Falta mão de obra ao líder das exportações nacionais
É peso pesado da economia nacional. O setor metalúrgico exportou 14,6 mil milhões de euros em 2016, um novo máximo histórico. Com uma diversidade de empresas, a indústria tem falta de mão de obra.
É um dos principais motores da economia portuguesa e o ano de 2016 não é exceção. O setor da metalurgia e metalomecânica continua a saga de resultados históricos com as exportações a atingirem 14,6 mil milhões de euros, um crescimento de 0,2% face a 2015, que já tinha sido o melhor ano de sempre para o setor. Com um volume de negócios na ordem dos 28 mil milhões de euros, equivalente a 14% do PIB, representando 31% das exportações da indústria transformadora e empregando 200 mil trabalhadores, o setor metalúrgico assume-se como o grande setor da economia portuguesa. Entre os maiores problemas está a falta de mão-de-obra qualificada.
Os números de 2016 são considerados “muito bons” dentro do setor na medida em que demonstram que a perda de mercados como Angola e Brasil foram compensadas pelo crescimento em mercados dentro da União Europeia, principalmente Espanha e Reino Unido. O setor exporta 80% para a Europa e 20% para fora do velho continente.
Em termos de volume de negócios, os dados não estão ainda apurados, mas o setor deve estar em linha com os números alcançados em 2015, altura em que atingiu uma faturação que rondou os 28 mil milhões de euros, segundo dados da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal (AIMMAP) e do Banco de Portugal. A confirmar-se este “alinhamento” com os números do ano passado, o setor está a exportar 45% do que produz.
“Continuamos a sentir em 2016 o efeito de Angola, um mercado que tinha um peso importante no setor, assim como sentimos um decréscimo em alguns países do norte de África”, adianta o presidente da AIMMAP, Aníbal Campos, em declarações ao ECO. Em causa estão as variações do preço do petróleo e do gás.
Aníbal Campos refere que “curiosamente a Europa cresceu, mas a Alemanha, o segundo maior mercado, diminuiu cerca de 6,5%, ainda assim tem uma quota de 17,5%”. Sobre a descida do mercado alemão, refere que ainda não encontraram “nenhuma explicação”. Já o Reino Unido voltou a subir na tabela de clientes não se tendo ainda feito sentir o efeito do ‘Brexit’, e tendo mesmo crescido 17,7%, isto apesar de este mercado ter caído nos últimos dois meses do ano. Mas o presidente da AIMMAP acredita que vai acabar por se fazer sentir “sobretudo devido à desvalorização da libra”.
Números concretos o setor exportou 14,596 mil milhões de euros em 2016, um crescimento de 0,2% face a 2015. A AIMMAP adianta que a contribuir para este resultado esteve a performance registada nos últimos dois meses do ano, nomeadamente em dezembro, com 1,104 mil milhões de euros.
Para os países da União Europeia, as exportações aumentaram de 10,727 mil milhões para 11,471 mil milhões de euros, um crescimento de 6,9% e que fica a dever-se sobretudo ao comportamento de mercados como França, Espanha e Reino Unido. Fora da União Europeia, os dados de 2016 permitem constatar que existiu uma quebra de 18,6% para os 3,123 mil milhões de euros.
Principais mercados
No ano passado, os principais mercados são Espanha, com um peso de 23%; seguido pela Alemanha, com 17,4%; França, com 14,5%; Reino Unido com 9,5%; Estados Unidos com 2,7% e Angola com 2,6%, segundo dados disponibilizados pela AIMMAP.
Para Aníbal Campos o crescimento do setor passa “sempre por encontrar novos mercados. A Ásia em geral tem de ser um mercado. Estou a falar das Coreias, Taiwan, China. Aliás, quem conseguir entrar na China… Claro que não se pode ficar dependente de apenas um mercado”.
Numa análise temporal os números do setor continuam a impressionar. Entre 2010 e 2016, as exportações cresceram 41%, sendo que 66% deste valor foi para fora da União Europeia. Analisando país a país e tendo como referência o ano de 2014, os maiores crescimentos verificaram-se no Canadá com 81%, seguido pela Colômbia com 49%, México com 29% e o Reino Unido com 26%.
Efeito Trump
Aníbal Campos é categórico quando questionado sobre um eventual efeito da presidência de Trump nos Estados Unidos no setor da metalomecânica: “Esse é um efeito que se irá fazer sentir de outra maneira porque a estabilidade económica e social são vitais para o bom comportamento da atividade”.
