32% das empresas esperam atingir níveis pré-pandemia só em 2023 ou mais tarde
Cresceu a fatia de empresas que esperam chegar aos níveis pré crise sanitária só em 2023 ou mais tarde, indicam os dados apresentadas pelo CIP e pelo Instituto Universitário de Lisboa
Cerca de 32% das empresas considera que só em 2023 ou até mais tarde conseguirão atingir níveis económicos semelhantes aos que registavam antes da crise pandémica. Este número foi apresentado pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e representa um aumento de nove pontos percentuais (p.p) da fatia de empresas com esta expectativa quanto ao futuro, face a novembro. Ou seja, há agora uma maior percentagem de empresas a acreditar que a recuperação acontecerá mais tarde.
De acordo com os dados divulgados esta segunda-feira, em janeiro de 2022, 26% das empresas inquiridas consideram já ter atingido um nível económico semelhante àquele que verificavam antes da pandemia, 6% esperam que tal aconteça ainda no primeiro semestre deste ano e 16% apontam para o segundo trimestre de 2022. Face a novembro de 2021, regista-se um crescimento de todas estas fatias: dois pontos percentuais, três pontos percentuais e três pontos percentuais, respetivamente.
No entanto, cresceu também, entre o penúltimo mês de 2021 e o primeiro de 2022, o grupo de empresas que acreditam que só em 2023 ou até mais tarde atingirão os níveis pré-Covid-19. Em novembro, 21% das inquiridas tinham essa expectativa. Em comparação, em janeiro, cerca de 32% admitem fazer agora essa previsão.
“Setorialmente a dispersão de respostas é uma evidência, com destaque para 26% considerarem que já se atingiu uma atividade semelhante ao período antes da pandemia. Contudo, 32% consideram que será só em 2023 ou mais tarde“, é destacado no inquérito Sinais Vitais.
Por outro lado, em termos regionais, as perspetivas de futuro são “um pouco piores“, com apenas 12% das empresas a considerar que já foi atingido o nível pré pandemia. Em contraste, 35% referem que só em 2023 ou até depois será possível ter um nível económico semelhante ao anterior à pandemia, tendo essa fatia crescido nove pontos percentuais face a novembro de 2021.
Ainda quanto ao futuro, as expectativas de vendas das empresas inquiridas é “positiva”, com 43% a esperarem um aumento, no primeiro trimestre de 2022. Isto quanto, há um ano (período marcado por severo agravamento da pandemia e das restrições a ela associadas) 23% das empresas antecipavam uma diminuição. “Esta perspetiva positiva é sobretudo verificada nas grandes empresas e nas médias empresas“, detalham a CIP e o ISCTE. De modo geral, indicam os dados agora divulgado, as empresas que esperam aumentar vendas projetam um acréscimo médio de 23% do seu volume de negócios.
Já no que diz respeito aos recursos humanos, em todas as tipologias de empresa predomina a expectativa de manter o número de postos de trabalho, no início deste ano. “Nas grandes empresas e nas médias, a expectativa de aumento do número de postos de trabalho é superior à média nacional”, é sublinhado no barómetro. Face ao mês anterior, verifica-se, de forma geral, uma melhoria: hoje a fatia de empresas que espera aumentar o número de emprego durante o primeiro trimestre do ano é mais expressiva.
Por outro lado, em termos de investimento, as expectativas para o primeiro trimestre do ano estão em linha com as que tinham sido registadas em novembro, com 30% das empresas a pensar investir mais do que em 2019 (estimando um acréscimo médio de 35%) e 49% a projetar a manutenção face a esse nível.
O barómetro apresentado esta segunda-feira dá conta ainda que, no início de 2022, 84% das empresas consideram que os programas de apoio estão aquém ou muito aquém do que necessitam, quando em novembro 87% eram dessa opinião. Além disso, 71% dos empresários ouvidos dizem que os programas de apoio são burocráticos ou muito burocráticos, “sendo que apenas 6% de todos as empresas consideram que são pouco ou nada burocráticos”.
Convém esclarecer que, da amostra de empresas inquiridas, 64% garantem não ter apresentado candidaturas a apoios à economia nos últimos três meses, sobretudo por não preencher as condições necessárias de elegibilidade e por não necessitar desses subsídios.
Já numa altura em que o número de infeções tem aumento de forma significativa, diminuiu em um ponto percentual (para 92%) a fatia de empresas que estão em pleno funcionamento e aumentou em um ponto percentual as que estão encerradas, face a novembro. De notar que entre 25 de dezembro e 14 de janeiro, uma série de atividades (bares e discotecas, por exemplo) estiveram obrigadas a fechar, para conter a escalada dos casos de Covid-19.
Por outro lado, o número de empresas respondentes que não têm este mês ninguém em teletrabalho representa a maioria (54%) e apenas 10% das empresas tem a totalidade dos colaboradores em teletrabalho. Ora, entre 25 de dezembro e 14 de janeiro, a adoção do teletrabalho foi obrigatória, para as funções compatíveis, mesmo na ausência de um acordo entre o empregador e o trabalhador. Este número apresentado pela CIP e pelo ISCTE pode ser explicado, contudo, pela composição da amostra: 423 empresas, sendo que 48% estão ligadas à indústria e energia, 12% ao comércio e 23% aos outros serviços, isto é, setores onde o teletrabalho é mais inviável.
O inquérito divulgado esta segunda-feira é o décimo nono feito no âmbito do “Projeto Sinais Vitais”, desenvolvido pela CIP em parceria com o Marketing FutureCast Lab do ISCTE. A recolha desta informação foi feita entre 4 e 12 de janeiro.
CIP apela a que partidos sejam “pragmáticos”
Seja qual for o resultado da ida às urnas de 30 de janeiro, o apelo da CIP é que os partidos “sejam pragmáticos e encontrem soluções“, adiantou esta segunda-feira Armindo Monteiro, na apresentação do referido barómetro.
O responsável sublinhou, além disso, que as eleições poderão mesmo provocar “muitas dificuldades“, caso os partidos fiquem a olhar para as suas próprias agendas e não se dediquem a servir o país. “Sem clareza e com indefinição política, os investimentos serão reduzidos ou adiados“, avisou Armindo Monteiro, acrescentando que Portugal não é a Alemanha no sentido em que por cá as empresas não têm as condições para esperar durante meses por uma solução de Governo. “O país não aguenta mais um trimestre que não seja um acelerador da economia“, defendeu.
“Hoje existe um défice de riqueza em Portugal. Quem cria não é o Estado. São as empresas e as famílias. São elas que vão sentir com maior intensidade o resultado destas eleições“, salientou o responsável da CIP. “Não se distribui o que não se cria”, enfatizou o mesmo.
Já sobre a falta de recursos humanos, Armindo Monteiro notou que esta é uma questão transversal a todos os setores e que não passa unicamente pelos salários, já que vários outros países estão a sentir o mesmo obstáculo apesar de oferecerem condições diferentes aos trabalhadores. “Não temos os recursos humanos suficientes para potenciar o crescimento“, alertou o responsável.
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