica mais estabilizada e com um cenário político estável, poderemos ter um mercado de advocacia mais dinâmico.
Que balanço faz do ano de 2021 no que toca ao mercado da advocacia de negócios?
2021 tem sido um ano híbrido, dividido em duas fases distintas de dinâmica social e económica em Portugal. Um primeiro momento caracterizado por um período de confinamento, que implicou uma redução da atividade económica nacional, acompanhada também pelos mercados internacionais, principalmente na União Europeia e uma segunda fase com menos restrições e uma abertura generalizada da economia, que levou ao crescimento de vários setores.
O mercado da advocacia de negócios, apesar de naturalmente ter sentido o impacto destes dois momentos, tem-se mantido relativamente estável, registando em alguns casos crescimentos relevantes, em parte pela capacidade de adaptação que as Sociedades têm tido, desenvolvendo os seus serviços de acordo com as necessidades dos clientes, e pela flexibilidade demonstrada pelo mercado ao longo destes quase dois anos. Assim, o ano de 2021 foi marcado por uma tendência crescente de negócio no mercado da advocacia e pelo desenvolvimento e aceleração de várias áreas, em resposta ao cenário macroeconómico. Nesse sentido, há a destacar a área da tecnologia, com a criação de serviços eminentemente inovadores que têm sido essenciais no acompanhamento dos processos de transformação digital das empresas nacionais, acelerada pela pandemia, e também o setor da energia, com uma dinâmica de negócio muito forte, que acreditamos que se possa manter ao longo do próximo ano.
O que mudou no vosso escritório em termos de estratégia em 2021?
A estratégia que definimos para 2021 resultou de um trabalho alargado de análise e reflexão sobre as principais tendências e previsões de evolução socioeconómica, que nos permitiu, num ano de incertezas, desenvolver a nossa atividade mantendo, ao longo de 12 meses, uma linha estratégica coerente com o que havia sido definido no início do ano.
Assentámos a nossa estratégia para 2021 em duas vertentes: por um lado, com uma aposta muito clara na afirmação e desenvolvimento das nossas principais áreas de prática, com o reforço das equipas, um plano de formação personalizado e uma maior capacidade de antecipação de soluções técnicas mais em linha com as conjunturas legais cada vez mais complexas em que vivemos, que possam responder aos novos desafios que os nossos clientes nos apresentam. A segunda vertente resulta de uma análise ao mercado e às necessidades que identificámos junto de clientes, que nos levou a desenvolver novos serviços e projetos inovadores que têm vindo a ganhar cada vez mais importância ao longo do ano e entre os quais destacamos o trabalho desenvolvido na área das Fintech, com um acompanhamento próximo de várias empresas do setor, promovendo, em muitos casos, a sua entrada no mercado português, e na área das Criptomoedas, na qual fomos reconhecidos internacionalmente com uma nomeação nos prémios Financial Times Innovative Lawyers Europe 2021 para o projeto Tokapi, num trabalho que juntou várias áreas da Abreu e permitiu a criação de um quadro fiscal aplicável às Criptomoedas e Blockchain.
No que diz respeito à estratégia interna, implementámos uma nova Política de Flexibilidade, criada a partir da auscultação dos nossos profissionais e das suas preferências. Apesar de, mesmo antes da pandemia, termos um modelo de flexibilidade facilitado pelo investimento que realizámos na digitalização e tecnologia, este ano fomos mais longe e criámos uma política que permite a cada colaborador optar por um modelo híbrido, com a possibilidade de escolha de até dois dias por semana em teletrabalho.
Todas estas vertentes estratégicas têm possibilitado um crescimento sustentável do projeto Abreu, com uma presença constante ao lado das maiores empresas portuguesas e estrangeiras a investir em Portugal e resultados positivos, reconhecidos internacionalmente através de vários prémios e nomeações.
Quais foram os setores mais movimentados e cuja movimentação se refletiu em termos de faturação no escritório?
Podemos dividir a procura de assessoria jurídica ao longo de 2021 em duas grandes tendências: a primeira engloba áreas que tradicionalmente, num período pré-pandemia, já tinham muita procura e que têm mantido um peso significativo no negócio, e a segunda que integra áreas com um crescimento relevante desde o início do ano.
