Um debate basta para ganhar eleições? O duelo entre Rio e Costa
O debate desta quinta-feira entre Rui Rio e António Costa é visto como o mais importante dado o encurtamento da distância entre PSD e PS nas sondagens. Um deslize no debate pode ser decisivo.
“Era o que mais faltava que ficasse tudo decidido ali numa hora“. A frase é de Rui Rio, mas será mesmo assim? O líder social-democrata, que debate esta quinta-feira com o incumbente António Costa, relativizou este momento alto da campanha: considera que é “importante”, mas não “decisivo”. Os politólogos ouvidos pelo ECO concordam com o líder do PSD, mas alertam que qualquer deslize de caráter terá impacto, mais do que questões técnicas.
Esta é a segunda vez que Rio e Costa disputam o cargo de primeiro-ministro, depois de em 2019 os dois ex-autarcas das principais cidades do país terem concorrido, com a vitória a recair sobre o PS. Mas nem tudo é igual e há diferenças no momento político, desde logo porque os socialistas apresentam-se a eleições após o divórcio da geringonça e a pedir explicitamente uma maioria absoluta. Porém, passaram dois anos duros de pandemia e há quem fale de desgaste.
No caso do PSD, o líder social-democrata viu recentemente a sua posição reforçada ao vencer novamente eleições internas, após quatro anos na oposição. Os laranjas podem beneficiar de uma maior bipolarização entre o PS e o PSD nestas eleições, mas o cenário pós-eleições tornou-se mais complexo com a entrada do Chega no Parlamento e a ascensão do partido prevista pelas sondagens.
Viriato Soromenho Marques concorda com Rui Rio: “O debate é importante, mas não é decisivo“. Mas pode vir a ser decisivo “se existir qualquer episódio, um caso estranho, uma coisa bizarra que pusesse em causa o caráter de qualquer um dos protagonistas”, admite o politólogo ao ECO, antecipando que neste caso “não haverá nada disso” uma vez que ambos “têm a perfeita noção do que é falar no espaço público” e são “experientes e batidos” nas fórmulas dos debates televisivos.
Para o professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa “o que pode fazer perder o debate não é uma questão técnica, como a de 2015 de Costa, mas sim qualquer questão que abra uma ferida de caráter em que, de repente, o eleitor em casa se surpreenda face a uma atitude eticamente reprovável, que revele arrogância, mau feitio ou falta de respeito”. Em 2015, foi uma proposta do PS sobre a redução da despesa com prestações sociais que marcou o debate das rádios, tendo sido aproveitado então por Passos Coelho perante a falta de explicações de Costa, como relata este artigo da Rádio Renascença.
Paula Espírito Santo admite que o debate desta quinta-feira possa ser “decisivo” em certas circunstâncias, mas alerta que “a influência dos debates é limitada” e que estes já tiveram maior impacto no passado. Atualmente acabam por ser “mais um elemento, entre vários, como as sondagens e os os ecos sobre o debate que ajudam a formar opinião” que conta para a formação da opinião do eleitor.
A politóloga do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) considera que o “desempenho de ambos vai ser muito escrutinado” e que “qualquer tipo de falha ou incapacidade de apresentação de argumentos pode não ser favorável”, mas os fatores subjetivos também serão importantes. Recordando a “sobranceria” de Fernando Medina no debate com Carlos Moedas, a qual “poderá não ser bem vista”, este tipo de atitude “pode acabar por ter efeito negativo”.
Sobre Rio, a politóloga diz que tem a “sinceridade a seu favor”, mas avisa que não pode “abusar da ironia, da metáfora ou do exagero para fazer vincar as suas posições”, como é habitual fazer, principalmente na sua conta de Twitter. Já sobre Costa diz que “tem tido uma atitude calma e construtiva, até porque não tem motivos para estar nervoso” dadas as sondagens, em comparação com episódios em que os nervos vieram à flor da pele como na entrevista com Vítor Gonçalves na RTP em 2015 ou a exaltação com o popular que o abordou em 2019 no Terreiro do Paço.
Uma opinião corroborada por Viriato Soromenho Marques que prevê que Costa vá “manter a postura de calma” com que tem encarado estes debates, evitando “alguma exaltação, uma vez que os eleitores notam isso”. Para o politólogo, o primeiro-ministro “aprendeu com os próprios erros e os de Medina” na campanha das autárquicas, nomeadamente o “tom triunfalista” a anunciar o PRR.
Debate entre Rio e Costa mais importante do que em 2019
A diferença da geometria política entre 2019 e 2022 torna este debate mais importante aos olhos dos eleitores, considera Viriato Soromenho Marques, referindo que há uma convergência na leitura política feita pelo PS e pelo PSD: “Só um de nós pode vencer”, sintetiza, referindo que isso criará uma “maior polarização” entre os dois partidos, em contraste com a campanha de 2019 que era focada na reedição da geringonça. Neste campo, à esquerda, o politólogo considera que Costa “claramente ganhou em termos de narrativa na queda do Governo”.
Esta ideia é corroborada por Paula Espírito Santo: “Este debate tem maior importância do que o de 2019, até porque fala-se muito mais do voto útil e se percebe que os dois partidos estão a extremar posições porque um dos dois vai ser certamente líder do Governo“. Neste “tudo ou nada” entre Rio e Costa, a politóloga antecipa que a economia e a saúde sejam os temas quentes, mas também as questões da governabilidade — Rio exige que Costa seja transparente com os eleitores — após as eleições.
Até ao momento, a professora do ISCSP considera que Rio “está a ter uma boa prestação”, mostrando uma “postura de Estado que é digna de um futuro hipotético primeiro-ministro”, sem hostilizar “em demasia” o primeiro-ministro. Porém, Costa tem a “vantagem” de dominar mais os dossiers por causa da experiência governativa de seis anos e pode tentar “encostar o PSD ao Chega”.
Já o professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa antecipa que o socialista estará à defesa enquanto Rio estará ao ataque uma vez que representa a “viragem de tendência”. Costa “vai explorar um argumento fundamental que é o de que Rio foi incapaz de não entrar na conversa dos partidos à sua direita, sobretudo do Chega”, nomeadamente na questão da prisão perpétua e o acordo nos Açores. No final, ganhará aquele que conseguir conquistar a “confiança” dos eleitores.
Durante 75 minutos (uma hora e 15 minutos), Costa e Rio vão debater em frente aos eleitores em simultâneo nos três principais canais em sinal aberto. Em 2019, 2,7 milhões de cidadãos assistiram ao debate (Costa vs. Passos Coelho em 2015 tinha conseguido 3,4 milhões), mais de metade dos 5,25 milhões de eleitores que viriam a votar. Combinados, PS e PSD arrecadaram cerca de 3,35 milhões de votos nessas eleições.
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