Encerrar manutenção no Brasil vai custar até 110 milhões à TAP
Adquirida em 2006, a Manutenção e Engenharia Brasil deixou um buraco nas contas da companhia. Pôr um ponto final no negócio mais ruinoso da TAP vai custar milhões.
Fernando Pinto era o presidente da TAP quando fechou a aquisição da unidade de Manutenção e Engenharia da Varig, em 2006. O negócio revelou-se ruinoso, acumulou prejuízos durante mais de uma década, empurrando para o vermelho as contas da companhia aérea. Vai, finalmente, ser liquidado. Mas até o fecho terá um custo elevado.
O Grupo TAP informou esta quarta-feira em comunicado que decidiu encerrar as operações de Manutenção e Engenharia Brasil (TAP ME Brasil), conforme estava previsto no plano de restruturação aprovado em dezembro pela Comissão Europeia. Uma opção que significa que não foi possível encontrar um interessado para a compra da empresa.
A liquidação terá custos. O ministro das Infraestruturas afirmou, em entrevista ao ECO a 23 de dezembro, que fechar a TAP ME Brasil custará “no máximo, 110 milhões de euros”. “Se nós tivéssemos tomado esta decisão há muito mais tempo, tinham-se poupado uma centenas de milhões de euros: 800 a 900 milhões”, acrescentou.
Aquele é o valor que a TAP SA, proprietária da companhia aérea, emprestou à TAP SGPS para tapar os prejuízos provocados pela manutenção no Brasil. “Quem andou a financiar isto foi a TAP SA, a emprestar à TAP SGPS. Por isso é que quando nós fomos a Bruxelas havia quem dissesse que nós podíamos separar as duas e levar a Bruxelas só a TAP SA e Bruxelas não foi nessa cantiga. Porque a TAP SGPS devia 800 milhões de euros à TAP SA”, explicou Pedro Nuno Santos.
Christine Ourmières-Widener esteve no Brasil em novembro, em visita à operação naquele que é o principal mercado da companhia aérea no estrangeiro. A venda ou liquidação da TAP ME Brasil foi um dos temas na agenda.
Segundo números recolhidos pela Lusa, a empresa de manutenção brasileira recebeu 538 milhões de euros em injeções financeiras do grupo entre 2010 e 2017. A CEO afirmou à agência que a empresa tem atualmente 500 trabalhadores, estando no ativo, pouco menos de 400.
A aquisição da antiga Varig Manutenção e Engenharia (VEM) foi fechada por Fernando Pinto em 2006, por 24 milhões de dólares, no estertor da companhia área brasileira. Além da VEM, foi também adquirida a Varig Logística, no âmbito de um plano que era suposto levar à aquisição da própria Varig, onde o então presidente da TAP trabalhara anos a fio.
A compra, por 24 milhões de dólares, foi assessorada pelo advogado Diogo Lacerda Machado, que mais tarde seria administrador da TAP. “O preço da VEM foi imensamente baixo porque resultou de uma circunstância muito adversa da Varig, que precisava desesperadamente de meios financeiros, e a única hipótese foi oferecer [as empresas] a um preço escandalosamente baixo porque a sua necessidade [de dinheiro] era para o dia seguinte”, afirmou, em 2016, numa audição no Parlamento. “A VEM tem um potencial extraordinário, e um valor muitíssimo interessante”.
Apesar de sucessivas reestruturações que foram emagrecendo o quadro de pessoal que chegou a ter mais de 4.000 trabalhadores, o potencial nunca se realizou. A TAP ME Brasil teve prejuízos de 31,9 milhões em 2016, de 50,1 milhões em 2017, de 51,6 milhões em 2018, de 14,7 milhões em 2019 e de 31,3 milhões em 2020. Nunca chegou a ter um ano positivo desde que foi adquirida.
A compra seria objeto de uma investigação judicial, iniciada em 2010, visando Fernando Pinto e mais quatro ex-administradores, por suspeita de administração danosa, tráfico de influência, branqueamento, corrupção passiva, corrupção ativa, participação económica em negócio, burla, prevaricação e abuso de poder. O Ministério Público absolveu, em outubro, todos os arguidos.
Passados 15 anos, a TAP ME “não aceitará novos pedidos para prestação de serviços de manutenção“, garante o grupo em comunicado. Os serviços já contratados ou em andamento “serão realizados normalmente”, conforme o acordado com os clientes, acrescenta.
A TAP garante que a decisão “não interfere na operação de transporte aéreo de passageiros no país“, que é o seu principal mercado exterior, representando entre 25% e 30% da receita. Pelo contrário, diz que a expectativa passa pela expansão dos voos semanais para as 11 capitais estaduais onde opera.
A Comissão Europeia deu luz verde ao plano de reestruturação da TAP no dia 21 de dezembro, obrigando, no entanto, a companhia a ceder 18 slots (nove pares de descolagem e aterragem) no aeroporto de Lisboa e a vender as participações na Cateringpor, Groundforce e Manutenção & Engenharia Brasil. No caso desta última, em cima da mesa estava também a hipótese de uma liquidação, como irá acontecer.
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