Lisboa não se deve posicionar no turismo de massas, diz diretora-geral do Time Out Market

“Vejo uma recuperação substancialmente melhor e mais rápida do que a maioria das pessoas perspetiva”, diz Ana Alcobia. Mas com novas restrições defende que deveria haver uma adaptação dos apoios.

Ana Alcobia, diretora-geral do Time Out Market, conta que reduziram a ocupação em 30%, exigem o certificado de vacinação, recuperação ou teste PCR ou teste negativo ainda antes da entrada no espaço e de duas em duas semanas todos são testados em parceria com a CML.D.R.

Lisboa não se deve posicionar no turismo de massas e a pausa proporcionada pela pandemia deveria ter dado tempo para se definir onde apostar, que áreas e serviços devem ser ajudados e para onde devem ser canalizados os apoios. Apoios que têm necessariamente de ser redesenhados à luz das novas restrições impostas pela pandemia. Esta é a posição de Ana Alcobia, a diretora geral do Time Out Market, o primeiro mercado do mundo com curadoria editorial, inaugurado em 2014 e que já se reproduziu por cidades como Miami, Nova Iorque, Boston, Chicago, Montreal e, este ano em plena pandemia, Dubai.

“Há cidades que têm de se posicionar no turismo de massas. Não é o caso de Lisboa, que não o deve fazer de forma nenhuma”, diz Ana Alcobia em conversa com o ECO. “Mas isto só se consegue controlar através dos serviços que oferecemos às pessoas”, defende. “Durante a pandemia poderia ter sido feita alguma escolha prática do que é para continuar ou não. Em 2019 estávamos num comboio em alta velocidade, tudo estava a acontecer ao mesmo tempo e esta pausa poderia ter-nos dado tempo para pensarmos o que se deve apostar, a quem dar apoios, as áreas e serviços que devem ser ajudados”, explica a responsável do Time Out Market. Um “food hall de curadoria que não está integrado em nenhuma categoria da DGS” e que tem “o mesmo tráfego do Empire State Building”, quatro milhões de visitantes em 2019, conta.

Defensora de que há “espaço para todos”, a diretora geral do Time Out Market considera que “Lisboa tem toda a capacidade para ser um short break de imensa qualidade, com uma oferta de mais alto nível para um turismo mais seleto”.

Haverá alguma subida de preços”, admite, mas “os preços em Portugal são invulgarmente baixos na restauração e a mentalidade das pessoas também vai mudar”. “O que espero é que Lisboa continue no caminho da qualidade e a mostrar o melhor de nós. Só assim vale todo o esforço e empenho para ter turistas na cidade e produtos de qualidade”, acrescenta.

Neste esforço de aumento da qualidade a responsável defende que a necessidade de profissionalizar a mão-de-obra “do atendimento à copa”, porque “na restauração, um bom e um mau funcionário fazem toda a diferença”. Ana Alcobia confirma as atuais “dificuldades de contratação”, e aponta para soluções como a aposta a formação, um envolvimento diferente com as marcas/restaurantes e até pensar em ritmos de trabalho diferentes como trabalhar três dias e folgar logo um. “A restauração já não estava a pagar o salário mínimo, mas este é um trabalho duro. Por isso a motivação já não é o dinheiro, mas as condições de trabalho, as perspetivas de evolução e a qualidade de vida”, frisa a responsável. “Se formos honestos, é algo que todos equacionámos durante a pandemia”, diz.

Ana Alcobia assume-se como otimista. A “nuvem negra” que todos antecipam no futuro é posta em perspetiva pela responsável: “As crises são sempre muito benéficas para salvar os melhores e para aqueles que durante a massificação não conseguiram mostrar o quão essenciais são o fazerem”. “Vejo uma recuperação substancialmente melhor e mais rápida do que a maioria das pessoas perspetiva”, afirma.

O Time Out Market esteve fechado mais de um ano, como muitos restaurantes, mas durante esse tempo não exigiu rendas a quem alugava os espaços na Ribeira e suportaram os custos da mão-de-obra que não conseguiu ser recolocada noutros pontos. “Foi uma política nossa, assumimos que teríamos de ser nós a ajudar, porque não queríamos que os nossos parceiros suportassem ainda mais custos tendo em conta que já tinham problemas nos seus próprios restaurantes”, conta Ana Alcobia. Uma ajuda prestada mesmo quando a própria empresa não teve acesso a muitos apoios, para além dos descontos de renda, e continuou a suportar os custos de manutenção do espaço.

Por isso, agora que há novas restrições tendo em conta a evolução da pandemia – já com mais e nove mil casos – Ana Alcobia defende que “deveria haveria haver uma adaptação dos apoios disponibilizados”, porque “estar fechado e não ter qualquer tipo de operação remete para um apoio estilo lay-off ajuda, mas há muito mais custos quando as operações podem acontecer”, sublinha.

Para trás fica o marco histórico de quatro milhões de visitantes em 2019. Com o aparecimento da nova variante, condicionamento nas viagens e até o teletrabalho “as coisas estão a abrandar novamente”, reconhece e agora o espaço é frequentado por cerca de cinco a seis mil pessoas diariamente, valores idênticos aos verificados quando a operação arrancou.

Mas semanas como a do Web Summit, quando se voltou aos 11 mil visitantes por dia, são uma prova de que basta o turismo regressar para a situação melhorar. “Quando tínhamos quatro milhões de visitantes, 30% eram locais. Isto significa que não temos falta de público local, porque isto é praticamente toda a cidade de Lisboa, temos é um excesso de público estrangeiro e daí o trabalho em continuar a trazer o público local”, conta a responsável.

E esse trabalho passa também por novas aberturas. Para já Ana Alcobia apenas fala do Porto, “no segundo semestre de 2022”, uma decisão que já foi comunicada aos mercados. E fora de Portugal? “Para já não”, diz. “Mas podem existir algumas surpresas”, admite. Na página de Linkedin do grupo é anunciado que no pipeline está prevista a abertura além da Invicta, também em Praga, Abu Dhabi e Londres.

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