Casas sobrelotadas, rendas mais altas e despesas a subir. Um retrato da habitação na UE
Na última década, muita coisa mudou em termos de habitação na União Europeia. Os preços das casas e as rendas sobem há sete anos, assim como as despesas com a água, gás e luz.
A habitação mudou muito na última década na União Europeia (UE). Os preços das casas e as rendas não param de subir desde 2013 e o mesmo acontece com as faturas da luz, água e eletricidade. Ao mesmo tempo, numa região onde a maioria das famílias é proprietária de um imóvel, as áreas não têm acompanhado essa tendência crescente, já que 18% da população europeia vive em casas sobrelotadas. O Eurostat publicou na sexta-feira o relatório “Housing in Europe – 2021”, onde traça o retrato da habitação na UE.
Moradia ou apartamento? Comprar ou arrendar?
Mais de dois terços da população europeia têm casa própria, refere o Eurostat. Contudo, ser proprietário ou inquilino de um imóvel é algo que difere significativamente entre os Estados-membros. Em 2020, 69,7% das famílias viviam numa casa comprada, enquanto apenas 30,3% arrendavam.
As maiores discrepâncias foram observadas na Roménia (96% da população tem casa própria), na Eslováquia (92%) e na Croácia e Hungria (ambos com 91%). No lado oposto, aparecem a Alemanha, com uma proporção semelhante (50% da população arrenda casa), a Áustria (45%) e a Dinamarca (41%). Portugal aparece mais ou menos a meio da tabela, acompanhando a tendência europeia, com 77,3% de proprietários e 22,7% de inquilinos.
E na hora de escolher onde morar, seja para arrendar ou comprar casa, a escolha é semelhante: 53% da população da UE vive numa moradia e 46% vive num apartamento. O Eurostat nota que cerca de 1% dos europeus vivem noutro tipo de alojamento, como barcos-casa ou carrinhas. Nas cidades (zonas urbanas), 72% das pessoas vivem num apartamento e 28% numa moradia, enquanto nos subúrbios 59% vivem numa moradia e 41% em apartamentos. Já nas zonas rurais, 82% vivem numa moradia e apenas 18% em apartamentos.
Numa análise aos Estados-membros, a Croácia (78%), a Bélgica (77%) e a Holanda (75%) são aqueles em que a maioria da população vive numa moradia (incluindo casas geminadas), enquanto Espanha (66%), Letónia (65%) e Estónia (61%) têm as quotas mais altas de pessoas a viver em apartamentos. Portugal, mais uma vez, acompanha a média europeia, com 53,3% das pessoas a viverem numa moradia e 46,7% num apartamento.
Quantas pessoas por casa? E quantos quartos?
Moradia ou apartamento, comprado ou arrendado. O Eurostat calculou também as dimensões das habitações através do número médio de quartos por pessoa. E concluiu que, em 2020, cada habitação tinha, em média, 1,6 quartos por pessoa.
O maior número de quartos foi observado em Malta (2,3 quartos por pessoa), seguido pela Bélgica e pela Irlanda (ambos 2,1 quartos). No outro extremo aparecem a Roménia (1,1 quartos), Croácia, Letónia, Polónia e Eslováquia (todos com 1,2 quartos em média por pessoa). Em Portugal a média é superior à europeia: 1,7 quartos por pessoa.
Importa ainda saber que, em média, cada casa na UE tem a viver uma família com 2,3 pessoas. A Eslováquia aparece no topo (2,9 pessoas), à frente da Polónia (2,8 pessoas) e da Croácia (2,7 pessoas). No lado oposto aparecem a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca com uma média de duas pessoas. Portugal surge acima da média europeia, com 2,5 pessoas.
Há quem viva em casas sobrelotadas ou sem condições
O Eurostat foi perceber como são as casas na UE no que toca às condições que oferece aos habitantes. Percebeu-se que, em 2020, 17,8% da população europeia vivia numa casa sobrelotada, o que mostra, ainda assim, uma melhoria face a 2010 (19,1%).
Roménia (45,1%), Letónia (42,5%) e Bulgária (39,5%) têm as taxas de sobrelotação mais elevadas, enquanto o Chipre (2,5%) e Malta (4,2%) têm as mais baixas. Portugal está abaixo da média da UE, nos 9%.