No primeiro grupo, falamos de áreas como corporate, financeiro, fiscal, contencioso ou trabalho. A procura por estas áreas, de acordo com a leitura que fazemos do mercado e dos nossos clientes, mantém-se elevada, independentemente da conjuntura, uma vez que, por um lado têm uma dinâmica regulatória muito forte e, por outro, relacionam-se com assuntos quotidianos das empresas e dos cidadãos, necessitando de um acompanhamento constante do ponto de vista jurídico. Neste campo, há a destacar a área de Direito do Trabalho que, apesar de historicamente ter uma grande importância na nossa Sociedade, registou um aumento de procura ao longo deste ano, fruto das novas formas de trabalho que têm sido implementadas pelas empresas e das alterações legislativas apresentadas pelo Governo.
A segunda tendência integra os setores da saúde, energia, tecnologia, fintech e criptomoedas, que têm registado um crescimento significativo de investimento em 2021. A estes junta-se ainda a área de reestruturação de empresas que teve uma variação positiva neste ano, em resultado de uma ligeira reformulação do tecido empresarial português. Finalmente, também a área de ESG, uma das nossas prioridades estratégicas, tem indiciado uma maior procura nos últimos meses, e temos desenvolvido várias estratégias de desenvolvimento e investimento sustentável junto de organizações de vários setores.
Quais são as expectativas para 2022 em termos de volume de negócios?
De entre toda a incerteza que ainda prevalece sobre 2022, existe um sentimento de otimismo tímido em relação ao próximo ano. Acredito que, se conseguirmos ter a situação pandémica mais estabilizada em Portugal e um cenário político estável a partir do próximo período eleitoral, poderemos ter um mercado de advocacia mais dinâmico, estimulado pela diversidade de projetos que poderão resultar do PRR, da tendência de digitalização da economia e das alterações preconizadas pelo Green Deal, com foco nas decorrentes do pacote Fit for 55.
Serão por isso várias as oportunidades de assessoria e acompanhamento jurídico que as Sociedades de Advogados poderão ter ao longo do próximo ano. O investimento que resulta do Plano de Recuperação e Resiliência, acima dos 16 mil milhões de euros, irá, previsivelmente, ser acompanhado de projetos em áreas como as infraestruturas, o imobiliário, o ambiente, a economia digital ou a saúde.
Por outro lado, a predisposição das empresas e Clientes para uma aposta mais estratégica em áreas pioneiras como as Criptomoedas, NFTs, Fintech/Insurtech, Inteligência Artificial ou Blockhain, poderá abrir espaço para o aprofundamento de serviços nestas áreas, até pela possibilidade de existirem em 2022 novidades importantes ao nível da legislação nacional e europeia sobre estes assuntos.
Por fim, a necessidade de cumprimento dos objetivos do Green Deal, levará a uma adaptação, em 2022 e nos anos seguintes, das cadeias de abastecimento e produção das empresas e também aqui as Sociedades de advogados terão um papel fundamental no apoio aos projetos de transformação e de sensibilização para as métricas ESG, pelo que esta será, inevitavelmente, uma área relevante em termos de volume de negócios no próximo ano.
Que tipo de operações podem vir a acontecer?
No próximo ano, acredito que poderemos assistir a um crescimento de operações de M&A e de reestruturação empresarial, como consequência do aumento dos créditos em incumprimento por parte de algumas empresas de setores mais afetados pela pandemia. Também a área de Direito do Trabalho terá, previsivelmente, um crescimento relevante, com a reformulação dos modelos de trabalho das organizações e da relação entre empregador e colaborador, após a entrada em vigor das recentes alterações legislativas.
Como referido na resposta anterior, a concretização do PRR e dos objetivos previstos no Green Deal, representam uma oportunidade para o mercado de advocacia, nomeadamente na identificação de oportunidades e projetos para as empresas, através dos quais os Clientes possam, por um lado, maximizar o financiamento europeu e, por outro, criar mecanismos eficientes de ESG para cumprir o que poderá ser definido pelo pacote Fit for 55.
Além disso, é expectável um maior número de operações de entrada no mercado português por parte de Fintech e Insurtech internacionais, com o nosso país a ser visto, cada vez mais, como um destino competitivo e atrativo para este tipo de empresas e start-ups, seja pela mão-de-obra qualificada de que dispomos, seja pelo ecossistema local favorável ao empreendedorismo ou pelas políticas de incentivo à inovação.
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“No próximo ano poderemos assistir a um crescimento de operações de M&A e de reestruturação empresarial”, diz Inês Sequeira Mendes
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