Segurança duradoura na Europa só é possível com a Rússia, diz chanceler alemão
“É evidente para todos os europeus que não é possível alcançar uma segurança duradoura contra a Rússia, mas [é] apenas possível com a Rússia”, disse o chanceler alemão.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, defendeu esta terça-feira que a segurança duradoura na Europa “só é possível com a Rússia” e não pode ser alcançada contra Moscovo, após conversações com o Presidente russo, Vladimir Putin. “É evidente para todos os europeus que não é possível alcançar uma segurança duradoura contra a Rússia, mas [é] apenas possível com a Rússia”, disse Scholz numa conferência de imprensa conjunta com Vladimir Putin em Moscovo.
O objetivo dos esforços diplomáticos em curso para tentar resolver a crise sobre a Ucrânia é “alcançar um acordo político sem que ninguém tenha de abandonar os seus princípios no processo”, disse o chefe do Governo alemão no final do encontro de cerca de três horas. Scholz considerou que a situação atual “não é desesperada”, por “muito difícil e grave (…) que possa parecer”, e disse que os esforços diplomáticos para evitar uma guerra estão “longe do fim”.
“Concordo que a diplomacia está longe de estar esgotada. Devemos agora trabalhar resoluta e corajosamente numa solução pacífica para esta crise”, afirmou, citado pelas agências noticiosas internacionais. Scholz admitiu que o anúncio da retirada de algumas das tropas russas da fronteira ucraniana é um “bom sinal”, que deve ter seguimento. “Estamos talvez a enfrentar a crise mais difícil e ameaçadora da Europa desde há muito tempo”, disse.
Horas antes da reunião entre Putin e Scholz, a Rússia anunciou que algumas das tropas que tinha perto da fronteira com a Ucrânia vão iniciar hoje a operação de regresso aos seus quartéis habituais por terem terminado os exercícios em que participaram. As autoridades russas não disseram quantos efetivos abrange a medida.
O chanceler alemão reafirmou a preocupação ocidental com o que “irá acontecer a seguir com as 100.000 tropas e atividades” militares russas próximas da Ucrânia. “Não conseguimos encontrar uma justificação razoável para tal”, disse, reiterando ser “muito importante que haja uma desescalada”.
“Numa situação tão tensa e complicada, isto é muito importante para que não haja guerra”, insistiu. Scholz explicou que Putin o informou sobre a sua reunião de segunda-feira com os seus ministros dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e da Defesa, Sergei Shoigu.
No encontro, Lavrov disse que havia a possibilidade de um acordo com os Estados Unidos da América (EUA) e a NATO sobre as garantias de segurança que a Rússia exige ao Ocidente para reformular o sistema de segurança da Europa. “Estamos prontos, juntamente com todos os parceiros da NATO e a União Europeia (UE), a tomar medidas concretas para melhorar a segurança comum”, disse Scholz.
A Rússia já iniciou um diálogo sobre a questão com os EUA, com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e no seio da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
O chanceler alemão reiterou que uma nova agressão militar russa contra a Ucrânia terá “consequências políticas, económicas e estratégicas”, algo que “toda a gente sabe muito bem”, numa alusão à Rússia. “Queremos lutar por um desenvolvimento pacífico na Europa, para que não haja um confronto militar na Ucrânia”, insistiu.
Scholz disse que ele e Putin concordam que o Formato Normandia, que reúne Rússia, Ucrânia, França e Alemanha, constitui uma plataforma importante de diálogo para resolver o conflito no Donbass (leste da Ucrânia), onde separatistas pró-russos e o exército ucraniano têm estado em conflito desde 2014. “Aí, precisamos de movimento e progresso”, disse, numa referência aos poucos encontros ocorridos no Formato Normandia desde a cimeira de 2019.
Recordou que o Presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, se comprometeu a submeter ao Grupo de Trabalho Trilateral (Rússia, Ucrânia e OSCE) os projetos de lei sobre o estatuto especial do Donbass, a lei sobre eleições em áreas não controladas pelo Governo ucraniano e a reforma constitucional. “Este é um bom passo em frente e agora é altura de o construir”, disse Scholz.
Neste sentido, considerou que se Putin reconhecer as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, como lhe foi pedido esta terla pelo parlamento russo, estaria a desprezar os Acordos de Minsk para a paz no Donbass. “Então, o processo estaria terminado e isso seria uma catástrofe política”, disse o chanceler alemão.
Scholz também foi questionado sobre a prisão e condenação do líder da oposição russa, Alexei Navalny, que considerou ser “incompatível com os princípios de um Estado de direito”. O Ocidente acusa a Rússia de querer invadir novamente a Ucrânia, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.
A Rússia nega qualquer intenção bélica, mas exigiu garantias para a sua segurança, incluindo uma promessa de que a Ucrânia nunca será membro da NATO. Os EUA alertaram, na sexta-feira, que a Rússia podia atacar “a qualquer momento” e aconselharam os seus cidadãos a sair da Ucrânia, no que foram seguidos por vários países, incluindo Portugal.
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