Founders Fund: quando os investidores são empreendedores

  • Miguel Santo Amaro
  • 27 Janeiro 2022

É essencial que os empreendedores possam, na primeira pessoa, otimizar tudo o que aprenderam no caminho e capitalizar esse conhecimento nas jornadas de outros empreendedores.

Os especialistas do ecossistema costumam chamar-lhe “give back”. O termo, aplicado ao empreendedorismo, designa a fase na qual os empreendedores, no seu percurso, começam a dar de volta à sociedade. A retribuir ao ecossistema, se considerarmos a tradução literal. Isso significa que, depois de criarem os seus próprios negócios, começam a ter vontade, a estar atentos e a ter a possibilidade – financeira e de conhecimento – para investirem noutros negócios, em fases mais embrionárias, de forma a capitalizarem investimento e tudo aquilo que aprenderam no seu próprio percurso.

Foi a pensar nesse processo de “devolver” ao ecossistema que, na Shilling, lançámos, em 2021, o Founders Fund.

Criado por fundadores, com fundadores, para fundadores, o Shilling Founders Fund faz de cada um dos empreendedores parte do fundo, e fornece a todos eles o apoio que desejariam ter quando estavam, eles mesmos, a começar. Por outro lado, permite aos empreendedores — agora também investidores — poderem apostar nos mesmos projetos que a Shilling apoia e, ao mesmo tempo, seguirem de perto startups e modelos de negócio para os quais podem contribuir, graças às suas experiências anteriores.

Além dos empreendedores, os membros da equipa da Shilling e os seus Founder LPs também fazem parte do processo. Todos, fundo e investidores, partilham o pódio e os lucros. E a promessa da Shilling é construir uma equipa desta comunidade, onde todos os fundadores se apoiam mutuamente, se ajudam e são o suporte uns dos outros, potenciando a sua experiência, as suas redes de contactos e o seu networking. Nesta dinâmica, os empreendedores tornados investidores, têm um papel crítico como parte da equipa do fundo: sem eles, o propósito do Founders Fund dilui-se e, sempre que algum investimento é bem sucedido, só faz sentido partilhar os prémios com todos os que nele participaram. Este modelo de entreajuda em comunidade não se esgota, no entanto, no apoio de fundadores e investidores ao portefólio da Shilling: para reforçar o espírito de comunidade de portefólio, e alinhar interesses, o modelo de partilha estende-se ainda aos fundadores em que a Shilling investe. Assim, todos os fundadores em que investimos têm uma parte dos lucros.

Qual é a importância deste tipo de iniciativas? Primeiro, dar a oportunidade aos empreendedores de poderem devolver ao ecossistema aquilo que aprenderam no processo. Criar negócios e escalá-los — em equipa e em mercados distintos — é uma jornada para a qual ninguém está preparado até experimentá-la. Por isso, é essencial que os empreendedores possam, na primeira pessoa, otimizar tudo o que aprenderam no caminho e capitalizar esse conhecimento nas jornadas de outros empreendedores. Depois, permitir aos novos empreendedores corrigirem e não cometerem os mesmos erros dos anteriores, escalando os seus negócios de forma ágil e rápida, através do chamado “smart money”, muito mais do que um simples investimento financeiro. E, finalmente, construir um ecossistema empreendedor que se nutre e alimenta através dos seus intervenientes, sejam empreendedores, investidores ou meros entusiastas.

Já vimos outros fundos a anunciarem medidas semelhantes mas nunca vimos o suficiente e, sobretudo, sabemos que o desafio é pessoal, de cada investidor que se autointitula “baseado na comunidade” porque nem sempre é “fácil” e “simples” pôr o dinheiro onde temos a boca (do inglês “put the money where the mouth is”). Este fundo facilita esse processo e coloca Portugal e o investimento com capital de risco em Portugal e na Europa num outro nível: aquele em que os empreendedores passam a fazer parte do ecossistema de outra forma, e a olhar os negócios de um ponto de vista mais estratégico.

Respeitando a lógica de que, por um ganham todos, o modelo de partilha de lucro significa que todos – os fundadores em que investimos, os fundadores que investem no nosso fundo e outros especialistas que acrescentem valor ao portfólio – têm uma parte dos lucros que fazemos. É assim mesmo, simples. E é isso também que muda as regras do jogo.

  • Miguel Santo Amaro
  • Co-founder & CEO da Coverflex e partner da Shilling

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