Mas também há quem vive em casas sublotadas, ou seja, grandes demais para as necessidades das pessoas que lá vivem. De acordo com o Eurostat, quase um terço da população europeia (32,5%) vivia em casas sublotadas, uma proporção que se tem mantido praticamente estável desde 2010. A explicar este número estão as pessoas mais velhas ou casais que ficam nas suas casas depois de os filhos crescerem e saírem de casa, diz o Eurostat.
Em 2020, as maiores proporções de casas subocupadas foram observadas em Malta (72,5%), Chipre (71,4%) e Irlanda (63,3%), e as menores na Roménia (7,1%), Letónia (10,3%) e Grécia (11%). Portugal está nos 36,3% de população a viver em casas maiores do que o necessário.
Num cenário mais extremo, continua a haver quem viva sem condições de habitabilidade, como a capacidade de manter a casa aquecida, a falta de casa de banho ou água a entrar pelo telhado. De acordo com o Eurostat, na UE em 2020, 8,2% da população não tinha como manter a casa quente, sobretudo na Bulgária (27,5%), Lituânia (23,1%), Chipre (20,9%) e Portugal (17,5%).
Além disso, 1,5% da população não tinha casa de banho, duche ou banheira, principalmente na Roménia (21,2% da população), Bulgária e Letónia (ambos com 7%). No que diz respeito a água a entrar pelo telhado, 13,9% das pessoas tinham esse problema, sobretudo no Chipre (39,1%), Portugal (25,2%) e Eslovénia (20,8%).
Preços subiram 26% e rendas 14% na última década
Olhando para a tendência dos preços das casas entre 2010 e 2020, o Eurostat nota que tem havido uma “tendência ascendente constante desde 2013, com aumentos particularmente grandes entre 2015 e 2020”. Ao todo, entre 2010 e 2020, os preços das casas subiram 26%.
Numa análise aos vários Estados-membros, as maiores subidas aconteceram na Estónia (+108%), Hungria (+91%) e Luxemburgo (+89%), enquanto as maiores descidas observaram-se em Itália (-15 %), Espanha (-5%) e Chipre (-4%).
No que diz respeito a rendas, a tendência é semelhante. Houve um “aumento constante das rendas na UE entre 2010 e 2020” — no total 14% durante todo o período. Registou-se um aumento das rendas em 25 Estados-Membros e uma diminuição em dois. Os maiores aumentos foram registados na Estónia (+145%), Lituânia (+107%) e Irlanda (+63%), enquanto as maiores descidas aconteceram na Grécia (-25%) e no Chipre (-5%).
Faturas de água, luz e gás podem ser 84% mais caras do que a média europeia
Morar numa casa implica despesas fixas todos os meses, como a água, luz e o gás. E o custo destas faturas varia significativamente entre os Estados-Membros da UE, diz o Eurostat. Os custos de habitação mais elevados em 2020 em comparação com a média da UE foram encontrados na Irlanda (84% acima da média da UE), Dinamarca (66% acima) e Luxemburgo (64% acima). Por outro lado, os mais baixos foram observados na Bulgária (65% abaixo da média da UE) e na Polónia (61% abaixo).
As casas são acessíveis aos rendimentos das famílias?
Com o aumento dos preços e das rendas, o custo de uma casa pode ser um fardo, diz o Eurostat. Isso pode ser medido pela taxa de esforço, que mostra a percentagem de população cujo custo total da habitação representa mais de 40% dos rendimentos disponíveis. Na UE em 2020, 12,3% da população de zonas urbanas vivia com uma taxa de esforço acima dos 40%, enquanto a taxa correspondente para as áreas rurais era de apenas 7%.
A sobrecarga dos custos com a casa é mais elevada nas cidades do que nas zonas rurais em todos os Estados-Membros, exceto na Bulgária, Roménia, Croácia e Lituânia. As maiores percentagens de pessoas cuja taxa de esforço supera os 40% foram observadas na Grécia (36,9%), Alemanha (22,2%) e Dinamarca (20,3%), enquanto as percentagens mais pequenas estão em Malta (2,8%), Chipre (2,4%) e Lituânia (1,4%). Em Portugal, 4,8% das pessoas vivem com uma taxa de esforço acima dos 40%.
Outra forma de verificar se a habitação é acessível é através da proporção do custo da habitação no rendimento disponível total. Em média, na UE em 2020, 20,1% do rendimento disponível era dedicado a despesas de habitação. Este valor difere entre os Estados-Membros, com as percentagens mais elevadas na Grécia (36,6%), Alemanha (29,7%) e Dinamarca (26,4%) e as mais baixas em Malta (9%), Chipre (11,2%) e Lituânia (12,5%).
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