Liderança política da UE nas mãos de Macron, Draghi e Scholz no pós-Merkel
A saída de cena de Angela Merkel pode permitir uma "visão francesa” da Europa, mas Macron terá de disputar a liderança europeia com Scholz e Draghi, defendem analistas.
A liderança política na União Europeia (UE), assumida durante 16 anos por Angela Merkel, fica agora nas mãos do Presidente francês, Emmanuel Macron, do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, e do chanceler alemão, Olaf Scholz, defendem analistas europeus.
Num recente inquérito publicado pelo grupo de reflexão do Conselho Europeu das Relações Externas (ECFR), 41% dos cidadãos europeus votariam em Angela Merkel para liderar a UE, contra 14% em Emmanuel Macron.
Com a saída de Merkel do poder na Alemanha e a sua sucessão assegurada por Scholz, este é um dos ‘candidatos’ à liderança política europeia em 2022, juntamente com Macron e Draghi, defendem especialistas em assuntos europeus ouvidos pela agência de notícias AFP.
Porém, de acordo com os mesmos analistas, nenhum destes responsáveis terá a capacidade de liderar sozinho, dada a profundidade dos problemas da UE, desde o declínio do Estado de direito até ao risco de marginalização geopolítica.
Alexandre Robinet-Borgomano, do grupo de reflexão francês Institut Montaigne, considera que a saída de cena de Angela Merkel poderia “permitir que a visão francesa” da Europa se impusesse, dentro do designado eixo franco-alemão. Macron concorre às Presidenciais francesas da primavera para trabalhar por “uma Europa poderosa no mundo, totalmente soberana, livre das suas escolhas e mestre do seu destino”, como já veio dizer.
E, na visão do antigo primeiro-ministro francês Jean-Pierre Raffarin, Macron poderia mesmo assumir as rédeas se, “após ser reeleito Presidente, construísse com o chanceler alemão a liderança que cruelmente falta na Europa, da qual pode ser, ao mesmo tempo, a figura da juventude e da experiência”.
“A vantagem política e internacional de Emmanuel Macron é que ele é tanto o mais jovem como o mais experiente”, assinala Jean-Pierre Raffarin, num artigo no jornal L’Opinion.
Na passada quinta-feira, foram também dados passos para solidificar o eixo franco-italiano, com Macron e Draghi a publicarem uma posição conjunta para defender uma reforma das regras orçamentais europeias (que definem tetos apertados para o défice e a dívida pública) para dar mais margem para investimentos na UE.
Draghi, que já foi apelidado de “Super Mario” dado o seu anterior mandato à frente do Banco Central Europeu, é também visto como potencial candidato à liderança política europeia, considera Nicoletta Pirozzi, do grupo de reflexão italiano Istituto Affari Internazionali.
“Draghi poderia preencher o vazio deixado por Merkel como construtor de consensos” na UE e, “ao contrário da abordagem de Merkel, poderia dar um novo dinamismo na integração europeia nos domínios económico ou da defesa”, argumenta Nicoletta Pirozzi. Ainda assim, o nome de Draghi está a ser apontado para o cargo de novo chefe de Estado italiano.
Outro possível ‘candidato’ à liderança política europeia é, ainda, o sucessor de Merkel, Olaf Scholz, que assumiu no seu programa de governo a intenção de “aumentar a soberania estratégica da UE”. Porém, para os analistas Piotr Buras e Jana Puglierin, do ECFR, “não é provável que [Scholz] sobreviva a Merkel” dado que “não aborda muitos dos desafios da Europa, tais como a pandemia, as alterações climáticas e a competição geopolítica internacional”.
Já Helen Thompson, professora de Economia Política da Universidade de Cambridge, adianta que a UE “não pode ser liderada neste momento” por estar “enfraquecida pela rivalidade entre os Estados Unidos e a China”. Além disso, “ninguém vai tornar-se numa nova Merkel”, conclui Helen Thompson.
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