“A estabilidade é um ponto fundamental porque as pessoas quando fazem os seus planos de investimento têm de saber com o que contam e isto é verdade para os Estados Unidos e para Portugal. Os diferentes governos costumam perguntar-nos como é que nos podem ajudar para progredirmos nas exportações. Respondo sempre da mesma forma: estabilidade política, fiscal e laboral”, refere.
"A estabilidade é um ponto fundamental porque as pessoas quando fazem os seus planos de investimento têm de saber com o que contam. Isto é verdade para os Estados Unidos e para Portugal. Os diferentes governos costumam perguntar-nos como é que nos podem ajudar para progredirmos nas exportações. Respondo sempre da mesma forma: estabilidade política, fiscal e laboral.”
Por falar em estabilidade, o que pensa o presidente dos metalúrgicos sobre a subida do salário mínimo? Terá reflexos na indústria? Aníbal Campos sublinha que “as pequenas e médias empresas são afetadas pela subida do salário mínimo, mas há também empresas estrangeiras que estão em Portugal e que vão ser afetadas”. Sobretudo se a comparação for feita “com o que se passa na antiga cortina de ferro que tem salários muito mais baixos”. Ainda assim o presidente da principal associação do setor refere que está “à vontade” porque para além da sua empresa Silampos “não praticar salários mínimos”, também na AIMMAP, desde que está à frente da associação, “o salário do setor sempre foi superior ao mínimo nacional”. Uma regalia que, adianta, é dada “em troca de outras condições, como são a flexibilidade e o banco de horas”.
“Andamos sempre à frente do salário mínimo, mas esta subida é considerável não podemos ir à frente”. E deixa o alerta: “Se não houver bom senso isto vai ter consequências para a economia”.
As pequenas e médias empresas são afetadas pela subida do salário mínimo, mas há também empresas estrangeiras que estão em Portugal e que vão ser afetadas.
Falta de mão de obra
Para o presidente da AIMMAP há vários problemas a atormentar o setor. “Aquilo que se passa na energia — pagamos os preços mais caros da Europa, o que tem um efeito brutal no nosso setor — associado ao que se passa nos resíduos é extremamente grave”, refere.
Mas há mais. A falta de mão-de-obra do setor, é um problema e está associado à formação da indústria.
Para o presidente da associação setorial, “os cursos ministrados nos centros tecnológicos como o Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (CENFIM) estão corretíssimos, mas o problema é que as verbas que deviam ser orientadas para a formação profissional estão a ser desviadas para o Ministério da Educação para cursos que não têm alunos. O grosso é canalizado para a formação de barmans”, acusa.
Aníbal Campos denuncia que “estão a diminuir as verbas para o centro de formação, o que impede que este ano sejam abertos novos cursos”. “Pergunto: como é que se pode falar na industria 4.0 quando continuamos a não ter técnicos básicos para a indústria”, questiona.
"O setor não tem número de formandos necessários e isto é uma tragédia. Com a taxa de desemprego a baixar, este é um problema que vai agudizar-se.”
“O setor não tem número de formando necessários e isto é uma tragédia e com a taxa de desemprego a baixar, este é um problema que se vai agudizar”, sublinha.
Muitas e pequenas empresas
O setor da metalurgia é representado por 15 mil empresas e cerca de 200 mil trabalhadores. Muitas destas empresas são de pequena e média dimensão.
“Somos um setor marcadamente com muitas e pequenas empresas e com grande diversidade. Desde a fundição, à cutelaria, subcontratação, estruturas metálicas, automóvel. Há quem diga que esta grande diversidade prejudica a imagem do setor. É verdade que é uma das nossas dificuldades. Por exemplo, não podemos ir a feiras com todas as empresas, por exemplo”.
Por isso mesmo, e para uniformizar a imagem do setor foi criada, em 2015, a marca “Metal Portugal”.
Ainda sobre a falta de notoriedade da indústria, o presidente da AIMMAP adianta que “este é um setor pouco sexy, é um setor de ferrugem, mas hoje o chão de fábrica é limpinho”.
Em termos de peso de cada sub-setor, a AIMMAP disponibiliza os dados mas não adianta quais as principais empresas do setor, em termos de volume de faturação. Assim, os produtos metálicos representam 37% do total do setor, seguidos pelas máquinas e equipamentos com 23%, a metalurgia de base com 20%, o equipamento elétrico com 11% e finalmente o material de transporte com 6,3%.
Haverá lugar à consolidação dentro do setor? Aníbal Campos garante que “sim”. “Essa consolidação tem vindo a ser feita, mas há margem para crescer porque é o setor mais importante do país, quer em termos de exportações, quer em termos de emprego”.
De resto, acrescenta, “o setor é hoje visto por outros olhos pelos governos que sentem necessidade de aumentar as exportações e, portanto, olham para nós com outros olhos”.
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