AEP fecha contas com a banca no plano com que evitou a falência

A associação empresarial nortenha pagou aos bancos a última prestação da dívida relativa ao "duro" plano de reestruturação aprovado há oito anos pelos credores e anuncia o regresso aos lucros.

A Associação Empresarial de Portugal (AEP) acaba de pagar a última tranche, no valor de 1,3 milhões de euros, do saldo da dívida que foi acertado com um sindicato bancário no âmbito do Processo Especial de Revitalização (PER) que salvou a instituição da falência, apresentado em 2013 quando acumulava um passivo a rondar os 100 milhões de euros.

O acordo assinado com os credores incluía um empréstimo a dez anos no valor de 6,5 milhões de euros, a que se somavam 10,5 milhões para a reestruturação de todo o passivo de curto e médio prazo. “Após a dação em pagamento do edifício do Europarque [centro de congressos], ficaram estes 17 milhões de euros, que foi o que agora terminámos de liquidar”, contabiliza o presidente, Luís Miguel Ribeiro.

Em declarações ao ECO, o líder da mais representativa associação empresarial do Norte salienta que este acerto de contas acontece três anos antes do prazo – com a pandemia podia ser estendido até 2024 – e fala numa “sensação de dever cumprido”, destacando ser “provavelmente das poucas instituições neste país a cumprir integralmente um PER”.

Foi um processo duro para a instituição. Foi muito exigente, mas estamos satisfeitos por termos cumprido com toda a gente, com aquilo que era a nossa obrigação.

Luís Miguel Ribeiro

Presidente da AEP

“Foi um processo duro para a instituição. Foi muito exigente, mas estamos satisfeitos por termos cumprido com toda a gente, com aquilo que era a nossa obrigação. Por outro lado, libertámo-nos de uma série de encargos e isso permite-nos olhar para o futuro com outra ambição e encarar novos desafios. (…) Depois de arrumar a casa, temos agora mais energia, foco e disponibilidade para defender e apoiar as empresas”, resume Luís Miguel Ribeiro.

Fundo “limpou” passivo bancário

Depois de ter estado à beira da falência por causa da atividade como promotora imobiliária – acabou por deixar o Europarque, em Santa Maria da Feira, nas mãos do Estado –, a AEP apresentou em março de 2013 um PER no Tribunal do Comércio de Gaia. Um plano com garantia de aprovação, por via do acordo extrajudicial assinado com as entidades que agregavam cerca de 78% do total dos créditos: nove bancos, juntamente com a Associação Exponor (participada da AEP e credora de 27,5 milhões de euros).

A principal peça do plano de reestruturação financeira foi a constituição do fundo Nexponor, gerido pela FundBox, que passou a deter os terrenos e as instalações da Exponor em Matosinhos – e que absorveu a dívida bancária da AEP. Isto é, a instituição liderada então por José António Barros entregou a Exponor a este fundo imobiliário, uma operação que, através da conversão dos créditos da banca em unidades de participação, “limpou” o grosso do passivo bancário da AEP.

Os ex-presidentes José António Barros e Paulo Nunes de Almeida desenharam e executaram o plano de recuperação da AEP, concluído por Luís Miguel Ribeiro (à direita)Ricardo Castelo

A 3 de junho de 2013, o Nexponor foi admitido à cotação no Alternext com um valor de 65,2 milhões de euros – a AEP subscreveu um total de 6,2 milhões de euros em ações –, e tornou-se a segunda empresa portuguesa nesse mercado bolsista dedicado às pequenas e médias empresas, juntando-se então à tecnológica Intelligent Sensing Anywhere (ISA).

No âmbito laboral, o plano de reestruturação económico-financeiro previa um corte em quase um terço (30%) do seu efetivo, que na altura rondava 240 pessoas – já muito abaixo dos mais de 350 trabalhadores que chegou a ter na folha de pagamentos cinco anos antes desta intervenção -, estimando um custo com indemnizações de 1,7 milhões de euros. A AEP emprega atualmente 123 pessoas.

Numa carta enviada aos associados, a que o ECO teve acesso, Ribeiro destaca o trabalho realizado pelos antecessores – José António Barros e Paulo Nunes de Almeida – e pela atual equipa dirigente, e agradece às empresas que “confiaram na capacidade da recuperação” e aos colaboradores do grupo AEP que “de forma notável se empenharam na resolução da situação”. Nesta missiva, o gestor assume ainda o compromisso de prosseguir “uma trajetória de grande solidez”.

Libertar “garrote” dos juros e voltar aos lucros

De acordo com os dados facultados pela instituição sediada em Leça da Palmeira (Matosinhos), o passivo bancário é neste momento inferior a um milhão de euros. O orçamento para 2022 prevê baixar este montante para cerca de 400 mil euros no final do próximo ano, apontado como “um valor de liquidez para a execução dos programas comunitários”.

Após viver muitos anos em asfixia em termos de tesouraria – chegou a pagar um valor superior a quatro milhões de euros em juros em 2012 -, a associação empresarial calcula que a despesa com juros vai ser inferior a 50 mil euros no final de 2021. Reclama ter agora uma autonomia financeira de 73% e pagar a 30 dias a todos os fornecedores.

Luís Miguel Ribeiro, presidente da AEP.

A AEP prevê fechar este ano com lucros de 241 mil euros e ficar acima dos 300 mil euros no exercício seguinte. “Houve um período com resultados negativos porque tivemos de registar imparidades num desinvestimento em terrenos que tinha a ver com o projeto do Europarque e também de criar algumas provisões por causa de alguns processos fiscais. Neste momento não temos imprevistos nem situações pendentes, por isso temos estas previsões para 2021 e 2022”, justifica o presidente.

No que toca à atividade na Exponor – Feira Internacional do Porto, cuja entidade gestora (Finiporto) detém a 100% e consolida com as contas da AEP –, Luís Miguel Ribeira sublinha que o parque de exposições “continua a ser muito importante” para a associação empresarial. Teve “um ano positivo em 2021”, apesar das restrições relacionadas com a pandemia, e estão já agendados 30 eventos para 2022, “o que permite ter um volume de negócios e uma atividade interessantes”.

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